São Paulo, quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Narcisismo deixa de ser doença na nova "Bíblia" da psiquiatria

Manual de transtornos mentais eliminará da lista atual 5 distúrbios

CHARLES ZANOR
DO "NEW YORK TIMES"

A quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, previsto para ser lançado em 2013, e conhecido como DSM-5, eliminou cinco transtornos de personalidade listados na edição atual.
O distúrbio de personalidade narcisista (DPN) é o mais conhecido deles. A maioria dos leigos tem uma boa ideia do que seja o narcisismo, mas a definição formal é mais precisa do que a do dicionário.
O requisito principal para o DPN é um senso grandioso de autoestima e um erro de cálculo de suas habilidades, muitas vezes acompanhado por fantasias de superioridade. O segundo requisito é que ele espera que os outros reconheçam suas qualidades.
Os narcisistas não têm noção sobre como as coisas parecem da perspectiva dos outros. São muito sensíveis ao serem ignorados, mas dificilmente reconhecem quando fazem isso com os outros.
É uma incógnita o porquê do manual do comitê sobre distúrbios de personalidade decidir tirar o DPN da lista.
Um dos críticos é o psiquiatra de Harvard John Gunderson. Questionado sobre o que achou da eliminação, disse que o manual mostrou o quão "ignorante" é o comitê. "Eles têm pouco conhecimento sobre o dano que podem estar causando."
Ele também culpou a abordagem dimensional, método de diagnóstico de distúrbio de personalidade que é novo para a DSM. Consiste em fazer um diagnóstico global do distúrbio para determinado paciente, e então, selecionar traços particulares de uma lista para melhor descrever aquele paciente.
Isto é um contraste com a abordagem que tem sido usada há 30 anos: a síndrome narcisista é definida por um conjunto de traços ligados, e o paciente é classificado naquele perfil.
A ideia de substituir o diagnóstico padrão do DPN pelo dimensional como "distúrbio de personalidade com traços narcisistas e manipuladores" não vai dar certo.
Jonathan Shedler, psicólogo da Universidade de Colorado, disse: "Os médicos estão acostumados a pensar em termos de síndromes, e não traços separados. Já os pesquisadores pensam em termos de variáveis, e há uma cisma enorme". Ele disse que o comitê foi formado "por acadêmicos que não atuam na prática clínica".
Há 30 anos o DSM tem sido o padrão inquestionável que os médicos consultam ao diagnosticar distúrbios mentais. Quando um diagnóstico é modificado ou excluído, isso não é pouca coisa.
Gunderson escreveu uma carta coassinada por outros pesquisadores e médicos à Associação Psiquiátrica Americana e à força-tarefa que dirige a DSM-5.


CHARLES ZANOR é psicólogo em West Springfield, Massachusetts (EUA)


Texto Anterior: Derrame continua no topo das causas de morte; homicídio cai para o 4º lugar
Próximo Texto: Pesquisa: Vacina antidengue será testada em SP no próximo ano
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.