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Exame não detecta doença coronária em estágio inicial
Estudo diz que cintilografia não é capaz de prever o risco cardiovascular a longo prazo
O escore de cálcio, exame que avalia a calcificação da placa de gordura, pode ajudar a identificar melhor a chance de evento cardíaco
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
O exame Spect, um tipo de
cintilografia e um dos mais usados para detectar obstruções
nas artérias coronárias, não
diagnostica a doença em estágio inicial. Por isso, sozinho,
não é capaz de prever o risco
cardiovascular a longo prazo,
revela estudo do Methodist
Hospital, no Texas, publicado
no "Journal of the American
College of Cardiology".
O estudo também reforça
que o escore de cálcio, exame
que avalia a calcificação da placa de gordura, pode ajudar a
identificar melhor a chance de
um evento cardiovascular a
longo prazo, como o infarto.
Os dois exames mostram coisas diferentes. Por isso, dizem
os autores, são complementares para medir o risco cardíaco.
O Spect é um exame de imagem que revela o funcionamento do coração, pois indica como
o sangue se distribui no órgão.
Trata-se de um exame de medicina nuclear, que usa um contraste para verificar a irrigação
do músculo cardíaco. Quando
há obstruções, áreas ficam sem
receber sangue.
"O Spect é o exame de imagem cardiovascular avançada
mais utilizado para detecção de
obstruções coronárias. Porém,
o artigo mostra bem que ele é limitado pois detecta a doença
apenas quando está avançada",
diz o cardiologista Juliano de
Lara Fernandes, pesquisador
da Universidade Estadual de
Campinas, em São Paulo.
O escore de cálcio, por sua
vez, é obtido por meio de uma
tomografia convencional. A
presença de cálcio nas artérias
é sinal da placa de gordura.
Para chegar ao resultado, os
pesquisadores acompanharam
durante sete anos 1.126 pessoas
sem sintomas e sem histórico
de doença cardiovascular. Todos haviam sido submetidos
aos dois exames.
Placas
Pacientes com baixo risco no
Spect mas com altos níveis de
cálcio tiveram uma chance três
vezes maior de sofrer um evento cardiovascular no período do
estudo. Em alguns casos, segundo os autores, o resultado
normal no Spect pode dar uma
falsa sensação de segurança.
Isso acontece porque a placa
pode começar a se formar ainda
na infância. "No início, ela é
uma doença da parede da artéria, e não da luz do vaso, já que a
placa cresce para fora", explica
Raul Dias dos Santos Filho, diretor do departamento de aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Com o tempo, as placas vão
crescendo e produzindo uma
inflamação. O depósito de cálcio é uma consequência desse
processo. "Quanto mais cálcio,
maior a chance de um evento
agudo ou mesmo de morrer",
diz Santos. "O escore de cálcio
detecta a doença numa fase
mais inicial, quando é possível
propor terapias preventivas.
Além disso, custa seis vezes
menos e tem um décimo da radiação", completa Fernandes.
Muitos autores sugerem que
o escore de cálcio deveria servir
como uma espécie de triagem
para pessoas de risco intermediário. Só deveria fazer Spect
quem apresentasse altos níveis
de cálcio.
"Ele pode ser indicado para
pessoas que têm chance de ter a
doença, mas não apresentam
sintomas", explica Ibraim Pinto, médico do serviço de diagnóstico por imagem do Hospital do Coração, em São Paulo.
Se o resultado for moderado, é
possível mudar a conduta clínica, adotando remédios e mudanças no estilo de vida. "Isso
ainda não é rotina, mas o estudo reforça esse tipo de recomendação", avalia Santos.
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