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Antibiótico deve ter venda controlada a partir de setembro
Anvisa inicia processo hoje, ao publicar consulta pública; 40% das drogas consumidas são dessa classe
Além da exigência da receita, farmácias serão obrigadas a recolher dados, como o nome do médico que prescrever
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
inicia hoje o processo para
tornar os antibióticos de venda controlada no país, com
registro obrigatório dos dados da receita médica.
Uma consulta pública com
o detalhamento da medida
será publicada no "Diário
Oficial da União". Segundo a
presidência, a consulta terá
"30 dias improrrogáveis" e, a
partir de setembro, a nova regra passará a valer.
Hoje, 40% dos remédios
consumidos no Brasil são antibióticos. Só em 2008, a venda desses remédios movimentou R$ 760 milhões, com
mais de 70 milhões de unidades comercializadas, segundo o IMS Health.
O sistema proposto pela
Anvisa será parecido com o
controle que existe hoje para
os psicotrópicos. Além da
exigência da receita (que já é
obrigatória, mas, na prática,
não é pedida), as farmácias
serão obrigadas a recolher
dados da prescrição. Ainda
não se sabe se a receita será
retida ou apenas carimbada.
Nos EUA e na Europa, esse tipo de controle já existe.
Cinco tipos de antibiótico
mais vendidos (ampicilina,
amoxilina, sulfametoxazol +
trimetoprima, cefalexina e
azitromicina) terão um controle ainda mais rigoroso,
com notificação eletrônica às
vigilâncias sanitárias por
meio do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Produtos
Controlados.
REGISTRO
Farmácias e drogarias serão obrigadas a registrar os
dados relativos a cada venda, como a quantidade e o
nome do médico que fez a
prescrição da droga.
Segundo Dirceu Raposo de
Mello, diretor-presidente da
Anvisa, com esse controle, a
ideia é coibir o exagero de
prescrições e a venda indiscriminada desse tipo de medicamento pelas farmácias.
"Usa-se muito mais antibiótico do que é necessário no
país. As pessoas compram
antibiótico sem receita, sem
o menor problema."
Ano passado, pesquisa do
Conselho Regional de Farmácia de São Paulo mostrou
que 68% das farmácias paulistas admitem já ter vendido
antibióticos sem prescrição.
Mello diz que o uso abusivo desses medicamentos tem
criado uma resistência microbiana. "Os antibióticos de
primeira linha não fazem
mais efeito. Muitas vezes, o
quadro se agrava, o paciente
vai para internação e tem que
usar drogas mais caras."
A resistência microbiana
piora o quadro infeccioso do
paciente e reduz a eficácia do
tratamento, explica o infectologista Juvêncio Furtado,
professor da Faculdade de
Medicina do ABC.
"Os micro-organismos desenvolvem mutações e se tornam resistentes ao antibiótico, tornando necessárias
drogas mais caras e tóxicas."
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