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Enchente de SC fez crescer morte cardíaca
Estudo diz que número de infartos e de mortes súbitas em Blumenau em novembro de 2008 foi 48% acima da média mensal
Estresse psicológico das vítimas e dificuldades de acesso a tratamentos são duas hipóteses dos médicos para explicar o fenômeno
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
As enchentes que há um ano
mataram 135 pessoas e deixaram mais de 80 mil desabrigadas em Santa Catarina causaram também um aumento de
mortes súbitas e de infartos do
miocárdio, revela uma pesquisa do InCor (Instituto do Coração) de São Paulo, que será divulgada hoje no congresso da
American Heart Association,
em Orlando (EUA).
Para os médicos, há duas hipóteses que podem explicar o
maior risco cardíaco em situações de tragédias: o estresse
psicológico das vítimas e as dificuldades de acesso a tratamentos adequados.
O estudo, realizado em Blumenau, uma das cidades mais
atingidas pelas chuvas, avaliou
o número de mortes cardíacas
em novembro de 2008 e comparou com os registros ocorridos cinco meses antes e cinco
meses após a tragédia.
Os dados mostram que o número de mortes cardíacas dentro dos hospitais, em novembro, foi 48% superior em relação à média mensal (40 contra
27). Houve também um aumento de 31% das mortes ocorridas fora das unidades hospitalares (21 contra 16).
Segundo o cardiologista Sergio Timerman, do InCor (Instituto do Coração), trabalhos anteriores já haviam demonstrado o aumento de eventos cardiovasculares após catástrofes,
como a passagem do furacão
Katrina por Nova Orleans ou o
ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, em Nova York.
"O aspecto emocional do
transtorno pós-traumático é a
segunda parte da tragédia e
acaba vitimando ainda mais
pessoas ligadas direta e indiretamente com a catástrofe", afirma Timerman.
No caso do furacão Katrina,
por exemplo, estudos já publicados em revistas científicas
revelam que, após a tragédia,
triplicou o número de mortes
súbitas e de infartos do miocárdio, além de ter havido um aumento das arritmias cardíacas
e dos níveis de triglicérides, de
colesterol e de pressão arterial.
Estresse
Do ponto de vista fisiológico,
há pesquisas indicando que, em
situações de estresse e de luto,
há uma liberação excessiva de
hormônios relacionados ao estresse, como a adrenalina e a
cortisona, que provocam fraqueza do músculo cardíaco. Essas emoções também podem
causar alterações na contração
do coração por meio de isquemias ou de arritmias cardíacas.
Por conta disso, o estresse
tem se tornado um fator de risco cardíaco tão importante
quanto a obesidade e o tabagismo, podendo causar também
angina (dor no peito), hipertensão e arritmias cardíacas.
Segundo Fernando Cruz,
cardiologista do INC (Instituto
Nacional de Cardiologia) e especialista em morte súbita, em
situações de tragédia, o estresse é mais prejudicial para quem
já tem uma doença cardíaca
prévia porque a "desestabiliza".
O atraso em procurar ajuda
médica e a dificuldade de acesso ao hospital também têm impacto nas mortes cardíacas.
"50% das pessoas que infartam
morrem na primeira hora. Das
que sobrevivem, 49% têm riscos de morrer no próximo mês
se não tiverem tratamento adequado", afirma Cruz.
Para Timerman, os sistemas
de saúde devem ter planos de
emergência que ofereçam suportes psicológico e médico,
que ajudem na prevenção de
eventos cardíacos.
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