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Pesquisa da PUC-RS testa célula-tronco em epiléptico
Estudo será apresentado no congresso mundial sobre terapia celular em julho
Pacientes tiveram redução da quantidade de crises e melhora na memória, que costuma ser afetada pela epilepsia do lobo temporal
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Pesquisadores da PUC-RS
testaram, com sucesso, um tratamento à base de células-tronco em pacientes com epilepsia.
Segundo eles, é a primeira vez
que se usa esse tipo de célula
para tratar pessoas com o problema no mundo.
O tratamento, ainda em estudo, já foi aplicado, no Instituto
do Cérebro da universidade,
em oito pacientes com epilepsia do lobo temporal (que afeta,
geralmente, o hipocampo, região do cérebro responsável pela memória). Mais dois voluntários estão internados aguardando pelo procedimento e
ainda há dez novas vagas. Para
ser incluída, a pessoa precisa
ter mais de 18 anos e ser refratária à ação de remédios (não
melhorar com o uso deles).
Já há dados preliminares sobre o caso de duas pacientes.
Até agora, os resultados foram
significativos. A primeira delas,
que tinha até 12 crises por mês
antes do procedimento, teve
apenas uma crise isolada nos
dez meses em que foi acompanhada após o tratamento.
A outra paciente, que tinha
de quatro a seis crises mensais,
não teve nenhum evento do tipo nos seis meses de seguimento pós-procedimento.
Nos dois casos, os pesquisadores observaram ainda uma
melhora importante na qualidade da memória -função que
costuma ser afetada por esse tipo de epilepsia.
O trabalho que trouxe os primeiros resultados foi premiado
no 5º Congresso Brasileiro de
Cérebro, Comportamento e
Emoções, que terminou no sábado, em Gramado (RS), e será
apresentado também no Congresso Mundial de Células-Tronco, que será realizado em
julho na Espanha.
O estudo está na fase 1 de
pesquisas clínicas, que testa a
segurança dos procedimentos.
Apesar de não haver dados
compilados sobre os outros seis
pacientes, Maria Julia Carrion,
pesquisadora do Instituto do
Cérebro da PUC-RS e uma das
autoras trabalho, diz que eles
estão evoluindo bem.
Mecanismo de ação
Segundo Carrion, ainda não
se sabe exatamente como as células-tronco agem nesse caso.
"Em estudos experimentais, vimos que elas regeneram a área
atrofiada e restabelecem a função perdida", afirma. Nas epilepsias, os neurônios de determinadas regiões apresentam
atividade elétrica anormal. Isso
pode ocorrer por eles estarem
mal posicionados, por terem
anormalidades, por falta de
neurônios ou por alguma lesão.
Os pesquisadores não sabem
dizer ainda se e quando o procedimento será incorporado à
prática clínica. "Precisamos
consolidar nossos resultados e
outros grupos têm que replicar
a experiência com sucesso. Ainda temos um longo caminho a
percorrer", diz Carrion.
A injeção das células-tronco,
retiradas da medula óssea do
paciente, foi feita via cateterismo. O único efeito colateral relatado foi uma cefaleia leve que
durou alguns dias e que pode
estar associada ao cateterismo.
Atualmente, a opção para o
paciente refratário a medicamentos é a cirurgia. "O grande
diferencial é que essa nova tecnologia é menos invasiva. Não é
necessário abrir a cabeça da
pessoa e tirar uma parte do cérebro [como acontece na cirurgia], simplesmente mandamos
células que poderão reconstituir o circuito que funciona
anormalmente", afirma Jaderson Costa da Costa, diretor do
Instituto do Cérebro e coordenador da linha de pesquisa na
qual foi feito o teste.
Ele diz esperar que, caso a
técnica seja consolidada, possa
ser usada para tratar epilepsias
multifocais refratárias, que não
podem ser tratadas com remédios nem com cirurgia.
Para Luciano de Paola, diretor do programa de epilepsia do
Hospital de Clínicas da UFPR
(Universidade Federal do Paraná), o tratamento traz boas
perspectivas, mas ainda é cedo
para dizer que ele vai substituir
a cirurgia. "Os resultados são
promissores. Mas o procedimento terá que se provar extremamente benéfico para ser
aceito, pois conseguimos 80%
de melhora com a cirurgia para
epilepsia do lobo temporal."
O tipo de epilepsia que afeta
o lobo temporal é o mais comum em adultos. E o mais associado à refratariedade.
A jornalista Flávia Mantovani viajou a Gramado
a convite do 5º Congresso Brasileiro Cérebro,
Comportamento e Emoções
>> 70 %
dos epilépticos precisam de apenas
um remédio. Entre os outros 30%, de
10% a 15% não respondem a drogas
de 60 %
a 70 %
das epilepsias são localizadas: começam em uma região do cérebro, como
a epilepsia do lobo temporal. As demais são consideradas generalizadas
>> 20 anos
costumam transcorrer, em média, entre o início das crises e a
avaliação médica de que o paciente deve passar por cirurgia
de 1%
a 2%
da população sofre da doença, de
acordo com dados da Associação
Brasileira de Epilepsia
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