São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

foco

Crise financeira faz ONG Doutores da Alegria parar ações em hospitais no Rio

Julia Moraes/Folha Imagem
O coordenador-geral da ONG, Wellington Nogueira

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

O ano de 2009 começou mais triste em cinco hospitais do Rio de Janeiro. As visitas dos palhaços dos Doutores da Alegria, que divertiam os pacientes com seus narizes vermelhos duas vezes por semana, foram suspensas na cidade. A interrupção foi decidida depois que a crise internacional ligou o sinal de alerta na ONG.
"A crise faz com que tenhamos que ser mais objetivos", diz o coordenador-geral dos autodenominados "doutores em besteirologia", Wellington Nogueira. Ele diz que, antes da desaceleração da economia, a entidade previa arrecadar R$ 6,6 milhões em 2009. Agora, a perspectiva é de R$ 5,2 milhões.
O corte de 20%, que deixou a ONG com menos recursos do que no ano passado, acabou intensificando um processo de revisão das atividades que, segundo Nogueira, já estava em curso. "Há muito tempo éramos questionados sobre nossa inserção no Rio. Fizemos uma avaliação interna, com base nessas demandas, e entendemos que o modelo que tínhamos construído não era sustentável."
A decisão frustrou a chefe do serviço de pediatria do Hospital Geral de Bonsucesso, na zona norte do Rio. "Por sermos um hospital de alta complexidade, muitas crianças ficam meses internadas e criam vínculos com os palhaços. Elas estão sentindo muito [a ausência deles]", diz Ivany Yparraguirre, para quem as visitas ajudavam a melhorar a resposta dos pacientes ao tratamento.
Na avaliação de Nogueira, a pausa foi "uma decisão dura, mas necessária". Das quatro unidades nacionais, o Rio era a que apresentava a pior relação custo-benefício. Segundo ele, a forma como a entidade se estruturou na cidade não estava "sensibilizando" os patrocinadores.
Ele explica que o Rio é o único local onde a ONG surgiu a partir da absorção de um outro grupo. Durante muito tempo, a união com os artistas dos Doutores Palhaços rendeu frutos. Recentemente, porém, a coordenação avaliou que os grupos iam em direções opostas. Enquanto, nas demais cidades, havia o conceito do "palhaço empreendedor", que se envolve mais diretamente com a parte administrativa, no Rio a situação era diferente.
"O grupo foi mostrando uma vontade de atuar de forma mais específica nos hospitais [...] e de ter mais liberdade para poder criar e se apresentar", explica Nogueira. "Entendemos que era melhor encerrar essa relação."
Ele ressalta, porém, que isso não significa o fim dos Doutores da Alegria na cidade. Até o final do ano, a ONG pretende retomar as visitas a hospitais e centros de saúde cariocas. Para isso, desenvolve um novo modelo, baseado em um amplo estudo sobre o panorama da saúde local.
"Fizemos isso em Belo Horizonte e Recife e entramos de maneira muito mais certeira", explica Nogueira, citando as cidades, além de São Paulo, onde a ONG também está presente.
A entidade estuda a possibilidade de parcerias com outras organizações da sociedade civil, o que pode levar a mudanças mais amplas em sua estrutura. "A crise é um momento de parar, pensar, unir esforços e otimizar recursos. A gente não pode ficar isolado", afirma.


Texto Anterior: Cientistas descobrem nova síndrome genética no RN
Próximo Texto: Novo grupo: Promessa é retomar visitas em fevereiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.