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Estudo reduz tempo de segurança da terapia hormonal
Trabalho que analisou mais de 68 mil mulheres conclui que período seguro para a utilização da TRH é de dois anos
Pesquisa de 2002 apontava
que risco para câncer de
mama surgia após cinco
anos de uso combinado de
estrógeno e progesterona
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um novo estudo da Sociedade Americana de Câncer com
68.369 mulheres na pós-menopausa reduz o período de segurança para o uso da TRH (Terapia de Reposição Hormonal)
combinada (estrógeno mais
progesterona) de cinco para
dois anos. A utilização além
desse tempo aumenta o risco
de câncer de mama, segundo a
pesquisa, que foi publicada na
revista "Cancer" deste mês.
O estudo WHI (Womens's
Health Initiative), de 2002, patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA, havia
demonstrado que a TRH composta por estrógeno e progesterona aumentava o risco de câncer de mama -em relação
àquela que só leva estrógeno-,
mas apontava que ele surgia
após cinco anos de uso. Trabalhos anteriores diziam que dez
anos era um período seguro.
A terapia de reposição hormonal é utilizada para aliviar os
sintomas da menopausa, especialmente os calores e suores,
que afetam 75% das mulheres
nessa fase da vida. Também
previnem a osteoporose.
Nesse novo estudo, os epidemiologistas avaliaram o histórico de mulheres na pós-menopausa que estavam livres do
câncer em 1992 e as seguiram
até 2005. Eles examinaram o
uso exclusivo de estrógeno e da
combinação de estrógeno e
progesterona, a duração do tratamento e os riscos do desenvolvimento de dois tipos de
câncer de mama (o ductal invasivo e o lobular carcinoma).
Além de confirmar que drogas com estrógeno e progesterona aumentam o risco desses
dois tipos de câncer, eles também verificaram que a maior
chance de desenvolvimento do
tumor ocorria após três anos de
início da terapia hormonal. Os
pesquisadores concluíram, então, que dois anos pode ser um
período seguro para o uso das
terapias hormonais com estrógeno e progesterona.
O câncer de mama depende
de hormônio. Por isso, a TRH
pode estimular a proliferação
de células com genes suscetíveis ao câncer ou acelerar neoplasias pré-existentes.
Para o ginecologista César
Eduardo Fernandes, presidente do conselho científico da Sociedade Brasileira do Climatério, o novo estudo tem valor pelo número de pacientes investigadas e pelo tempo de acompanhamento. Em 13 anos de observação das mulheres, os pesquisadores registraram 1.821
casos de câncer de mama ductal invasivo e outros 471 casos
de câncer lobular invasivo ou
lobular misto.
Fernandes afirma que outros
estudos já sugeriam a existência de um "tempo de latência"
-período necessário para que
os hormônios exerçam seus
efeitos sobre as células mamárias- para que o risco de câncer
se manifeste após o início do
tratamento e também que havia um tempo de espera para
que o risco desaparecesse após
a sua interrupção.
O médico pontua ainda que o
tempo de espera para que o risco desapareça após a interrupção do tratamento também foi
menor do que o observado nos
estudos anteriores. "Esse tempo era de cinco anos e, segundo
esse estudo, parece ser de dois a
três anos."
Sob medida
Segundo ele, a TRH não deve
ser usada de forma indiscriminada e aleatória, devendo ajustar-se às necessidades de cada
mulher. "A reposição hormonal
é o tipo de tratamento sob medida. Ele apresenta várias opções e deve ser adequado ao
perfil de cada paciente."
Para o mastologista José
Luiz Bevilacqua, as mulheres
devem considerar os riscos da
TRH antes de iniciá-la e avaliar,
com o ginecologista, a possibilidade de aliviar os sintomas da
menopausa com medicamentos não hormonais.
Na avaliação do oncologista
Antonio Carlos Buzaid, diretor-geral do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, o
estudo pode ajudar os médicos
a convencerem suas pacientes
a não estenderem a terapia de
reposição hormonal para além
de dois anos.
"Mas tem paciente que, mesmo sabendo do risco, prefere
aceitá-lo a parar a reposição.
Não é fácil para elas ficar sem
os hormônios. A qualidade de
vida é melhor, especialmente
em relação à pele e à vida sexual
[os hormônios repõem a elasticidade da pele e há maior lubrificação vaginal]."
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