São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2008

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Butantan inicia teste de vacina contra leishmaniose

Imunização foi desenvolvida nos EUA e mostrou eficácia de 70%; Brasil pretende vacinar cachorros, que são reservatórios da doença

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Instituto Butantan anunciou ontem que vai dar início aos ensaios clínicos para produzir uma vacina contra a leishmaniose. A doença atinge tanto os homens quanto os animais, especialmente os cachorros, e ataca o fígado e o baço. Se não tratada adequadamente, pode levar à morte.
De acordo com o pesquisador Antônio Campos-Neto, do Forsyth Institute, de Boston, nos EUA, a fase 1 do estudo da vacina já foi realizada naquele país com camundongos e humanos e mostrou uma eficácia superior a 70% - o que justificaria investir na fabricação do produto no Brasil.
Num primeiro momento, o Butantan vai fazer os ensaios clínicos da vacina para ser aplicada nos cães, durante a campanha de vacinação contra raiva. Os cachorros são considerados o principal reservatório da doença no Brasil, pois vivem em ambientes domésticos. A raposa e o gambá também são reservatórios, mas de áreas florestais. "É mais fácil você vacinar o cão, pois, além de evitar o saturamento imunológico da criança [que já toma muitas vacinas], você impede a transmissão da doença", avalia o presidente do Butantan, Isaias Raw.
Apesar de não haver um consenso entre os especialistas de que o cachorro seja o principal transmissor da doença em humanos, Raw disse que, do ponto de vista epidemiológico, outros animais não trazem riscos. "Qual a chance de encontrar uma raposa na rua? O cachorro está no ambiente do homem."
Ainda segundo Raw, a idéia é utilizar a vacina desenvolvida nos EUA em cachorros e depois, se necessário, fazer pequenas alterações na vacina para aplicá-la em humanos que estejam contaminados.
"Aplicar a vacina nos cães tem duplo motivo: você protege o cachorro e também os seres humanos. Mas, se houver uma pessoa contaminada, aplicaríamos a vacina terapêutica, levemente modificada para conseguirmos o tratamento rápido. Ao tratar um paciente você reduz a transmissão da doença. Não vamos sair vacinando todo mundo porque não tem necessidade", explicou Raw.

Norte e Nordeste
De acordo com Campos-Neto, as regiões brasileiras mais endêmicas (como as regiões Norte e Nordeste) serão priorizadas nessa fase do ensaio clínico. Serão selecionados dois grupos de cachorros, todos saudáveis: um vai receber a vacina e outro, placebo. Os animais serão acompanhados por um ano.
"Vamos nos preparar para iniciar a produção da vacina. Os indicativos são de que ela vai funcionar. Para valer a pena, ela não precisa ser 100% eficaz. No ensaio feito nos EUA ela não produziu nenhum efeito adverso", disse Raw.
Ao todo, serão investidos R$ 7 milhões no ensaio clínico, sendo R$ 2 milhões vindos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do programa Fapesp e R$ 5 milhões do próprio Instituto Butantan.


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