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ANÁLISE
Critérios técnicos da organização são justificáveis, mas oferecem risco político
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
As críticas que a OMS recebe por conta de seu suposto
alarmismo ao lidar com a gripe suína têm uma origem
bastante precisa: ao decretar
a pandemia, a organização
se valeu de critérios que não
acompanham as intuições
humanas mais fundamentais sobre doenças.
Quando alguém fala em
moléstia infectocontagiosa,
duas preocupações surgem
automaticamente em nossas
mentes: a gravidade (morbimortalidade) e o risco de contaminação (prevalência).
O problema é que, desde
2005, as diretrizes da OMS
para declarar uma pandemia
de gripe ignoram a primeira
condição e atribuem um peso
pequeno à segunda.
O que a organização leva
em conta é principalmente a
distribuição geográfica dos
surtos. O processo tem algo
de caprichoso: a fase pandêmica é decretada quando se
registra transmissão sustentada da doença em países de
duas -e não mais de uma-
das seis áreas do globo em
que a OMS decidiu instalar
seus escritórios regionais.
Tecnicamente, o critério é
justificável. Não faria muito
sentido aguardar que os epidemiologistas calculassem
as taxas de letalidade e prevalência do vírus pandêmico
-o que pode levar meses-
antes de soar o alarme para
que as autoridades deem início às medidas que podem reduzir o impacto da doença.
O risco dessa abordagem é
político. Depois que a OMS
decreta uma pandemia, parte do público espera topar
com pilhas de cadáveres nas
ruas, como num quadro de
Brueghel. Se os mortos não
aparecem -e, no caso de gripes, encontrá-los depende
de cuidadoso trabalho estatístico-, começam a circular
teorias conspiratórias, como
a de que a OMS trabalha para
os grandes laboratórios.
Daí não decorre que a
atuação da OMS tenha sido
sempre impecável. É bom,
porém, lembrar que, na filosofia da prevenção, é melhor
pecar por excesso de cuidados do que por falta deles.
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