São Paulo, sexta-feira, 08 de maio de 2009

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Contraceptivo masculino mostra eficácia de 98,8%

Estudo feito na China com 1.045 homens férteis usou injeção de testosterona

Outras pesquisas realizadas com o hormônio indicaram riscos como potencialização de câncer e infertilidade, de acordo com especialistas

GABRIELA CUPANI
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo chinês traz resultados promissores para o desenvolvimento de um anticoncepcional hormonal para homens. O ensaio clínico de fase três (última etapa antes de o fármaco ser aprovado para comercialização) foi feito com 1.045 homens chineses de 20 a 45 anos e mostrou que uma injeção mensal de 500 mg de testosterona misturados com óleo de semente de chá tem eficácia de 98,8%. A pílula anticoncepcional feminina, por exemplo, tem eficácia de 97% a 99%.
Todos os voluntários possuíam parceiras férteis de 18 a 38 anos, tinham filhos e histórico médico normal. Após dois anos de acompanhamento, ocorreram nove gravidezes entre as parceiras dos 733 homens que completaram o estudo -o que sugere um índice de falha do método de 1,2%.
Os pesquisadores afirmam no trabalho que o uso mensal do fármaco oferece "contracepção efetiva, reversível e confiável". Segundo eles, o óleo de semente de chá propicia uma melhor dispersão do hormônio pelo organismo. A pesquisa foi publicada em março no "Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism".
"A novidade do estudo é a forma de administração em intervalos de um mês -em outros estudos, a administração era semanal. Na pesquisa, o veículo usado [o óleo] garante uma absorção mais lenta", diz o endocrinologista Ricardo Meirelles, presidente da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
O hormônio é injetado por via intramuscular, fica no músculo e passa para a circulação sanguínea aos poucos, sendo absorvido gradativamente. Isso garante níveis mais estáveis de testosterona, afirma Meirelles.

Contras
O uso desse método anticoncepcional ainda causa preocupação na comunidade médica.
Vários estudos com a testosterona vêm sendo realizados nos últimos anos, baseados no fato de que a aplicação dessa substância no organismo impediria a ação dos hormônios FSH e LH, que são responsáveis por estimular a produção de espermatozoides. No entanto, apresentaram fatores de risco como potencialização de câncer, infertilidade e baixa ação contraceptiva.
Alguns trabalhos anteriores apontaram que o método pode ser irreversível -o excesso de hormônio, a longo prazo, pode atrofiar os testículos e levar à infertilidade. "Muitos estudos não tiveram sucesso pois esbarraram na questão da fertilidade masculina", afirma o urologista Celso Marzano.
Apesar de os pesquisadores chineses afirmarem que os níveis de espermatozoides voltaram ao normal seis meses após a interrupção da aplicação de testosterona, especialistas acreditam que estudos de prazo mais longo sejam necessários para confirmar a reversibilidade do método.
Outro problema apontado pelos médicos ouvidos pela Folha é a contraindicação no caso de câncer de próstata. O uso em excesso de testosterona poderia favorecer o desenvolvimento de um tumor já existente.
"Não é possível afirmar, do ponto de vista oncológico, que o seguimento de dois anos é o tempo adequado", diz Nilson Roberto de Melo, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
Os voluntários da pesquisa chinesa ainda relataram, como efeitos colaterais, dor no local da injeção, maior incidência de acne e oscilações de humor.


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