São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2010

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Crianças e jovens de favela do Rio estão expostos a chumbo

Problema aumenta risco de ter câncer e deficiências neurológicas, diz estudo

Virginia Damas/CCI/ENSP/Fiocruz
Menino em depósito de lixo no Complexo de Manguinhos, favela na zona norte do Rio de Janeiro

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Crianças e adolescentes do Complexo de Manguinhos, favela na zona norte do Rio, têm 500 vezes mais chances de desenvolver câncer e deficiências neurológicas por exposição ao chumbo, metal que se acumula no organismo, apenas por estar expostas à poluição do local. É o que aponta uma pesquisa da Fiocruz, publicada na revista da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).
A pesquisa revelou que 40% das 64 crianças e adolescentes examinados tinham concentrações de chumbo maiores do que 6 mg por decilitro de sangue. Estudos indicam que concentrações acima desse índice são suficientes para colaborar com alterações neurológicas.
Outros 5% apresentavam índices acima de 10 mg por decilitro de sangue, taxa considerada limite pela Organização Mundial da Saúde.
A coordenadora da pesquisa, Rita Mattos, compara os casos de Manguinhos e da cidade de Bauru (SP), onde 295 crianças foram contaminadas por chumbo de uma indústria em 2002. "Não há uma fonte de emissão, como em Bauru. O chumbo está no solo, no ar e na água", disse a pesquisadora.
Uma das explicações para a concentração de chumbo é o alto índice de poluição atmosférica no local, que é próximo a rodovias e linhas férreas. O estudo também aponta a existência de aterros construídos com estruturas de demolição. "Restos de tintas, que antigamente tinham chumbo na composição, e todos os outros fatores reunidos acabam contaminando ambiente", disse Mattos.
A pesquisadora diz também que as crianças absorvem até três vezes mais o chumbo do que os adultos, e o fato de terem hábitos como levar a mão à boca deixa-as mais vulneráveis à exposição por ingestão.
Segundo a coordenadora, uma das maneiras de prevenção seria dar mais atenção à nutrição da crianças. "Aumentando o consumo de cálcio e ferro na alimentação, suprindo o deficit nutricional que muitas delas apresentam, a atuação do chumbo no organismo pode ser diminuída", afirmou. (SM)


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