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Pulmão artificial substitui função de órgão doente
Jovem com suspeita de gripe A usou o aparelho devido a insuficiência respiratória
Dispositivo substitui a função do pulmão, faz a oxigenação do sangue e retira o gás carbônico para o doente ter mais tempo de recuperação
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em um período de quatro
horas, o estudante Felipe Guedes Fogaça, 18, evoluiu de uma
forte gripe a uma quase morte.
Nem o respirador artificial foi o
bastante para conter a grave insuficiência respiratória que o
atingiu. A solução foi conectar
seu corpo a uma espécie de pulmão artificial, que passou a
exercer as funções do órgão,
então tomado pela infecção.
Felipe já não corre mais risco
de morte e deve ter alta até o final desta semana. A suspeita é
de que ele tenha contraído a
gripe suína -o rapaz teve todos
os sintomas da doença, mas o
resultado do exame foi inconclusivo para o vírus A (H1N1).
É a primeira vez no país que
um paciente com esse quadro é
tratado com sucesso usando o
pulmão artificial ou a Ecmo
(oxigenação extracorpórea por
membrana), nome oficial da
técnica. No mundo, há relatos
de sucesso na Austrália e na
Nova Zelândia, por exemplo.
O drama de Felipe começou
na manhã do último dia 29,
quando ele chegou ao pronto-socorro do Hospital São Luiz,
em São Paulo. Queixava-se de
dores musculares, tosse, febre e
dor de garganta. Na hora do almoço, já não respirava. Foi entubado ainda no PS e, em seguida, encaminhado à UTI.
"Todos os parâmetros respiratórios só pioravam e o ventilador [respirador artificial] já
não dava mais. A oxigenação do
sangue não era suficiente para
manter as funções vitais. Ele
estava morrendo", lembra a
médica intensivista Laís Braun
Ferreira, responsável pela UTI.
Nesses casos, o pulmão está
tão inflamado que não consegue mais fazer a troca de oxigênio para as células. A última alternativa de tratamento foi
usar o pulmão artificial.
"A função dele é oxigenar o
sangue e retirar o gás carbônico
para o paciente ter mais tempo
para se recuperar. A doença é
tão agressiva que, mesmo com
todo tratamento disponível, o
pulmão entra em colapso", explica o cirurgião cardíaco Rafael Otto Schneidewind, responsável pela cirurgia.
A máquina extracorpórea é
muito usada em cirurgias cardíacas em que o coração e os
pulmões são "desligados" durante o procedimento. O aparelho cumpre, por algumas horas,
as funções cardíacas e pulmonares do paciente.
No caso de Felipe, o aparelho
substituiu a função do pulmão
por quatro dias. "É um processo mais sofisticado [do que a cirurgia cardíaca] porque todos
os órgãos estão em funcionamento. Você tem que manter a
pressão arterial, o cérebro tem
que estar protegido, o rim e o fígado não podem parar. É preciso que toda a equipe tenha uma
sintonia fina para conseguir ter
sucesso", afirma o cirurgião.
Segundo ele, outros hospitais
brasileiros já haviam tentado
esse tratamento para casos semelhantes ao do estudante,
mas não tiveram sucesso.
No mês passado, foi publicado um estudo no "Jama" (jornal da Associação Médica Americana) relatando a experiência
da utilização do Ecmo em pacientes com vírus A (H1N1) que
desenvolveram insuficiência
respiratória severa. Do total de
68 doentes tratados, 79% conseguiram sobreviver.
O médico Andrew Davies,
um dos autores do estudo, disse
que a publicação da pesquisa
deve facilitar o trabalho das
equipes médicas no manejo de
pacientes muito graves durante
a pandemia de gripe suína.
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