São Paulo, domingo, 14 de agosto de 2011

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PLANTÃO MÉDICO

JULIO ABRAMCZYK - julio@uol.com.br

A doença de Chagas ainda existe, mas transmissão quase sumiu

Mais de 100 mil crianças de até cinco anos foram submetidas a exames de sangue para a doença de Chagas, de 2001 a 2008, em todo o Brasil.
Esse levantamento nacional foi coordenado pelo professor Aluizio Prata, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em Uberaba (MG), com a colaboração de pesquisadores especializados em doenças tropicais.
Os resultados, publicados no último número da "Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical", mostram a inexistência virtual, nos últimos anos, da transmissão do agente da doença (o parasita Trypanosoma cruzi) pelo inseto hematófago Triatoma infestans, popularmente conhecido como "barbeiro".
Alejandro L. Ostermayer e colaboradores mostram que o principal achado do inquérito foi a raridade da infecção chagásica em crianças, o que indica a virtual inexistência da transmissão da doença pelo T. infestans no Brasil.
Os poucos casos positivos detectados (20 casos) sugerem transmissão congênita, pela presença do parasita na mãe; e apenas 11 casos, em relação às mais de 100 mil crianças examinadas, foram considerados de provável transmissão pelo inseto.
Para os autores, essa impressionante redução está relacionada não apenas aos programas de combate ao inseto mas também à acelerada urbanização observada nos últimos 40 anos e à melhora das condições de vida.
O desafio para manter sob controle o avanço é também analisado pelo ex-diretor da Divisão Nacional de Doença de Chagas do Ministério da Saúde, Antonio Carlos Silveira. Ele lembra que a interrupção da transmissão domiciliar pelo "barbeiro" criou a falsa crença do problema resolvido. E isso compromete a vigilância da doença.
Afinal, continua a transmissão extradomiciliar por vetores silvestres, o raríssimo sangue contaminado em uma transfusão (exames costumam afastar esta possibilidade) e a eventual e rara transmissão oral, como a ocorrida no consumo de açaí ou de caldo de cana no Pará e no Sudeste, respectivamente.


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