São Paulo, quarta-feira, 15 de julho de 2009

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Coração se recupera após bater 11 anos com outro doado

Garota conviveu com dois corações depois de transplante na infância; órgão doado foi retirado

GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL

O coração de uma paciente britânica, que funcionou durante quase 11 anos acoplado a outro transplantado, recuperou-se totalmente após a retirada do órgão doado. O caso foi relatado na última edição do periódico científico "Lancet".
Aos oito meses de idade, Hannah Clark, hoje com 16 anos, foi diagnosticada com insuficiência cardíaca devido a uma cardiomiopatia dilatada -condição que faz o coração aumentar de tamanho, deixando-o incapaz de bombear o sangue corretamente para o corpo.
Ela foi submetida a um transplante aos 11 meses. Mas, ao contrário do procedimento padrão -que substitui o coração doente pelo órgão doado-, os médicos não retiraram o coração dela. Como a paciente tinha também uma hipertensão pulmonar grave, eles optaram por deixar o chamado coração nativo para que trabalhasse ajudando o novo órgão.
Apenas três meses após a cirurgia, o órgão transplantado já estava assumindo a maior parte do trabalho, deixando o coração de Hannah "descansar".

Câncer
Seis anos depois da cirurgia, a menina começou a desenvolver tumores por causa das drogas utilizadas regularmente para evitar uma provável rejeição ao órgão transplantado.
A chamada doença linfoproliferativa acomete pacientes pós-transplante devido à imunossupressão. Trata-se de um câncer que surge da proliferação desordenada de certas células sanguíneas infectadas pelo vírus Epstein-Barr.
Na menina britânica, esse câncer, que tem uma taxa de mortalidade de 80%, mostrou-se resistente a todos os tratamentos, inclusive à redução das drogas imunossupressoras.
No artigo do "Lancet", os autores relatam que a recuperação do coração original permitiu retirar o órgão transplantado para eliminar completamente o uso da medicação.
Após três anos da retirada do órgão doado, a paciente está completamente recuperada, inclusive do tumor, e seu coração tem condições de trabalhar por conta própria.
Ainda não se sabe os mecanismos que permitiram a recuperação do coração doente.
De acordo com os autores do artigo, o caso mostra várias questões relacionadas ao transplante heterotópico (em que o órgão nativo é preservado) em crianças e a capacidade de recuperação do coração.
"Isso é surpreendente e abre a possibilidade de, no futuro, pensar em preservar o coração nativo nesses casos", diz João Manoel Rossi Neto, responsável pelo ambulatório de transplante cardíaco do Instituto Dante Pazzanese.
"Há doenças cardíacas que não são progressivas e pode haver recuperação do coração após um tempo", diz José Pedro da Silva, chefe da equipe de transplante cardíaco da Beneficência Portuguesa.
Novas pesquisas com o chamado coração artificial sugerem que ele pode servir como solução provisória enquanto o paciente espera por um transplante. Outra possibilidade é que ele substitua o órgão doente enquanto ele se recupera.


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