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CFM proíbe médicos de dar cupons e vales-desconto
Prática é comum principalmente para medicamentos de médio e alto custo
Para o Conselho Federal de Medicina, método que serve para fidelizar pacientes e médicos a certas marcas esbarra no Código de Ética
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O CFM (Conselho Federal de
Medicina) proibiu médicos de
distribuir cupons e vales-desconto aos pacientes para a
compra de medicamentos. A
decisão será publicada hoje no
"Diário Oficial da União".
O preço "camarada" é oferecido hoje principalmente para
aquisição de remédios de médio e alto custo. Para o conselho, porém, esse método de fidelização de pacientes e dos
médicos a determinadas marcas esbarra no Código de Ética.
De acordo com o texto, obtido pela Folha, "o médico, ao se
inserir como peça indispensável para esse tipo de promoção
de vendas da indústria farmacêutica, exerce a medicina como comércio, atuando em interação com o laboratório".
As relações duvidosas entre
médicos e a indústria farmacêutica vêm sendo combatidas
pelo CFM e até pela Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que recentemente proibiu laboratórios de
dar brindes aos médicos.
O objetivo é evitar que "mimos" como reformas de consultórios e patrocínio de viagens turísticas, por exemplo,
sejam recompensados pelo
médico com a prescrição costumeira de determinada marca
de medicamento -às vezes
desnecessária.
Essas práticas já são condenadas pelo Código de Ética Médica, que é bastante genérico.
Segundo Carlos Vital, vice-presidente do CFM, contudo, às
vezes é preciso criar novas normas para não deixar dúvidas.
"Observa-se um aumento
desse tipo de procedimento
[fornecimento de vale-desconto]. A fidelização de marcas é
uma prática de interesse mercadológico", afirma, explicando
o motivo da nova resolução.
Pelo texto, o médico fica
proibido também de participar
desse tipo de promoção de forma indireta, por exemplo, divulgando a existência de determinado programa de bônus.
Preço
A nova regra causa temor em
pacientes que hoje utilizam os
descontos oferecidos. A jornalista Fabiana Barros conta que
sua mãe, Maria Emília de Barros, 64, compra um medicamento para tratamento de Alzheimer por R$ 270 com um
vale-desconto dado por seu
médico. O produto, cujo princípio ativo é o cloridrato de donepezila, custa R$ 438.
"Espero que o produto fique
com um preço médio, pois minha mãe não pode parar de tomar esse remédio. E pagar o
preço dele sem desconto vai ser
muito difícil", afirma.
Esse desconto de forma exclusiva aos pacientes que recebem o bônus é criticado por Vital. Ele opina que, se é possível
oferecer um valor mais baixo a
alguns pacientes, ele deveria
ser adotado para todos.
Outra crítica feita pelo médico às promoções é o fato de os
bônus serem preenchidos pelos pacientes com seus dados.
De posse deles, o laboratório
sabe os dados do paciente, sua
doença, a prescrição que lhe foi
dada e qual o médico. É uma
forma de conhecer o mercado e
até montar estratégias com base nesse tipo de informação.
Ainda de acordo com Vital, o
novo Código de Ética Médica, a
ser publicado nesse ano (em
substituição ao atual, de 1988),
também trata de forma genérica a questão da interação entre
médicos e laboratórios. Ele não
trará proibição específica sobre
recebimento de brindes, mas
vetará a obtenção de vantagens
financeiras pela comercialização de medicamentos.
Laboratórios
A Folha procurou ontem o
Sindusfarma, entidade que representa os laboratórios no Estado de São Paulo, que preferiu
não comentar o tema. A Febrafarma, que até o ano passado
representava a indústria farmacêutica, já não existe.
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