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Terapia precoce de Aids reduz mortes
Antecipação do tratamento com coquetel antiviral diminui em 75% o risco de óbito, diz estudo feito no Haiti
Diagnóstico tardio é um problema no Brasil, que tem 630 mil portadores do vírus, mas 255 mil ainda não sabem disso
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
O tratamento precoce com
o coquetel antiviral reduz em
75% o risco de morte de pacientes com HIV. Também
cai em 50% o diagnóstico de
novos casos de tuberculose,
doença que mais mata os soropositivos brasileiros.
A conclusão é de um estudo controlado inédito publicado no "New England Journal of Medicine". No Brasil,
43% dos soropositivos iniciam a terapia tardiamente-
quando a contagem das células de defesa do organismo
(CD4) está muito baixa.
O nível de CD4 e o teste de
carga viral (que mede quantidade de HIV no sangue) são
os exames mais usados para
decidir o início da terapia
com os antirretrovirais, que
inibem a reprodução do HIV.
O recente estudo, feito no
Haiti, endossa o que outros
trabalhos observacionais já
tinham constatado: para reduzir as mortes, a terapia deve ser iniciada com o CD4
menor que 350 células por
milímetro cúbico de sangue.
Em abril, o Brasil passou a
adotar esse critério, a exemplo do que fazem os países
europeus. Antes, a terapia
era indicada quando o CD4
estava próximo a 200. Nos
EUA, preconiza-se o tratamento ainda mais precoce,
com o CD4 abaixo de 500 ou
tão logo a pessoa descubra
ser soropositiva.
DEFESA BAIXA
O principal problema no
país, porém, é o diagnóstico
tardio. Cerca de 630 mil brasileiros são portadores do vírus HIV, mas 255 mil ainda
não sabem disso, segundo o
Ministério da Saúde.
"As pessoas já chegam
doentes ou com CD4 baixíssimo nos serviços. Temos os
medicamentos, temos uma
recomendação atualizada à
luz dos estudos mais recentes, mas uma grande parte
dos pacientes não se beneficia disso", diz Mário Scheffer, presidente do Grupo Pela
Vidda-SP e membro do grupo
de consenso terapêutico de
Aids do Ministério da Saúde.
Segundo ele, há dois fatores que levam ao atraso no
diagnóstico: a testagem anti-HIV é falha e a cobertura do
teste rápido para a detecção
do vírus ainda é "medíocre".
O infectologista Caio Rosenthal, do Instituto Emílio
Ribas, explica que a maioria
dos pacientes descobre o HIV
quando procura o serviço de
saúde em razão de outra
doença (neurotoxoplasmose
e tuberculose, por exemplo)
ou, no caso das mulheres, de
gravidez.
"Os médicos precisam ter
a cultura de solicitar o teste
de HIV aos pacientes. E são
necessárias mais campanhas
para alertar a população sobre a importância da testagem", afirma Rosenthal.
ANTECIPAÇÃO
Mudanças na antecipação
do tratamento anti-HIV são
sempre vistas com cautela.
Como a infecção por HIV é
uma doença crônica incurável, é preciso levar em conta
os riscos de toxicidade, as falhas na adesão e a resistência
do vírus às drogas.
"Embora alguns países desenvolvidos indiquem [a terapia] abaixo de 500, entendemos que, para a nossa realidade, está correto o critério
de CD4 abaixo de 350 e carga
viral acima de 10 mil para início da terapia", diz o médico.
No trabalho no Haiti, os
pesquisadores avaliaram 816
soropositivos assintomáticos, com CD4 de 280 por milímetro cúbico de sangue. Metade do grupo iniciou o tratamento duas semanas após o
diagnóstico e a outra metade
teve de esperar a contagem
de CD4 chegar a 200.
O estudo durou 21 meses e
teve de ser interrompido por
razões éticas óbvias: o adiamento da terapia havia quadruplicado o risco de morte
no grupo que demorou mais
para iniciar o tratamento.
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