São Paulo, sábado, 14 de maio de 2011

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ANÁLISE

Há feridas abertas entre clínica e cirurgia

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Os médicos não gostam muito de admiti-lo, mas é forte até hoje a rivalidade entre clínicos e cirurgiões.
O antagonismo tem origens no final da Idade Média. Mais ou menos até o século 12, clínica e cirurgia eram indissociáveis e praticadas, em geral, por clérigos.
A uma dada altura, a Igreja Católica ficou incomodada com o fato de padres e monges se ausentarem de suas obrigações para praticar medicina, de modo que baixou normas para afastá-los da profissão, que as autoridades eclesiásticas viam como uma atividade secular não compatível com a missão divina.
As restrições mais fortes vieram em 1215, no 4º Concílio de Latrão, e atingiram especialmente a cirurgia: "subdiáconos, diáconos e padres" foram proibidos de "exercer qualquer arte médica que envolva cortar ou queimar".
A ideia era evitar que membros da Igreja se metessem com homicídios, ainda que involuntários.
Como alguém precisava "cortar e queimar", chamaram os barbeiros, que, ao menos, estavam habituados às lâminas. O divórcio entre clínica e cirurgia estava selado.
Clínicos eram da elite e tinham grau universitário, ainda que a medicina da época não servisse para muita coisa. Já os cirurgiões eram barbeiros, cuja função era meter a mão na massa.
Só a partir do século 18 as carreiras se reconciliaram, embora algumas feridas não tenham cicatrizado até hoje.


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