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Crise financeira faz ONG Doutores da Alegria parar ações em hospitais no Rio
Julia Moraes/Folha Imagem
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O coordenador-geral da ONG, Wellington Nogueira
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
O ano de 2009 começou
mais triste em cinco hospitais do Rio de Janeiro. As visitas dos palhaços dos Doutores da Alegria, que divertiam os pacientes com seus
narizes vermelhos duas vezes por semana, foram suspensas na cidade. A interrupção foi decidida depois que a
crise internacional ligou o sinal de alerta na ONG.
"A crise faz com que tenhamos que ser mais objetivos", diz o coordenador-geral dos autodenominados
"doutores em besteirologia",
Wellington Nogueira. Ele diz
que, antes da desaceleração
da economia, a entidade previa arrecadar R$ 6,6 milhões
em 2009. Agora, a perspectiva é de R$ 5,2 milhões.
O corte de 20%, que deixou
a ONG com menos recursos
do que no ano passado, acabou intensificando um processo de revisão das atividades que, segundo Nogueira,
já estava em curso. "Há muito tempo éramos questionados sobre nossa inserção no
Rio. Fizemos uma avaliação
interna, com base nessas demandas, e entendemos que o
modelo que tínhamos construído não era sustentável."
A decisão frustrou a chefe
do serviço de pediatria do
Hospital Geral de Bonsucesso, na zona norte do Rio. "Por
sermos um hospital de alta
complexidade, muitas crianças ficam meses internadas e
criam vínculos com os palhaços. Elas estão sentindo muito [a ausência deles]", diz
Ivany Yparraguirre, para
quem as visitas ajudavam a
melhorar a resposta dos pacientes ao tratamento.
Na avaliação de Nogueira,
a pausa foi "uma decisão dura, mas necessária". Das quatro unidades nacionais, o Rio
era a que apresentava a pior
relação custo-benefício. Segundo ele, a forma como a
entidade se estruturou na cidade não estava "sensibilizando" os patrocinadores.
Ele explica que o Rio é o
único local onde a ONG surgiu a partir da absorção de
um outro grupo. Durante
muito tempo, a união com os
artistas dos Doutores Palhaços rendeu frutos. Recentemente, porém, a coordenação avaliou que os grupos
iam em direções opostas. Enquanto, nas demais cidades,
havia o conceito do "palhaço
empreendedor", que se envolve mais diretamente com
a parte administrativa, no
Rio a situação era diferente.
"O grupo foi mostrando
uma vontade de atuar de forma mais específica nos hospitais [...] e de ter mais liberdade para poder criar e se
apresentar", explica Nogueira. "Entendemos que era melhor encerrar essa relação."
Ele ressalta, porém, que isso não significa o fim dos
Doutores da Alegria na cidade. Até o final do ano, a ONG
pretende retomar as visitas a
hospitais e centros de saúde
cariocas. Para isso, desenvolve um novo modelo, baseado
em um amplo estudo sobre o
panorama da saúde local.
"Fizemos isso em Belo Horizonte e Recife e entramos
de maneira muito mais certeira", explica Nogueira, citando as cidades, além de São
Paulo, onde a ONG também
está presente.
A entidade estuda a possibilidade de parcerias com
outras organizações da sociedade civil, o que pode levar a mudanças mais amplas
em sua estrutura. "A crise é
um momento de parar, pensar, unir esforços e otimizar
recursos. A gente não pode
ficar isolado", afirma.
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