São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

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Terapia familiar é a mais eficaz para tratar anorexia

Resultados de sessões individuais foram comparados aos da técnica que envolve pais e irmãos de paciente

Pesquisa das universidades de Stanford e Chicago avaliou a recuperação de jovens dos dois sexos

JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

A terapia familiar é duas vezes mais eficaz no tratamento da anorexia nervosa do que a terapia individual.
Uma pesquisa da Universidade de Stanford em parceria com a Universidade de Chicago, nos EUA, comparou os dois tipos de tratamentos em 121 pacientes de 12 a 18 anos.
Aqueles que tiveram apoio e acompanhamento de pais e irmãos se recuperaram mais rapidamente e melhor.
Para Ester Zatyrko Schomer, psicóloga clínica e terapeuta familiar do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim) do Hospital das Clínicas da USP, tratar a família toda é mesmo mais eficaz do que acompanhar apenas o paciente.
"A rotina familiar pode ter relação com a determinação ou a continuidade da doença. Essa é a terapia mais abrangente, porque cada um descobre o que precisa fazer para ajudar."
Uma pessoa com anorexia é capaz de desestabilizar toda a casa. Em geral, quando os pais procuram ajuda para os filhos, eles mesmos já estão precisando de apoio.
"Eles se sentem impotentes e já estão cansados. Isso gera conflitos, agressões das duas partes e perda do diálogo", diz a médica psiquiatra Maria Angélica Nunes, coordenadora do Grupo de Estudos e Assistência aos Transtornos Alimentares (Geata), de Porto Alegre.
A forma mais comum do tratamento familiar coloca o paciente, irmãos e pais na mesma sessão. A primeira lição que os pais aprendem é que eles não são e nem devem se sentir culpados.
"Há muitas causas para um transtorno alimentar. É impossível falar em culpados. Os pais precisam recuperar a autoestima e a autoridade. Eles são as melhores pessoas para orientar e ajudar os filhos doentes", afirma Liliane Kijner Kern, médica psiquiatra do Programa de Orientação e Assistência a Transtornos Alimentares (Proata) da Unifesp.
Em uma das sessões, por exemplo, todos são convidados a almoçar no consultório. O terapeuta assiste a tudo e apoia os conselhos dos pais para reforçar a autoridade.

ERROS
Segundo Kern, sem orientação, muitas vezes as famílias tomam rumos errados. Há, segundo ela, duas atitudes comuns que só fazem alimentar a doença. A primeira delas é insistir para que o paciente coma.
"É uma guerra sem solução. Os pais tentam argumentar sobre a comida, o número de calorias e não adianta. A doença é sempre mais forte", diz a psiquiatra.
Outro problema é ceder às exigências do paciente. Quem tem um transtorno alimentar tenta controlar a alimentação da família toda e faz chantagens para isso. "Ceder só fortalece o mau comportamento do paciente", explica a médica.
Todos os integrantes da família precisam estar abertos ao diálogo, esquecer as cobranças e fazer acordos.
"Firmamos um acordo sobre como vai ser a alimentação naquela semana, e precisamos da família para fiscalizar se o cardápio está sendo cumprido. É um plano discutido e firmado entre o paciente, o terapeuta e a família. Essa é a maior ajuda que a família pode dar", afirma a nutricionista Fernanda Pisciolaro, da Associação Brasileira paro o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).


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