|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Recém-nascidos passam por procedimentos desnecessários
Estudo mostra que aspiração gástrica e de vias aéreas é rotina em hospitais
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Recém-nascidos saudáveis
são submetidos a aspiração
gástrica e de vias aéreas superiores -procedimentos considerados desnecessários e que
envolvem riscos quando mal
realizados- em hospitais públicos de São Paulo. A conclusão é de um estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo feito em
três unidades de saúde.
A pesquisa baseou-se em
prontuários de 277 recém-nascidos no ano de 2006 de cada
uma dessas instituições: um
hospital típico do SUS, um hospital que recebeu o prêmio Galba de Araújo por sua proposta
de parto humanizado e uma casa de parto. Os nomes das instituições não foram revelados.
Os bebês nasceram de gestações de baixo risco e foram considerados vigorosos.
No hospital típico e no premiado, a aspiração gástrica foi
feita em 94% e 86% dos bebês,
respectivamente, enquanto a
aspiração de vias aéreas ocorreu em 96% e 91% dos recém-nascidos. Em contraste, na casa
de parto, a taxa de aspiração
gástrica foi de apenas 0,73%, e a
de vias aéreas, de 8,4%.
De acordo com a pediatra
Sandra Regina de Souza, coordenadora da área de Saúde da
Criança da Secretaria de Estado da Saúde e uma das autoras
do trabalho, as evidências científicas mostram que a recepção
de recém-nascidos saudáveis
deve se restringir a secar o bebê, observar sua respiração e
promover o contato com a mãe.
"Quanto menos colocar a
mão no bebê, melhor. As evidências são antigas, mas as pessoas continuam fazendo o desnecessário", afirma.
Na opinião do pediatra Carlos José Silvestre Rodrigues,
que é instrutor de reanimação
neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria, os resultados
mostram que essa é uma prática cultural -e que deve ser extinta. "Aspirar os bebês é uma
prática que vem de muito tempo. Hoje, depende da rotina do
serviço médico", diz.
Segundo ele, o fato de os nascimentos ocorrerem por via natural nas casas de parto facilita
a compressão do tórax do bebê
e, consequentemente, a expulsão de líquido -o que pode explicar as baixas taxas de intervenção nessa instituição. "Na
cesárea, elimina-se menos líquido, mas também é possível
não aspirar esses bebês."
Sandra classifica como "surpresa árida" a pequena diferença na taxa de procedimentos do
hospital premiado e do típico.
"Talvez falte investimento para
manter as rotinas esperadas de
um hospital premiado", diz.
Para o pediatra Carlos
Eduardo Corrêa, consultor internacional em aleitamento,
esses procedimentos representam um excesso de intervenção
-o que não é necessário nem
indicado e pode levar a diminuição de frequência cardíaca,
espasmos de laringe, queda da
pressão arterial e dificuldade
de mamar nos bebês quando
são mal realizados.
Texto Anterior: Triturar ou partir remédio altera efeito Próximo Texto: Frase Índice
|