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Droga para deixar de fumar lidera acidentes nos EUA
Medicamento antitabagismo está sendo relacionado a 3.325 incidentes graves, incluindo 112 mortes; Brasil não tem relatos
De acordo com o fabricante, os efeitos relatados em estudo já constam da bula e podem estar associados à síndrome de abstinência
CLÁUDIA COLLUCCI
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de acidentes e
mortes relacionados ao consumo de remédio foi 38% maior
no primeiro trimestre deste
ano, nos EUA, em comparação
com os quatro trimestres anteriores. O remédio mais associado a problemas foi a vareniclina
(Champix), utilizado em tratamentos antitabagismo. No Brasil, a droga está à venda desde o
ano passado.
Os problemas relatados incluem tonturas e perda do controle motor, que teriam levado
pessoas a sofrerem acidentes
de carro e quedas. Há ainda relatos de depressão e pensamentos suicidas. O estudo é baseado
em dados da FDA (agência norte-americana reguladora de alimentos e remédios).
O dado foi divulgado ontem
pelo ISMP (Institute for Safe
Medication Practices), entidade norte-americana sem fins
lucrativos. Segundo o ISMP,
desde que o Champix foi aprovado nos EUA, em 2006, foram
relatados 3.325 incidentes graves, incluindo 112 mortes.
No primeiro trimestre deste
ano, foram registrados 1.001
novos casos em que a droga era
a principal suspeita. No Brasil,
não há relatos de problemas,
segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Para médicos ouvidos pela
Folha, são necessárias mais investigações para saber se os
efeitos adversos decorrem da
medicação ou da própria condição de certos tabagistas, que
têm mais tendência a sofrer de
depressão, por exemplo.
Em maio deste ano, após a divulgação de um relatório do
ISMP sobre o Champix, os departamentos norte-americanos de transporte e de defesa e
a administração de aviação restringiram o uso do remédio. Pilotos e controladores de vôo foram avisados para parar de usar
o remédio imediatamente. A
FDA recebeu uma cópia do relatório na semana passada, mas
ainda não comentou o estudo.
Para a psiquiatra Célia Lídia
da Costa, coordenadora do grupo de apoio ao tabagista do
Hospital A.C. Camargo, é preciso investigar mais para saber se
os problemas podem ser atribuídos à medicação.
"No momento em que a gente está fazendo a cessação [do
tabagismo], a pessoa tem um
risco de entrar em depressão, a
ficar mais ansiosas."
Ela ressalta que o Champix
não é antidepressivo, diferentemente de outros medicamentos indicados a fumantes.
O ISMP também divulgou
dados referentes aos repositores de nicotina e à bupropiona,
um antidepressivo usado como
remédio para parar de fumar.
Os repositores de nicotina, como chicletes e adesivos, foram
associados a problemas em 17
casos, no primeiro trimestre
deste ano. No mesmo período,
não houve nenhum relato de
dano associado ao Zyban, remédio antitabagismo com uma
dosagem específica de bupropiona. Mas, houve 44 relatos de
problemas associados à bupropiona, nos quais não foi identificado o nome comercial do remédio nem a indicação.
Outro lado
O diretor médico da Pfizer
Brasil, João Fittipaldi, afirmou
ontem que os eventos relatados
à FDA são espontâneos e de difícil avaliação. "É difícil saber se
o que foi relatado pelo paciente
é por causa do uso do remédio."
Fitipaldi diz que o medicamento trata vício e, quando se
para de fumar, há efeitos ligados à síndrome de abstinência.
Segundo ele, as informações
sobre os eventos adversos
constam da bula, ainda que não
haja como comprovar a relação
de causa e efeito. "O produto
tem um perfil de segurança e
tolerabilidade muito bom, não
há razão para se preocupar."
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