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Mulheres solteiras amamentam bebês
por menos tempo
Ausência de apoio de um companheiro e necessidade de trabalhar fora podem contribuir para desistência precoce
Só no caso das adolescentes as solteiras amamentam mais; OMS recomenda que leite materno seja exclusivo até os seis meses de idade
MARIANA VERSOLATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
SAMIA MAZZUCCO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Mães adultas e solteiras têm
5,3 vezes mais chance de abandonar precocemente o aleitamento materno exclusivo do
que as mães com companheiro.
Essa é uma das conclusões de
um estudo da Escola Nacional
de Saúde Pública da Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz), cujo objetivo era descobrir os motivos que levam à introdução de
leite artificial e sua relação com
fatores socioeconômicos.
A pesquisa, publicada na "Revista Brasileira de Epidemiologia", da Abrasco (Associação
Brasileira de Pós-Graduação
em Saúde Coletiva), avaliou as
respostas de 1.057 mães atendidas em 27 unidades básicas de
saúde do Rio de Janeiro.
Para Corintio Mariani Neto,
presidente da Comissão Nacional de Aleitamento Materno da
Febrasgo (Federação Brasileira
das Associações de Ginecologia
e Obstetrícia), a mãe solteira
amamenta menos porque tem
menos apoio para seguir as
orientações sobre a prática
-segundo ele, o principal suporte entre os familiares é o do
companheiro.
"Sem um estímulo de outra
pessoa para acordar no meio da
noite e dar de mamar, pode ser
mais difícil para a mãe solteira
amamentar por mais tempo.
Por isso, muitas acabam usando a mamadeira mais cedo",
afirma Mariani Neto.
Outro fator que pode influenciar na desistência precoce do aleitamento materno é o
fato de a maioria das mães solteiras precisar trabalhar.
"Essa mãe geralmente trabalha fora, chega cansada em casa
e ainda não tem ninguém para
ajudar. As dificuldades são
maiores", diz o obstetra.
Adolescentes
Já na comparação entre adolescentes solteiras e casadas, a
pesquisa mostra que as mais jovens tendem a amamentar seus
filhos por mais tempo.
Segundo Luciano Borges
Santiago, vice-presidente do
Departamento Científico de
Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria, o
companheiro pode atrapalhar
no caso na amamentação da
adolescente. "Geralmente, ela é
mais insegura, está preocupada
com o relacionamento e acha
que a amamentação pode interferir na sua sexualidade", diz.
A brusca mudança na rotina
das mães jovens é também um
dos fatores para que as adolescentes casadas deixem de amamentar seus filhos mais cedo,
de acordo com Roberta Niquini, pesquisadora da Fiocruz e
uma das autoras do artigo. "De
repente, elas têm uma criança e
uma casa para cuidar. Como
precisam administrar muitas
coisas novas, acabam introduzindo o leite artificial precocemente", afirma.
Para Santiago, o estudo da
Fiocruz mostra uma preocupação com o papel do pai na amamentação. Ele afirma que as
pesquisas estão começando a
analisar a interferência do
companheiro nessas questões
-e o relacionamento dos pais
interfere na duração do aleitamento materno exclusivo.
A professora universitária
Sandra Quarezemin, 29, teve
uma filha aos 17 e amamentou a
menina por apenas dois meses.
Na época, os médicos lhe disseram que a sua produção de leite
era muito pequena. "Fiquei
bem sentida, queria dar de mamar. Mas a relação com o pai
dela estava conturbada, e acho
que isso pode ter afetado a
amamentação", diz
Segundo Mariani Neto, a
orientação médica é essencial
para que a mãe amamente por
mais tempo. "Sem orientação,
as mulheres partem logo para a
mamadeira. Infelizmente, hoje
as mães têm que ser convencidas de uma coisa que é natural."
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