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Butantan inicia teste de vacina contra leishmaniose
Imunização foi desenvolvida nos EUA e mostrou eficácia de 70%; Brasil pretende vacinar cachorros, que são reservatórios da doença
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Instituto Butantan anunciou ontem que vai dar início
aos ensaios clínicos para produzir uma vacina contra a
leishmaniose. A doença atinge
tanto os homens quanto os animais, especialmente os cachorros, e ataca o fígado e o baço. Se
não tratada adequadamente,
pode levar à morte.
De acordo com o pesquisador
Antônio Campos-Neto, do
Forsyth Institute, de Boston,
nos EUA, a fase 1 do estudo da
vacina já foi realizada naquele
país com camundongos e humanos e mostrou uma eficácia
superior a 70% - o que justificaria investir na fabricação do
produto no Brasil.
Num primeiro momento, o
Butantan vai fazer os ensaios
clínicos da vacina para ser aplicada nos cães, durante a campanha de vacinação contra raiva. Os cachorros são considerados o principal reservatório da
doença no Brasil, pois vivem
em ambientes domésticos. A
raposa e o gambá também são
reservatórios, mas de áreas florestais. "É mais fácil você vacinar o cão, pois, além de evitar o
saturamento imunológico da
criança [que já toma muitas vacinas], você impede a transmissão da doença", avalia o presidente do Butantan, Isaias Raw.
Apesar de não haver um consenso entre os especialistas de
que o cachorro seja o principal
transmissor da doença em humanos, Raw disse que, do ponto de vista epidemiológico, outros animais não trazem riscos.
"Qual a chance de encontrar
uma raposa na rua? O cachorro
está no ambiente do homem."
Ainda segundo Raw, a idéia é
utilizar a vacina desenvolvida
nos EUA em cachorros e depois, se necessário, fazer pequenas alterações na vacina para aplicá-la em humanos que
estejam contaminados.
"Aplicar a vacina nos cães
tem duplo motivo: você protege
o cachorro e também os seres
humanos. Mas, se houver uma
pessoa contaminada, aplicaríamos a vacina terapêutica, levemente modificada para conseguirmos o tratamento rápido.
Ao tratar um paciente você reduz a transmissão da doença.
Não vamos sair vacinando todo
mundo porque não tem necessidade", explicou Raw.
Norte e Nordeste
De acordo com Campos-Neto, as regiões brasileiras mais
endêmicas (como as regiões
Norte e Nordeste) serão priorizadas nessa fase do ensaio clínico. Serão selecionados dois grupos de cachorros, todos saudáveis: um vai receber a vacina e
outro, placebo. Os animais serão acompanhados por um ano.
"Vamos nos preparar para
iniciar a produção da vacina. Os
indicativos são de que ela vai
funcionar. Para valer a pena,
ela não precisa ser 100% eficaz.
No ensaio feito nos EUA ela
não produziu nenhum efeito
adverso", disse Raw.
Ao todo, serão investidos R$
7 milhões no ensaio clínico,
sendo R$ 2 milhões vindos do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) e do programa Fapesp e
R$ 5 milhões do próprio Instituto Butantan.
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