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Triturar ou partir remédio altera efeito
Alerta é do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo; drogas podem ter ação reduzida ou potencializada
Ingerir o medicamento com bebidas como refrigerante, leite e suco também pode interferir na absorção da droga pelo organismo
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Farmacêuticos alertam para
os maus hábitos relacionados à
forma como os medicamentos
são ingeridos. Partir, triturar
ou ingerir os remédios com alguns alimentos pode potencializar ou reduzir seus efeitos.
"90% das pessoas que consultam o médico saem com receita médica. Mas a farmácia
precisa estar vinculada aos serviços de saúde; do contrário, o
paciente pega o remédio na
gôndola e toma como quiser.
Por isso existe um grande número de intoxicação e de inatividade do medicamento: é falta
de orientação", diz Raquel Rizzi, presidente do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do
Estado de São Paulo).
Um dos principais erros é triturar comprimidos ou abrir o
conteúdo de cápsulas para facilitar a deglutição. "É um problema e é sério. Uma cápsula
pode ser desenvolvida para não
se degradar no estômago. Se
você retira o conteúdo da membrana, ele pode perder o efeito", afirma Chung Man Chin,
do Departamento de Fármacos
e Medicamentos da Faculdade
de Ciências Farmacêuticas da
Unesp (Universidade Estadual
Paulista) de Araraquara.
O omeprazol, diz Chin, é um
dos remédios que têm o efeito
reduzido com o esmagamento.
Absorção acelerada
Outro problema desse procedimento é acelerar a absorção
dos princípios ativos pelo organismo. Como cada comprimido
é planejado para ter um tempo
de atividade e assimilação no
corpo, a quebra de um revestimento, por exemplo, pode desregular esses mecanismos.
"Se for um remédio com revestimento ou estrutura que
permitem uma liberação prolongada, acaba-se com a função
do medicamento, correndo o
risco de ocorrer uma absorção
intensa e sofrer intoxicação",
alerta Maria Aparecida Nicoletti, farmacêutica responsável
pela Farmácia Universitária da
Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (Universidade
de São Paulo).
O mais indicado, caso seja difícil ingerir o remédio inteiro, é
procurar outras formas de
apresentação, como gotas ou
xaropes. "Existem fórmulas para crianças, em tamanhos ou
formas mais adequadas, por
exemplo. Não é preciso improvisar", afirma Rizzi.
Quebrar o comprimido ao
meio também não é indicado.
Alguns especialistas acreditam
que os princípios ativos da droga não estejam distribuídos
igualmente por todo o produto,
ainda que sejam feitos testes de
uniformidade durante a produção. O principal problema nesse caso é, novamente, a absorção incorreta do medicamento
pelo organismo. Alguns analgésicos e antialérgicos, por exemplo, têm um sistema de liberação modificada -se cortados,
podem perder o efeito.
Antibióticos são normalmente revestidos por serem
sensíveis ao pH ácido do estômago e deverem passar íntegros pelo órgão. Uma vez quebrados, podem perder parte
das propriedades. "No entanto,
quando o médico sugere que se
parta o medicamento, entende-se que ele conhece a proposta
do remédio e sabe se é possível
ou não usar somente uma parte", pondera Nicoletti, da USP.
Bebidas
Alguns remédios interagem
com bebidas, caso dos antibióticos, que não devem ser ingeridos com leite -o alimento reduz o efeito da droga. "Alguns
antipsicóticos podem interagir
com algumas bebidas e perder
as propriedades desejadas",
acrescenta Chin.
Ingerir remédios em gotas
misturados a bebidas com sabor -como sucos e refrigerantes- para mascarar o gosto
ruim também pode levar à redução do potencial terapêutico
do remédio. O recomendado é
diluí-los em água.
Segundo o CRF-SP, os remédios são a principal causa de intoxicação nos centros de farmacovigilância em todo o país
-um dos motivos são interações medicamentosas, que podem ocorrer com falta de orientação sobre o uso das drogas.
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