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ANÁLISE
Medida é necessária, mas não basta para vencer a luta contra as bactérias
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
A ideia de controlar melhor a venda de antibióticos
não é nova. O Ministério da
Saúde já flertou com ela em
mais de uma ocasião, mas
acabou recuando por motivos que vão do despreparo
do SUS para lidar com o inevitável aumento da demanda
à pressão de farmácias e laboratórios que não querem
ver suas vendas reduzidas.
Em termos de racionalidade do sistema, porém, a medida é necessária, embora insuficiente, como explicou
Helio Sader, professor de infectologia da Universidade
de Iowa (EUA).
Para fazer sentido, ela deveria ser acompanhada de
muitas outras iniciativas, como controle mais rigoroso da
qualidade dos genéricos no
mercado e, especialmente,
novas rotinas hospitalares
que promovam a antissepsia.
O propósito é evitar o surgimento de cepas de bactérias que não respondem a antibióticos. Essa é uma batalha vital em que estamos sendo derrotados. A capacidade
dos micróbios de criar mecanismos de resistência é maior
que a nossa de desenvolver
novas classes de remédios.
O processo pelo qual micro-organismos desenvolvem resistência é complexo.
Começa na comunidade,
com o uso pouco criterioso
dos antibióticos (inclusive
quando receitados por médicos), e acaba nos hospitais,
onde falhas humanas se somam a fatalidades biológicas
para perpetuar colônias imunes às drogas conhecidas.
Ao tomar um antibiótico
mal prescrito, o paciente acaba selecionando linhagens
de bactérias com maior resistência natural à droga.
Genéricos que economizam no princípio ativo e doses menores do que as necessárias agravam o problema.
Como as infecções típicas da
comunidade não são muito
graves, o fenômeno passa relativamente despercebido.
Um dia, entretanto, esse
paciente vai parar no hospital, onde deixa exemplares
de sua flora mais resistente.
Bactérias, mesmo não aparentadas, têm a capacidade
de trocar entre si fragmentos
de DNA (plasmídeos), inclusive os genes responsáveis
pela resistência. É nesse ambiente promíscuo que se forjam as superbactérias.
Esse fenômeno da resistência, presidido pela seleção natural, é a prova definitiva e às vezes fatal de que
Charles Darwin estava certo.
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