São Paulo, quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Índice

foco

2 dias após morte cerebral da mãe, menina nasce de cesariana com um quilo

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A filha da ex-campeã britânica de patinação no gelo Jayne Soliman, 41, nasceu dois dias depois da morte da mãe, no Reino Unido. Jayne sofreu uma hemorragia cerebral causada por um tumor agressivo, de acordo com os médicos do hospital John Radcliffe, em Oxford, onde ela foi atendida.
Segundo amigos da família, ela não sabia do tumor e nunca havia demonstrado sintomas anteriormente. Ao ir para a cama, reclamou apenas de uma forte dor de cabeça.
Depois de constatarem morte cerebral na paciente, os médicos optaram por manter o bebê, com 25 semanas, no útero por mais dois dias e deram a ele corticoesteróides, substâncias que ajudam no amadurecimento dos pulmões e a melhorar a troca de ar com o ambiente.
Os batimentos cardíacos da mãe foram mantidos artificialmente. A garota, que recebeu o nome de Aya (palavra árabe que significa milagre), nasceu por meio de uma cesariana com cerca de um quilo.
Logo após o nascimento, o bebê foi colocado no ombro da mãe por alguns instantes e, em seguida, os aparelhos que mantinham as funções vitais da mulher foram desligados.

Outros casos
Segundo o especialista em medicina fetal Antonio Fernandes Moron, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), outros casos semelhantes já ocorreram no Brasil e em outras partes do mundo. "A mãe só pode ter morte cerebral, não é possível [manter o bebê no útero] com morte orgânica, por causas que impedem manter o coração batendo. Mantemos os batimentos cardíacos, os pulmões funcionando e monitoramos as outras funções vitais da mãe, como pressão arterial e funções hepáticas e renais", explica.
Moron diz ainda que é necessário manter o suporte nutricional da mãe, para que o bebê continue se desenvolvendo. O procedimento é feito por sonda, diretamente no estômago ou no intestino, ou ainda pela veia.
"Do ponto de vista legal, o feto tem seus direitos. Após 25 semanas de gravidez, temos de cuidar dele como se fosse um paciente. Se a mãe é considerada morta, mas eu tenho condições de fazer com que nasça em condições melhores, eu devo fazer", diz.
Casos de morte orgânica exigem parto imediato para que seja possível salvar o bebê. "No caso de uma enferma grave, é preciso confirmar que não há chance nenhuma de sobrevivência, pois a cesárea pode ser o fator que leva à morte", acrescenta Moron.

Com agências internacionais



Texto Anterior: Programas têm pouca evidência de efetividade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.