São Paulo, sexta-feira, 20 de março de 2009

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Estudo reduz tempo de segurança da terapia hormonal

Trabalho que analisou mais de 68 mil mulheres conclui que período seguro para a utilização da TRH é de dois anos

Pesquisa de 2002 apontava que risco para câncer de mama surgia após cinco anos de uso combinado de estrógeno e progesterona

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um novo estudo da Sociedade Americana de Câncer com 68.369 mulheres na pós-menopausa reduz o período de segurança para o uso da TRH (Terapia de Reposição Hormonal) combinada (estrógeno mais progesterona) de cinco para dois anos. A utilização além desse tempo aumenta o risco de câncer de mama, segundo a pesquisa, que foi publicada na revista "Cancer" deste mês.
O estudo WHI (Womens's Health Initiative), de 2002, patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA, havia demonstrado que a TRH composta por estrógeno e progesterona aumentava o risco de câncer de mama -em relação àquela que só leva estrógeno-, mas apontava que ele surgia após cinco anos de uso. Trabalhos anteriores diziam que dez anos era um período seguro.
A terapia de reposição hormonal é utilizada para aliviar os sintomas da menopausa, especialmente os calores e suores, que afetam 75% das mulheres nessa fase da vida. Também previnem a osteoporose.
Nesse novo estudo, os epidemiologistas avaliaram o histórico de mulheres na pós-menopausa que estavam livres do câncer em 1992 e as seguiram até 2005. Eles examinaram o uso exclusivo de estrógeno e da combinação de estrógeno e progesterona, a duração do tratamento e os riscos do desenvolvimento de dois tipos de câncer de mama (o ductal invasivo e o lobular carcinoma).
Além de confirmar que drogas com estrógeno e progesterona aumentam o risco desses dois tipos de câncer, eles também verificaram que a maior chance de desenvolvimento do tumor ocorria após três anos de início da terapia hormonal. Os pesquisadores concluíram, então, que dois anos pode ser um período seguro para o uso das terapias hormonais com estrógeno e progesterona.
O câncer de mama depende de hormônio. Por isso, a TRH pode estimular a proliferação de células com genes suscetíveis ao câncer ou acelerar neoplasias pré-existentes.
Para o ginecologista César Eduardo Fernandes, presidente do conselho científico da Sociedade Brasileira do Climatério, o novo estudo tem valor pelo número de pacientes investigadas e pelo tempo de acompanhamento. Em 13 anos de observação das mulheres, os pesquisadores registraram 1.821 casos de câncer de mama ductal invasivo e outros 471 casos de câncer lobular invasivo ou lobular misto.
Fernandes afirma que outros estudos já sugeriam a existência de um "tempo de latência" -período necessário para que os hormônios exerçam seus efeitos sobre as células mamárias- para que o risco de câncer se manifeste após o início do tratamento e também que havia um tempo de espera para que o risco desaparecesse após a sua interrupção.
O médico pontua ainda que o tempo de espera para que o risco desapareça após a interrupção do tratamento também foi menor do que o observado nos estudos anteriores. "Esse tempo era de cinco anos e, segundo esse estudo, parece ser de dois a três anos."

Sob medida
Segundo ele, a TRH não deve ser usada de forma indiscriminada e aleatória, devendo ajustar-se às necessidades de cada mulher. "A reposição hormonal é o tipo de tratamento sob medida. Ele apresenta várias opções e deve ser adequado ao perfil de cada paciente."
Para o mastologista José Luiz Bevilacqua, as mulheres devem considerar os riscos da TRH antes de iniciá-la e avaliar, com o ginecologista, a possibilidade de aliviar os sintomas da menopausa com medicamentos não hormonais.
Na avaliação do oncologista Antonio Carlos Buzaid, diretor-geral do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, o estudo pode ajudar os médicos a convencerem suas pacientes a não estenderem a terapia de reposição hormonal para além de dois anos.
"Mas tem paciente que, mesmo sabendo do risco, prefere aceitá-lo a parar a reposição. Não é fácil para elas ficar sem os hormônios. A qualidade de vida é melhor, especialmente em relação à pele e à vida sexual [os hormônios repõem a elasticidade da pele e há maior lubrificação vaginal]."


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