São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2010

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ANÁLISE

Iniciativa é bem-vinda, mas chega com atraso ao Brasil

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Fora do Brasil, estudos sobre a forma de dar más notícias a pacientes e seus familiares remontam aos anos 50, quando um diagnóstico de câncer era sinônimo de sentença de morte.
De lá para cá, acumularam-se importantes avanços na medicina, que, entretanto, não diminuíram a necessidade de comunicar prognósticos difíceis.
Nesse contexto, é bem-vinda a iniciativa do Inca e do Hospital Albert Einstein de oferecer aos profissionais de saúde brasileiros uma publicação com vistas a prepará-los para essas situações.
Na verdade, ela chega até com um certo atraso. O protocolo Spikes, programa de seis passos que se tornou referência na área, já completou uma década de vida.
A ideia central do Spikes é que a maioria dos pacientes deseja ter informações precisas sobre seu estado de saúde, mesmo que elas não sejam favoráveis.
Cabe ao médico sondar o doente ou seus familiares para descobrir quanta informação estão dispostos a receber e transmiti-la de modo compreensível e empático. Lidar da melhor forma possível com a torrente de emoções que esse tipo de notícia provoca é a chave do processo.
A boa notícia é que há vários trabalhos mostrando que a capacidade de dar más notícias é algo que pode ser ensinado e que melhora com a prática. Os ganhos daí decorrentes valem tanto para os pacientes, que têm seus desejos respeitados, como para os médicos. Reduzir a carga de estresse nessas situações costuma resultar em carreiras mais longas.
A discussão agora é introduzir o treinamento nos cursos de graduação. Seria uma medida sábia. O envelhecimento da população e a dinâmica dos avanços científicos -em geral a capacidade de diagnosticar e prognosticar antecede a de tratar- sugerem que precisaremos cada vez mais de médicos preparados para dar más notícias.


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