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Monitor avisa se doente vai infartar
Aparelho, liberado pela Anvisa para uso comercial, detecta alteração cardíaca com 12 horas de antecedência
Equipamento é indicado apenas para as pessoas com alto risco de isquemia; nos
EUA, a utilização ainda está restrita a pesquisas clínicas
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um novo aparelho implantado próximo ao coração detecta
a falta de oxigênio no músculo
cardíaco e avisa com 12 horas
de antecedência se o paciente
vai infartar ou sofrer uma angina antes mesmo de ele sentir
sintomas relacionados ao infarto, como dor aguda no peito.
Quando detecta a alteração
no coração, o monitor cardíaco,
que se assemelha a um marca-passo, vibra, e um aparelho externo, que fica com o paciente,
emite um bipe. Ao ser avisado,
o indivíduo tem a possibilidade
de se dirigir ao hospital e ser
medicado precocemente.
Aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no ano passado, o aparelho começa a ser vendido no
Brasil, após passar pela fase de
testes clínicos que envolveu,
entre outras instituições, o hospital Dante Pazzanese, em São
Paulo, onde 20 pacientes tiveram o monitor implantado.
A primeira cirurgia fora do
protocolo de pesquisa aconteceu no Hospital Beneficência
Portuguesa, na última segunda-feira. Nos EUA, o aparelho
ainda não foi liberado pela FDA
(agência reguladora da área de
saúde e alimentos) para uso comercial. Só pode ser usado em
pesquisas clínicas.
"O primeiro sinal de que o indivíduo está com isquemia e
que pode infartar é a dor. Mas a
dor ocorre em torno de seis horas antes da necrose, que é o infarto. Nessa fase da dor já existe
o sofrimento do músculo cardíaco e o risco de morte súbita",
explica Silas Galvão, diretor da
clínica de ritmologia cardíaca
do Beneficência Portuguesa de
São Paulo, que realizou a cirurgia.
Segundo ele, até seis horas
antes de o indivíduo sentir dor,
o novo aparelho identifica se
vai ocorrer isquemia. "É como
se fosse um eletrocardiograma
de dentro do coração. Essas alterações são muito mais precoces do que as captadas pelo eletrocardiograma de superfície
[convencional]."
Galvão explica que o novo
método tem um índice baixo de
falso positivo, ou seja, de ser
acionado sem a situação representar uma emergência -em
torno de 8%.
Doente crônico
O aparelho é indicado apenas
para as pessoas com alto risco
de isquemia. "É o paciente coronariano crônico, que já não
tem o que fazer do ponto de vista de intervenção e que está
apresentando isquemia."
É o caso do agricultor Hiroshi Kuzi, 71, o primeiro paciente a receber o aparelho -na última segunda-feira-, após a liberação da Anvisa.
Cardiopata e diabético, ele já
passou por duas pontes de safena para desobstrução das artérias do coração.
"Ele foi submetido ao cateterismo e à angioplastia, e suas
coronárias não podem mais ser
dilatadas. Ele também não possui nenhuma coronária em
bom estado para ser utilizada
em uma ponte de safena", explica o cardiologista Fernando
Costa, que o acompanha.
Como Kuzi mora na zona rural de Valinhos (SP), os médicos optaram por implantar o
aparelho porque, caso ele sofra
um evento cardiovascular, o
monitor vai avisá-lo com tempo suficiente até a chegada ao
hospital mais próximo.
"Agora, estou mais seguro. O
médico disse que, se ocorrer alguma coisa, o aparelho vai vibrar feito um celular. Espero
que ele fique bem quieto."
Na avaliação do cardiologista
José Carlos Pachon, diretor do
serviços de arritmia do HCor
(Hospital do Coração), a proposta do aparelho é interessante, mas ainda é cedo para falar
em uso rotineiro. "Há estudos
ainda sendo feitos. Até por isso
a FDA ainda não o aprovou para a utilização comercial."
Pachon, que também pertence à equipe do Dante Pazzanese
que testou o monitor, afirma
que o aparelho é especialmente
útil para pacientes cardiopatas
diabéticos, como Kuzi. "Eles
costumam não sentir dor durante um infarto."
Para o médico, uma limitação do aparelho é ainda não
funcionar como um desfibrilador, ou seja, detectar uma arritmia cardíaca, por exemplo, e já
solucioná-la com um choque.
"Penso que ele seja uma peça
importante dentro de um sistema maior que deverá ser desenvolvido em conjunto com o desfibrilador cardíaco."
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