São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2010

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Gagos são alvo de falsas promessas de cura instantânea

Entidades nos EUA e na Europa pedem que Google tire do ar anúncios de soluções milagrosas para distúrbio

Softwares e aparelhos que dizem melhorar fluência da fala não têm eficácia comprovada, segundo especialistas


JULLIANE SILVEIRA
DE SÃO PAULO

Pessoas com gagueira ainda buscam soluções rápidas para melhorar a fluência da fala mesmo que não encontrem a mínima comprovação científica desses métodos.
Nos consultórios e em grupos de apoio, é comum pacientes relatarem experiências anteriores que não trouxeram bons resultados. Hipnose, softwares e aparelhos estão entre as promessas.
"Poucos sabem o que é a gagueira. Entra-se na área nebulosa de que qualquer coisa serve", diz Claudia Andrade, coordenadora do laboratório de investigação fonoaudiológica da fluência da fala, motricidade e funções orofaciais da USP.
As associações britânica e americana de gagueira encabeçam campanha para que o Google tire do ar vídeos e anúncios de técnicas que se vendem como curas. O Instituto Brasileiro de Fluência aderiu à causa.
A gagueira atinge 1% da população em geral e pode afetar 4% das pessoas em algum momento da vida.
"A única solução mágica é pais e pediatras encaminharem a criança a um especialista assim que começa a apresentar o problema", alerta Anelise Junqueira, fonoaudióloga do instituto.
Apenas na infância é possível curar a gagueira. Depois, o que há são ferramentas para melhorar a fluência e aprender a conviver com a dificuldade na fala.

TECNOLOGIA
Softwares e aparelhos que prometem melhorar a fluência também são encarados como solução imediata.
"As pesquisas não confirmam isso. Os resultados ainda são contraditórios, os estudos são de curta duração e patrocinados pelo fabricante. Se o paciente tira o aparelho, a gagueira volta", diz Andrade, que finaliza um protocolo de pesquisa para testar esse tipo de aparelho em gagos a longo prazo.
Em muitos casos, a expectativa do paciente é alta.
"Por mais que expliquemos mil vezes que não é a cura e que podem gaguejar, ainda que com menor frequência, acham que não vão, que encontraram a solução de todos os problemas", defende Érica Ferraz, fonoaudióloga do grupo Microsom.
A empresa importa para o Brasil o Speech Easy: um aparelho que, colocado no ouvido, faz a pessoa escutar a própria voz com um atraso mínimo e em outra frequência, causando o "efeito coro", o que ajuda a reduzir sua dificuldade de expressão.
Redes sociais também são uma fuga. Ao se relacionarem por escrito, gagos podem fingir que não têm o distúrbio e deixam de tratá-lo.
"Um paciente com gagueira gravíssima me disse que não precisava de terapia porque tinha amigos na internet", conta Andrade.


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