São Paulo, sábado, 14 de novembro de 2009

Próximo Texto | Índice

Enchente de SC fez crescer morte cardíaca

Estudo diz que número de infartos e de mortes súbitas em Blumenau em novembro de 2008 foi 48% acima da média mensal

Estresse psicológico das vítimas e dificuldades de acesso a tratamentos são duas hipóteses dos médicos para explicar o fenômeno


CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

As enchentes que há um ano mataram 135 pessoas e deixaram mais de 80 mil desabrigadas em Santa Catarina causaram também um aumento de mortes súbitas e de infartos do miocárdio, revela uma pesquisa do InCor (Instituto do Coração) de São Paulo, que será divulgada hoje no congresso da American Heart Association, em Orlando (EUA).
Para os médicos, há duas hipóteses que podem explicar o maior risco cardíaco em situações de tragédias: o estresse psicológico das vítimas e as dificuldades de acesso a tratamentos adequados.
O estudo, realizado em Blumenau, uma das cidades mais atingidas pelas chuvas, avaliou o número de mortes cardíacas em novembro de 2008 e comparou com os registros ocorridos cinco meses antes e cinco meses após a tragédia.
Os dados mostram que o número de mortes cardíacas dentro dos hospitais, em novembro, foi 48% superior em relação à média mensal (40 contra 27). Houve também um aumento de 31% das mortes ocorridas fora das unidades hospitalares (21 contra 16).
Segundo o cardiologista Sergio Timerman, do InCor (Instituto do Coração), trabalhos anteriores já haviam demonstrado o aumento de eventos cardiovasculares após catástrofes, como a passagem do furacão Katrina por Nova Orleans ou o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, em Nova York.
"O aspecto emocional do transtorno pós-traumático é a segunda parte da tragédia e acaba vitimando ainda mais pessoas ligadas direta e indiretamente com a catástrofe", afirma Timerman.
No caso do furacão Katrina, por exemplo, estudos já publicados em revistas científicas revelam que, após a tragédia, triplicou o número de mortes súbitas e de infartos do miocárdio, além de ter havido um aumento das arritmias cardíacas e dos níveis de triglicérides, de colesterol e de pressão arterial.

Estresse
Do ponto de vista fisiológico, há pesquisas indicando que, em situações de estresse e de luto, há uma liberação excessiva de hormônios relacionados ao estresse, como a adrenalina e a cortisona, que provocam fraqueza do músculo cardíaco. Essas emoções também podem causar alterações na contração do coração por meio de isquemias ou de arritmias cardíacas.
Por conta disso, o estresse tem se tornado um fator de risco cardíaco tão importante quanto a obesidade e o tabagismo, podendo causar também angina (dor no peito), hipertensão e arritmias cardíacas.
Segundo Fernando Cruz, cardiologista do INC (Instituto Nacional de Cardiologia) e especialista em morte súbita, em situações de tragédia, o estresse é mais prejudicial para quem já tem uma doença cardíaca prévia porque a "desestabiliza".
O atraso em procurar ajuda médica e a dificuldade de acesso ao hospital também têm impacto nas mortes cardíacas. "50% das pessoas que infartam morrem na primeira hora. Das que sobrevivem, 49% têm riscos de morrer no próximo mês se não tiverem tratamento adequado", afirma Cruz.
Para Timerman, os sistemas de saúde devem ter planos de emergência que ofereçam suportes psicológico e médico, que ajudem na prevenção de eventos cardíacos.


Próximo Texto: Hospital de Blumenau ficou ilhado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.