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Jovens ingerem 50% do cálcio necessário
Estudos em várias cidades mostram que adolescentes têm déficit do nutriente; carência pode acelerar osteoporose
A falta de cálcio é uma das principais preocupações em saúde alimentar nessa fase, ao lado da carência de ferro e do excesso de calorias
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Estudos em diferentes cidades do Brasil mostram que os
adolescentes consomem só
metade do valor de cálcio recomendado por dia. Um dos trabalhos, feito com dados de 206
adolescentes de Indaiatuba
(SP) e apresentado como tese
de doutorado na USP, aponta
que o consumo médio do nutriente é de 680 mg diários -o
indicado são 1.300 mg. O estudo será publicado no "Journal
of Adolescent Health".
Uma outra pesquisa, que englobou dados de 1.250 adolescentes de escolas públicas de
cinco cidades -Campinas, Piracicaba e Piedade (SP), Toledo
(PR) e Seropédica (RJ)- , também aponta o mesmo déficit no
consumo de cálcio. "A grande
preocupação é que os problemas não surgem agora. Mas daqui a dez ou 20 anos teremos
adultos jovens com osteoporose", diz a nutricionista Rozane
Bleil, responsável pelo levantamento de dados em Toledo.
As causas para a deficiência
são a substituição dos laticínios
-principais fontes de cálcio-
por refrigerantes e sucos artificiais e a falta do café da manhã,
quando a ingestão de laticínios
é mais comum. "Nessa fase, as
pessoas dormem mais e almoçam direto. Ou, então, acordam
atrasadas e comem na escola
alimentos menos saudáveis",
analisa a nutricionista Bárbara
Peters, responsável pelo estudo
da USP e pesquisadora do Ambulatório de Fragilidades Ósseas da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo).
Entre os adolescentes avaliados por Peters, os que tomavam
café da manhã apresentaram as
menores deficiências.
Para o hebiatra Benito Lourenço, do Instituto da Criança
do Hospital das Clínicas de São
Paulo, a falta de cálcio é uma
das principais preocupações
em saúde alimentar do adolescente, ao lado da carência de
ferro e da ingestão excessiva de
calorias. "Nosso problema é garantir que a deposição de cálcio
ocorra de maneira perfeita nessa fase, período de maior incorporação nos ossos", diz.
É na adolescência que se forma boa parte do volume dos ossos para toda a vida -o pico de
massa óssea ocorre entre os 20
e os 30 anos. Uma dieta deficiente em cálcio contribui para
um pico mais baixo e aumenta
as chances de o indivíduo desenvolver osteoporose.
"A população está envelhecendo, e estamos chegando à
terceira idade piores. Acho que
haverá casos mais precoces de
osteoporose, especialmente
mulheres com qualidade óssea
muito ruim na menopausa,
porque tiveram uma adolescência malcuidada em termos
alimentares", alerta a endocrinologista Marise Castro, chefe
do Setor de Doenças Osteometabólicas da Unifesp.
Outras deficiências
O trabalho da USP também
constatou baixos níveis de vitamina D no sangue dos adolescentes. Esse nutriente tem a
função de fixar o cálcio ingerido
nos ossos, o que agrava ainda
mais a carência do mineral. "Isso tem sido observado. Fizemos um trabalho com 120 trabalhadores jovens e estudantes
de medicina; 20% tinham deficiência grave de vitamina D e
40% estavam abaixo do valor
saudável", acrescenta Castro.
A deficiência é atribuída, pelos pesquisadores, à falta de sol,
já que a maior parte da vitamina é sintetizada pelo organismo
com a ajuda da luz solar.
O trabalho nas cinco cidades
ainda constatou baixa ingestão
de vitamina A e de fibras. "É
imprescindível o estímulo ao
consumo de frutas e hortaliças.
Ele é muito reduzido, mesmo
em famílias com maiores rendimentos. Assim, seriam consumidos juntos cálcio, vitaminas e fibras", diz Marina Vieira
da Silva, professora da Esalq
(Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP, e
coordenadora do estudo.
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