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Coração se recupera após bater 11 anos com outro doado
Garota conviveu com dois corações depois de transplante na infância; órgão doado foi retirado
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
O coração de uma paciente
britânica, que funcionou durante quase 11 anos acoplado a
outro transplantado, recuperou-se totalmente após a retirada do órgão doado. O caso foi
relatado na última edição do
periódico científico "Lancet".
Aos oito meses de idade,
Hannah Clark, hoje com 16
anos, foi diagnosticada com insuficiência cardíaca devido a
uma cardiomiopatia dilatada
-condição que faz o coração
aumentar de tamanho, deixando-o incapaz de bombear o sangue corretamente para o corpo.
Ela foi submetida a um transplante aos 11 meses. Mas, ao
contrário do procedimento padrão -que substitui o coração
doente pelo órgão doado-, os
médicos não retiraram o coração dela. Como a paciente tinha
também uma hipertensão pulmonar grave, eles optaram por
deixar o chamado coração nativo para que trabalhasse ajudando o novo órgão.
Apenas três meses após a cirurgia, o órgão transplantado já
estava assumindo a maior parte
do trabalho, deixando o coração de Hannah "descansar".
Câncer
Seis anos depois da cirurgia, a
menina começou a desenvolver
tumores por causa das drogas
utilizadas regularmente para
evitar uma provável rejeição ao
órgão transplantado.
A chamada doença linfoproliferativa acomete pacientes
pós-transplante devido à imunossupressão. Trata-se de um
câncer que surge da proliferação desordenada de certas células sanguíneas infectadas pelo vírus Epstein-Barr.
Na menina britânica, esse
câncer, que tem uma taxa de
mortalidade de 80%, mostrou-se resistente a todos os tratamentos, inclusive à redução das
drogas imunossupressoras.
No artigo do "Lancet", os autores relatam que a recuperação do coração original permitiu retirar o órgão transplantado para eliminar completamente o uso da medicação.
Após três anos da retirada do
órgão doado, a paciente está
completamente recuperada,
inclusive do tumor, e seu coração tem condições de trabalhar
por conta própria.
Ainda não se sabe os mecanismos que permitiram a recuperação do coração doente.
De acordo com os autores do
artigo, o caso mostra várias
questões relacionadas ao transplante heterotópico (em que o
órgão nativo é preservado) em
crianças e a capacidade de recuperação do coração.
"Isso é surpreendente e abre
a possibilidade de, no futuro,
pensar em preservar o coração
nativo nesses casos", diz João
Manoel Rossi Neto, responsável pelo ambulatório de transplante cardíaco do Instituto
Dante Pazzanese.
"Há doenças cardíacas que
não são progressivas e pode haver recuperação do coração
após um tempo", diz José Pedro da Silva, chefe da equipe de
transplante cardíaco da Beneficência Portuguesa.
Novas pesquisas com o chamado coração artificial sugerem que ele pode servir como
solução provisória enquanto o
paciente espera por um transplante. Outra possibilidade é
que ele substitua o órgão doente enquanto ele se recupera.
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