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ANÁLISE
Iniciativa é bem-vinda, mas chega com atraso ao Brasil
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Fora do Brasil, estudos sobre a forma de dar más notícias a pacientes e seus familiares remontam aos anos 50,
quando um diagnóstico de
câncer era sinônimo de sentença de morte.
De lá para cá, acumularam-se importantes avanços
na medicina, que, entretanto, não diminuíram a necessidade de comunicar prognósticos difíceis.
Nesse contexto, é bem-vinda a iniciativa do Inca e do
Hospital Albert Einstein de
oferecer aos profissionais de
saúde brasileiros uma publicação com vistas a prepará-los para essas situações.
Na verdade, ela chega até
com um certo atraso. O protocolo Spikes, programa de
seis passos que se tornou referência na área, já completou uma década de vida.
A ideia central do Spikes é
que a maioria dos pacientes
deseja ter informações precisas sobre seu estado de saúde, mesmo que elas não sejam favoráveis.
Cabe ao médico sondar o
doente ou seus familiares para descobrir quanta informação estão dispostos a receber
e transmiti-la de modo compreensível e empático. Lidar
da melhor forma possível
com a torrente de emoções
que esse tipo de notícia provoca é a chave do processo.
A boa notícia é que há vários trabalhos mostrando
que a capacidade de dar más
notícias é algo que pode ser
ensinado e que melhora com
a prática. Os ganhos daí decorrentes valem tanto para
os pacientes, que têm seus
desejos respeitados, como
para os médicos. Reduzir a
carga de estresse nessas situações costuma resultar em
carreiras mais longas.
A discussão agora é introduzir o treinamento nos cursos de graduação. Seria uma
medida sábia. O envelhecimento da população e a dinâmica dos avanços científicos
-em geral a capacidade de
diagnosticar e prognosticar
antecede a de tratar- sugerem que precisaremos cada
vez mais de médicos preparados para dar más notícias.
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