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Exercício físico pode ser superior à angioplastia
Benefício foi observado em pacientes com doença cardiovascular crônica
Segundo especialistas, a implantação de stents é desnecessária em muitos casos, mas ainda assim continua sendo indicada
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Praticar exercícios pode ser
melhor do que fazer angioplastia (implantação de stents para
desobstruir vasos) para alguns
pacientes, mostra uma pesquisa alemã apresentada no Congresso Europeu de Cardiologia,
que aconteceu em Barcelona.
Pesquisadores da Universidade de Leipzig vêm avaliando,
em vários estudos, o efeito do
procedimento que coloca um
stent (mola) na artéria obstruída comparado à atividade física
em pacientes idosos com doença coronariana estável.
No congresso, eles apresentaram uma versão ampliada de
um trabalho publicado inicialmente em 2004, na revista
"Circulation". Somando os dois
momentos, os autores acompanharam durante dois anos 202
homens com mais de 70 anos e
angina (dores causadas pela
obstrução parcial das artérias).
Os pacientes foram divididos
em dois grupos: metade passou
pela angioplastia e os demais fizeram um programa de atividade física que incluía 20 minutos
diários de exercícios na bicicleta ergométrica e uma participação semanal em um treino de
uma hora de exercício supervisionado. Todos os voluntários
tomavam medicamentos para
controlar a doença.
Os resultados mostram que
ocorreram 21 eventos cardiovasculares no grupo dos exercícios, e 32 no da angioplastia. Os
eventos citados incluem, por
exemplo, dores, uma nova obstrução e até mesmo um infarto.
"No estudo, a evolução dos
pacientes que se exercitaram
foi superior", conta o fisiologista Carlos Eduardo Negrão, diretor da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia
do Exercício do Instituto do
Coração, em São Paulo, que assistiu à apresentação dos pesquisadores alemães.
"Mas os critérios de exclusão
do estudo mostram que talvez
muitos dos pacientes acompanhados não precisassem mesmo passar pela angioplastia",
pondera o hemodinamicista
Pedro Lemos, do Serviço de
Hemodinâmica e Cardiologia
Intervencionista, também do
InCor. "Provavelmente eram
pacientes com obstruções menos severas, que são casos em
que existem mesmo dúvidas se
devem passar imediatamente
pela angioplastia", afirma.
Desnecessária
Segundo especialistas, a angioplastia é desnecessária em
muitos casos, mas ainda assim
continua sendo indicada. A colocação do stent elimina a angina por desobstruir a artéria
imediatamente, mas não afasta
o risco de infartos pois há alto
índice de reestenose (o novo
entupimento da artéria).
Por outro lado, os exercícios
promovem uma melhora do
quadro geral, reduzindo o colesterol e o peso do paciente.
Segundo os autores do estudo,
só os exercícios diminuem a
progressão da doença. Isso porque a doença coronariana não
se restringe a um só vaso.
"Não se trata de questionar
os benefícios da angioplastia",
diz Negrão. "Mas o estudo reforça a ideia de que os exercícios não devem ser encarados
como coadjuvantes e sim como
parte do tratamento para esses
pacientes". Para Lemos, a angioplastia e os exercícios não
são excludentes, como foi colocado no estudo. "Para alguns
pacientes, é melhor a angioplastia; outros podem se beneficiar dos exercícios e, depois,
precisarem passar pela angioplastia", exemplifica. "Tudo depende dos sintomas."
"A angioplastia não precisa
ser a primeira opção para pacientes com a doença crônica",
diz o cardiologista Luiz Antonio Machado César, vice-presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
Uma revisão de estudos feita
pela Cochrane (organização internacional que avalia pesquisas médicas) constatou que os
exercícios conseguem reduzir a
mortalidade por doenças cardíacas em 31%. Além disso, há
estudos que mostram que os
exercícios ajudam a reduzir a
placa de gordura.
Entre as limitações do estudo, estão o pequeno número de
pacientes. Os próprios autores
reconhecem que tiveram dificuldades em recrutar voluntários dispostos a seguir a rotina
de atividades físicas.
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