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Contraceptivo masculino mostra eficácia de 98,8%
Estudo feito na China com 1.045 homens férteis usou injeção de testosterona
Outras pesquisas realizadas com o hormônio indicaram riscos como potencialização de câncer e infertilidade, de acordo com especialistas
GABRIELA CUPANI
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo chinês traz resultados promissores para o desenvolvimento de um anticoncepcional hormonal para homens. O ensaio clínico de fase
três (última etapa antes de o
fármaco ser aprovado para comercialização) foi feito com
1.045 homens chineses de 20 a
45 anos e mostrou que uma injeção mensal de 500 mg de testosterona misturados com óleo
de semente de chá tem eficácia
de 98,8%. A pílula anticoncepcional feminina, por exemplo,
tem eficácia de 97% a 99%.
Todos os voluntários possuíam parceiras férteis de 18 a
38 anos, tinham filhos e histórico médico normal. Após dois
anos de acompanhamento,
ocorreram nove gravidezes entre as parceiras dos 733 homens que completaram o estudo -o que sugere um índice de
falha do método de 1,2%.
Os pesquisadores afirmam
no trabalho que o uso mensal
do fármaco oferece "contracepção efetiva, reversível e confiável". Segundo eles, o óleo de semente de chá propicia uma melhor dispersão do hormônio pelo organismo. A pesquisa foi
publicada em março no "Journal of Clinical Endocrinology &
Metabolism".
"A novidade do estudo é a
forma de administração em intervalos de um mês -em outros estudos, a administração
era semanal. Na pesquisa, o veículo usado [o óleo] garante uma
absorção mais lenta", diz o endocrinologista Ricardo Meirelles, presidente da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
O hormônio é injetado por
via intramuscular, fica no músculo e passa para a circulação
sanguínea aos poucos, sendo
absorvido gradativamente. Isso
garante níveis mais estáveis de
testosterona, afirma Meirelles.
Contras
O uso desse método anticoncepcional ainda causa preocupação na comunidade médica.
Vários estudos com a testosterona vêm sendo realizados
nos últimos anos, baseados no
fato de que a aplicação dessa
substância no organismo impediria a ação dos hormônios
FSH e LH, que são responsáveis por estimular a produção
de espermatozoides. No entanto, apresentaram fatores de risco como potencialização de
câncer, infertilidade e baixa
ação contraceptiva.
Alguns trabalhos anteriores
apontaram que o método pode
ser irreversível -o excesso de
hormônio, a longo prazo, pode
atrofiar os testículos e levar à
infertilidade. "Muitos estudos
não tiveram sucesso pois esbarraram na questão da fertilidade
masculina", afirma o urologista
Celso Marzano.
Apesar de os pesquisadores
chineses afirmarem que os níveis de espermatozoides voltaram ao normal seis meses após
a interrupção da aplicação de
testosterona, especialistas
acreditam que estudos de prazo
mais longo sejam necessários
para confirmar a reversibilidade do método.
Outro problema apontado
pelos médicos ouvidos pela Folha é a contraindicação no caso
de câncer de próstata. O uso em
excesso de testosterona poderia favorecer o desenvolvimento de um tumor já existente.
"Não é possível afirmar, do
ponto de vista oncológico, que
o seguimento de dois anos é o
tempo adequado", diz Nilson
Roberto de Melo, presidente da
Febrasgo (Federação Brasileira
das Associações de Ginecologia
e Obstetrícia).
Os voluntários da pesquisa
chinesa ainda relataram, como
efeitos colaterais, dor no local
da injeção, maior incidência de
acne e oscilações de humor.
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