São Paulo, terça-feira, 16 de junho de 2009

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Pesquisa da PUC-RS testa célula-tronco em epiléptico

Estudo será apresentado no congresso mundial sobre terapia celular em julho

Pacientes tiveram redução da quantidade de crises e melhora na memória, que costuma ser afetada pela epilepsia do lobo temporal

FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO

Pesquisadores da PUC-RS testaram, com sucesso, um tratamento à base de células-tronco em pacientes com epilepsia. Segundo eles, é a primeira vez que se usa esse tipo de célula para tratar pessoas com o problema no mundo.
O tratamento, ainda em estudo, já foi aplicado, no Instituto do Cérebro da universidade, em oito pacientes com epilepsia do lobo temporal (que afeta, geralmente, o hipocampo, região do cérebro responsável pela memória). Mais dois voluntários estão internados aguardando pelo procedimento e ainda há dez novas vagas. Para ser incluída, a pessoa precisa ter mais de 18 anos e ser refratária à ação de remédios (não melhorar com o uso deles).
Já há dados preliminares sobre o caso de duas pacientes. Até agora, os resultados foram significativos. A primeira delas, que tinha até 12 crises por mês antes do procedimento, teve apenas uma crise isolada nos dez meses em que foi acompanhada após o tratamento.
A outra paciente, que tinha de quatro a seis crises mensais, não teve nenhum evento do tipo nos seis meses de seguimento pós-procedimento.
Nos dois casos, os pesquisadores observaram ainda uma melhora importante na qualidade da memória -função que costuma ser afetada por esse tipo de epilepsia.
O trabalho que trouxe os primeiros resultados foi premiado no 5º Congresso Brasileiro de Cérebro, Comportamento e Emoções, que terminou no sábado, em Gramado (RS), e será apresentado também no Congresso Mundial de Células-Tronco, que será realizado em julho na Espanha.
O estudo está na fase 1 de pesquisas clínicas, que testa a segurança dos procedimentos. Apesar de não haver dados compilados sobre os outros seis pacientes, Maria Julia Carrion, pesquisadora do Instituto do Cérebro da PUC-RS e uma das autoras trabalho, diz que eles estão evoluindo bem.

Mecanismo de ação
Segundo Carrion, ainda não se sabe exatamente como as células-tronco agem nesse caso. "Em estudos experimentais, vimos que elas regeneram a área atrofiada e restabelecem a função perdida", afirma. Nas epilepsias, os neurônios de determinadas regiões apresentam atividade elétrica anormal. Isso pode ocorrer por eles estarem mal posicionados, por terem anormalidades, por falta de neurônios ou por alguma lesão.
Os pesquisadores não sabem dizer ainda se e quando o procedimento será incorporado à prática clínica. "Precisamos consolidar nossos resultados e outros grupos têm que replicar a experiência com sucesso. Ainda temos um longo caminho a percorrer", diz Carrion.
A injeção das células-tronco, retiradas da medula óssea do paciente, foi feita via cateterismo. O único efeito colateral relatado foi uma cefaleia leve que durou alguns dias e que pode estar associada ao cateterismo.
Atualmente, a opção para o paciente refratário a medicamentos é a cirurgia. "O grande diferencial é que essa nova tecnologia é menos invasiva. Não é necessário abrir a cabeça da pessoa e tirar uma parte do cérebro [como acontece na cirurgia], simplesmente mandamos células que poderão reconstituir o circuito que funciona anormalmente", afirma Jaderson Costa da Costa, diretor do Instituto do Cérebro e coordenador da linha de pesquisa na qual foi feito o teste.
Ele diz esperar que, caso a técnica seja consolidada, possa ser usada para tratar epilepsias multifocais refratárias, que não podem ser tratadas com remédios nem com cirurgia.
Para Luciano de Paola, diretor do programa de epilepsia do Hospital de Clínicas da UFPR (Universidade Federal do Paraná), o tratamento traz boas perspectivas, mas ainda é cedo para dizer que ele vai substituir a cirurgia. "Os resultados são promissores. Mas o procedimento terá que se provar extremamente benéfico para ser aceito, pois conseguimos 80% de melhora com a cirurgia para epilepsia do lobo temporal."
O tipo de epilepsia que afeta o lobo temporal é o mais comum em adultos. E o mais associado à refratariedade.


A jornalista Flávia Mantovani viajou a Gramado a convite do 5º Congresso Brasileiro Cérebro, Comportamento e Emoções

>> 70 %
dos epilépticos precisam de apenas um remédio. Entre os outros 30%, de 10% a 15% não respondem a drogas
de 60 %
a 70 %

das epilepsias são localizadas: começam em uma região do cérebro, como a epilepsia do lobo temporal. As demais são consideradas generalizadas

>> 20 anos
costumam transcorrer, em média, entre o início das crises e a avaliação médica de que o paciente deve passar por cirurgia
de 1%
a 2%

da população sofre da doença, de acordo com dados da Associação Brasileira de Epilepsia


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