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2 dias após morte cerebral da mãe, menina nasce de cesariana com um quilo
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A filha da ex-campeã britânica de patinação no gelo Jayne Soliman, 41, nasceu dois
dias depois da morte da mãe,
no Reino Unido. Jayne sofreu
uma hemorragia cerebral
causada por um tumor agressivo, de acordo com os médicos do hospital John Radcliffe, em Oxford, onde ela foi
atendida.
Segundo amigos da família,
ela não sabia do tumor e nunca havia demonstrado sintomas anteriormente. Ao ir para a cama, reclamou apenas
de uma forte dor de cabeça.
Depois de constatarem
morte cerebral na paciente,
os médicos optaram por
manter o bebê, com 25 semanas, no útero por mais dois
dias e deram a ele corticoesteróides, substâncias que ajudam no amadurecimento dos
pulmões e a melhorar a troca
de ar com o ambiente.
Os batimentos cardíacos da
mãe foram mantidos artificialmente. A garota, que recebeu o nome de Aya (palavra
árabe que significa milagre),
nasceu por meio de uma cesariana com cerca de um quilo.
Logo após o nascimento, o
bebê foi colocado no ombro
da mãe por alguns instantes e,
em seguida, os aparelhos que
mantinham as funções vitais
da mulher foram desligados.
Outros casos
Segundo o especialista em
medicina fetal Antonio Fernandes Moron, professor da
Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), outros casos semelhantes já ocorreram
no Brasil e em outras partes
do mundo. "A mãe só pode ter
morte cerebral, não é possível
[manter o bebê no útero] com
morte orgânica, por causas
que impedem manter o coração batendo. Mantemos os
batimentos cardíacos, os pulmões funcionando e monitoramos as outras funções vitais da mãe, como pressão arterial e funções hepáticas e
renais", explica.
Moron diz ainda que é necessário manter o suporte
nutricional da mãe, para que
o bebê continue se desenvolvendo. O procedimento é feito por sonda, diretamente no
estômago ou no intestino, ou
ainda pela veia.
"Do ponto de vista legal, o
feto tem seus direitos. Após
25 semanas de gravidez, temos de cuidar dele como se
fosse um paciente. Se a mãe é
considerada morta, mas eu
tenho condições de fazer com
que nasça em condições melhores, eu devo fazer", diz.
Casos de morte orgânica
exigem parto imediato para
que seja possível salvar o bebê. "No caso de uma enferma
grave, é preciso confirmar
que não há chance nenhuma
de sobrevivência, pois a cesárea pode ser o fator que leva à
morte", acrescenta Moron.
Com agências internacionais
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