São Paulo, sábado, 09 de maio de 2009

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Antipsicótico novo e antigo trazem mesmo risco cardíaco

Segundo pesquisa, chance de morte súbita dobra com uso dos dois tipos de droga

Outros estudos questionam superioridade das versões atuais em relação a eficácia e efeitos adversos; médicos divergem sobre o tema

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Geralmente consideradas melhor opção de tratamento do que suas semelhantes mais antigas, as drogas antipsicóticas modernas não são mais seguras no que toca aos efeitos na saúde cardiovascular.
É o que mostra um estudo com mais de 250 mil pessoas feito pela Escola de Medicina da Universidade Vanderbilt (EUA) e publicado no "New England Journal of Medicine".
Esses remédios são usados para tratar quadros de psicose, especialmente em pacientes que sofrem de esquizofrenia e transtorno bipolar.
Segundo os autores, já se sabia que os antipsicóticos mais antigos (ou típicos) aumentam o risco de morte súbita cardíaca, mas acreditava-se que esse efeito fosse mais baixo nos mais novos (atípicos ou de segunda geração).
O risco de morte súbita dobrou entre usuários das duas classes de remédios em relação ao grupo controle. Isso ocorre porque a droga retarda a condução do estímulo elétrico do coração, o que pode levar a arritmias. Apesar de o risco ser de 2,9 eventos por cada mil pacientes, não é considerado raro.
Usuários do remédio, especialmente os mais velhos, devem ser acompanhados de perto e, em alguns casos, fazer eletrocardiogramas anuais.
Segundo o "New England", três antipsicóticos atípicos estão entre os dez remédios mais vendidos no mundo. No Brasil, dos dez antipsicóticos mais vendidos, sete são desse tipo.
Esse estudo se soma a uma polêmica recente, lançada por outras pesquisas que questionaram a superioridade dos antipsicóticos mais novos.
"Até pouco tempo atrás, todos pensavam que os remédios de segunda geração eram mais eficazes e tinham menos efeitos colaterais. Mas isso tem sido muito questionado por alguns grupos", afirma o psiquiatra Acioly de Lacerda, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Primeiro, um estudo americano com cerca de 1.500 pacientes surpreendeu ao concluir que as drogas antigas são tão eficazes quanto as novas.
Mais tarde, uma pesquisa europeia, que teve parte dos resultados publicados no último mês, também mostrou pouca diferença entre as duas classes.
Segundo Lacerda, a taxa de abandono do tratamento foi semelhante entre as duas classes.
Um grande problema dos antipsicóticos clássicos são seus efeitos adversos parecidos com os da doença de Parkinson: tremores e rigidez, entre outros.
Segundo Hélio Elkis, coordenador do Programa de Esquizofrenia do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HC da USP, esse é um dos motivos pelos quais a segunda geração de drogas "mudou o panorama" do tratamento da esquizofrenia. "Os atípicos são muito mais tolerados. Esses novos estudos têm dado pano para manga, mas há trabalhos que mostram que os novos remédios evitam mais internações, por exemplo."
Mas Wagner Gattaz, presidente do IPq, diz que os efeitos adversos parkinsonianos podem ser uma questão de dose. "Usavam-se doses muito altas das drogas antigas. Com doses mais baixas, a tolerância pode ser excelente."
Ele afirma que, "definitivamente", não dá para dizer que uma classe seja superior à outra e que a resposta a cada remédio é individual. "Tenho pacientes que insistem em trocar um remédio de primeira geração por um mais novo e este acaba se mostrando inferior."
O psiquiatra Táki Cordas, também do IPq, afirma, porém, que boa parte dos pacientes precisa de doses altas. "É compreensível que haja esses questionamentos do ponto de vista do planejamento de políticas de saúde. Mas, se eu estiver diante do meu paciente, prefiro prescrever os mais novos."

Preço
A maioria dos antipsicóticos novos chegou ao Brasil na década de 1990. Um mês de tratamento com alguns deles pode custar mais de R$ 1.000. Já o mais usado dos clássicos, haloperidol, pode ser encontrado por R$ 7 (20 comprimidos). O SUS oferece as drogas mais antigas e algumas das novas mediante autorização especial.
Luiz Alberto Heten, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, afirma que, apesar de os antigos serem mais baratos, o fato de muita gente não tomá-los adequadamente devido aos efeitos colaterais acaba saindo caro.


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