São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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Exercício físico pode ser superior à angioplastia

Benefício foi observado em pacientes com doença cardiovascular crônica

Segundo especialistas, a implantação de stents é desnecessária em muitos casos, mas ainda assim continua sendo indicada

GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Praticar exercícios pode ser melhor do que fazer angioplastia (implantação de stents para desobstruir vasos) para alguns pacientes, mostra uma pesquisa alemã apresentada no Congresso Europeu de Cardiologia, que aconteceu em Barcelona.
Pesquisadores da Universidade de Leipzig vêm avaliando, em vários estudos, o efeito do procedimento que coloca um stent (mola) na artéria obstruída comparado à atividade física em pacientes idosos com doença coronariana estável.
No congresso, eles apresentaram uma versão ampliada de um trabalho publicado inicialmente em 2004, na revista "Circulation". Somando os dois momentos, os autores acompanharam durante dois anos 202 homens com mais de 70 anos e angina (dores causadas pela obstrução parcial das artérias).
Os pacientes foram divididos em dois grupos: metade passou pela angioplastia e os demais fizeram um programa de atividade física que incluía 20 minutos diários de exercícios na bicicleta ergométrica e uma participação semanal em um treino de uma hora de exercício supervisionado. Todos os voluntários tomavam medicamentos para controlar a doença.
Os resultados mostram que ocorreram 21 eventos cardiovasculares no grupo dos exercícios, e 32 no da angioplastia. Os eventos citados incluem, por exemplo, dores, uma nova obstrução e até mesmo um infarto.
"No estudo, a evolução dos pacientes que se exercitaram foi superior", conta o fisiologista Carlos Eduardo Negrão, diretor da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do Instituto do Coração, em São Paulo, que assistiu à apresentação dos pesquisadores alemães.
"Mas os critérios de exclusão do estudo mostram que talvez muitos dos pacientes acompanhados não precisassem mesmo passar pela angioplastia", pondera o hemodinamicista Pedro Lemos, do Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, também do InCor. "Provavelmente eram pacientes com obstruções menos severas, que são casos em que existem mesmo dúvidas se devem passar imediatamente pela angioplastia", afirma.

Desnecessária
Segundo especialistas, a angioplastia é desnecessária em muitos casos, mas ainda assim continua sendo indicada. A colocação do stent elimina a angina por desobstruir a artéria imediatamente, mas não afasta o risco de infartos pois há alto índice de reestenose (o novo entupimento da artéria).
Por outro lado, os exercícios promovem uma melhora do quadro geral, reduzindo o colesterol e o peso do paciente. Segundo os autores do estudo, só os exercícios diminuem a progressão da doença. Isso porque a doença coronariana não se restringe a um só vaso.
"Não se trata de questionar os benefícios da angioplastia", diz Negrão. "Mas o estudo reforça a ideia de que os exercícios não devem ser encarados como coadjuvantes e sim como parte do tratamento para esses pacientes". Para Lemos, a angioplastia e os exercícios não são excludentes, como foi colocado no estudo. "Para alguns pacientes, é melhor a angioplastia; outros podem se beneficiar dos exercícios e, depois, precisarem passar pela angioplastia", exemplifica. "Tudo depende dos sintomas."
"A angioplastia não precisa ser a primeira opção para pacientes com a doença crônica", diz o cardiologista Luiz Antonio Machado César, vice-presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
Uma revisão de estudos feita pela Cochrane (organização internacional que avalia pesquisas médicas) constatou que os exercícios conseguem reduzir a mortalidade por doenças cardíacas em 31%. Além disso, há estudos que mostram que os exercícios ajudam a reduzir a placa de gordura.
Entre as limitações do estudo, estão o pequeno número de pacientes. Os próprios autores reconhecem que tiveram dificuldades em recrutar voluntários dispostos a seguir a rotina de atividades físicas.


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