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Antipsicótico novo e antigo trazem mesmo risco cardíaco
Segundo pesquisa, chance de morte súbita dobra com uso dos dois tipos de droga
Outros estudos questionam
superioridade das versões
atuais em relação a eficácia
e efeitos adversos; médicos
divergem sobre o tema
FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Geralmente consideradas
melhor opção de tratamento do
que suas semelhantes mais antigas, as drogas antipsicóticas
modernas não são mais seguras
no que toca aos efeitos na saúde
cardiovascular.
É o que mostra um estudo
com mais de 250 mil pessoas
feito pela Escola de Medicina
da Universidade Vanderbilt
(EUA) e publicado no "New
England Journal of Medicine".
Esses remédios são usados
para tratar quadros de psicose,
especialmente em pacientes
que sofrem de esquizofrenia e
transtorno bipolar.
Segundo os autores, já se sabia que os antipsicóticos mais
antigos (ou típicos) aumentam
o risco de morte súbita cardíaca, mas acreditava-se que esse
efeito fosse mais baixo nos
mais novos (atípicos ou de segunda geração).
O risco de morte súbita dobrou entre usuários das duas
classes de remédios em relação
ao grupo controle. Isso ocorre
porque a droga retarda a condução do estímulo elétrico do
coração, o que pode levar a arritmias. Apesar de o risco ser de
2,9 eventos por cada mil pacientes, não é considerado raro.
Usuários do remédio, especialmente os mais velhos, devem ser acompanhados de perto e, em alguns casos, fazer eletrocardiogramas anuais.
Segundo o "New England",
três antipsicóticos atípicos estão entre os dez remédios mais
vendidos no mundo. No Brasil,
dos dez antipsicóticos mais
vendidos, sete são desse tipo.
Esse estudo se soma a uma
polêmica recente, lançada por
outras pesquisas que questionaram a superioridade dos antipsicóticos mais novos.
"Até pouco tempo atrás, todos pensavam que os remédios
de segunda geração eram mais
eficazes e tinham menos efeitos colaterais. Mas isso tem sido muito questionado por alguns grupos", afirma o psiquiatra Acioly de Lacerda, professor da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo).
Primeiro, um estudo americano com cerca de 1.500 pacientes surpreendeu ao concluir que as drogas antigas são
tão eficazes quanto as novas.
Mais tarde, uma pesquisa europeia, que teve parte dos resultados publicados no último
mês, também mostrou pouca
diferença entre as duas classes.
Segundo Lacerda, a taxa de
abandono do tratamento foi semelhante entre as duas classes.
Um grande problema dos antipsicóticos clássicos são seus
efeitos adversos parecidos com
os da doença de Parkinson: tremores e rigidez, entre outros.
Segundo Hélio Elkis, coordenador do Programa de Esquizofrenia do IPq (Instituto de
Psiquiatria) do HC da USP, esse
é um dos motivos pelos quais a
segunda geração de drogas
"mudou o panorama" do tratamento da esquizofrenia. "Os
atípicos são muito mais tolerados. Esses novos estudos têm
dado pano para manga, mas há
trabalhos que mostram que os
novos remédios evitam mais
internações, por exemplo."
Mas Wagner Gattaz, presidente do IPq, diz que os efeitos
adversos parkinsonianos podem ser uma questão de dose.
"Usavam-se doses muito altas
das drogas antigas. Com doses
mais baixas, a tolerância pode
ser excelente."
Ele afirma que, "definitivamente", não dá para dizer que
uma classe seja superior à outra
e que a resposta a cada remédio
é individual. "Tenho pacientes
que insistem em trocar um remédio de primeira geração por
um mais novo e este acaba se
mostrando inferior."
O psiquiatra Táki Cordas,
também do IPq, afirma, porém,
que boa parte dos pacientes
precisa de doses altas. "É compreensível que haja esses questionamentos do ponto de vista
do planejamento de políticas
de saúde. Mas, se eu estiver
diante do meu paciente, prefiro
prescrever os mais novos."
Preço
A maioria dos antipsicóticos
novos chegou ao Brasil na década de 1990. Um mês de tratamento com alguns deles pode
custar mais de R$ 1.000. Já o
mais usado dos clássicos, haloperidol, pode ser encontrado
por R$ 7 (20 comprimidos). O
SUS oferece as drogas mais antigas e algumas das novas mediante autorização especial.
Luiz Alberto Heten, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, afirma que,
apesar de os antigos serem
mais baratos, o fato de muita
gente não tomá-los adequadamente devido aos efeitos colaterais acaba saindo caro.
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