São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011

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ANÁLISE

Andar é só a fase final de uma longa escaladade objetivos

JAIRO MARQUES
COLUNISTA DA FOLHA

Cada vez que surgem notícias de um novo tratamento revolucionário que promete fazer gente abatida da guerra voltar a andar, haja vela para dar conta da demanda de pessoas ao redor do mundo que se agarram na esperança de que "agora vai".
Fato é, porém, que, até o momento, nenhuma pessoa que tenha tido uma lesão medular com comprometimento grave dos movimentos conseguiu levantar da cadeira de rodas e dançar uma valsa sem titubear no passo.
Alguém tem notícias do povo que foi para a China se submeter a técnicas "infalíveis" de recuperação da capacidade motora? Tudo efeito placebo ou sem eficácia confirmada.
A cura para "voltar a bailar" não é o objetivo principal de pesquisadores sérios. Esses sabem que a demanda mais urgente de uma pessoa que ficou paraplégica ou tetraplégica após um trauma é ganhar mais qualidade de vida com melhorias, por exemplo, nos sistemas que controlam as funções das "partes baixas" do corpo.
Andar é o momento último de uma escalada de objetivos que vão desde recuperação da sensibilidade da pele nas partes que perderam o movimento até a autonomia para fazer um xixi sem auxílio de um canudinho, mais conhecido como cateter.
Acontece, porém, que é quase impossível conter o frisson diante de informações, muitas vezes superdimensionadas, de que a vítima de um acidente, paralisada havia anos, conseguiu mexer o joelho depois de injeções com célula-tronco, saídas sabe Deus de onde.
Avanços existem, mas ainda estão circunscritos a casos isolados, em teste, e sem total conhecimento de possíveis efeitos colaterais. Fisioterapia rigorosa, prática de esportes, reconstrução da vida social e profissional, acompanhamento médico são instrumentos muito bem testados e de efetivos resultados para reabilitar.
Conquistas da ciência e da tecnologia precisam ser incentivadas. Mas, ao mesmo tempo, é fundamental aguardar o momento de aproveitar o benefício com segurança e resultados satisfatórios, norteados por uma expectativa real, não milagrosa.


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