São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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Droga para deixar de fumar lidera acidentes nos EUA

Medicamento antitabagismo está sendo relacionado a 3.325 incidentes graves, incluindo 112 mortes; Brasil não tem relatos

De acordo com o fabricante, os efeitos relatados em estudo já constam da bula e podem estar associados à síndrome de abstinência

CLÁUDIA COLLUCCI
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de acidentes e mortes relacionados ao consumo de remédio foi 38% maior no primeiro trimestre deste ano, nos EUA, em comparação com os quatro trimestres anteriores. O remédio mais associado a problemas foi a vareniclina (Champix), utilizado em tratamentos antitabagismo. No Brasil, a droga está à venda desde o ano passado.
Os problemas relatados incluem tonturas e perda do controle motor, que teriam levado pessoas a sofrerem acidentes de carro e quedas. Há ainda relatos de depressão e pensamentos suicidas. O estudo é baseado em dados da FDA (agência norte-americana reguladora de alimentos e remédios).
O dado foi divulgado ontem pelo ISMP (Institute for Safe Medication Practices), entidade norte-americana sem fins lucrativos. Segundo o ISMP, desde que o Champix foi aprovado nos EUA, em 2006, foram relatados 3.325 incidentes graves, incluindo 112 mortes.
No primeiro trimestre deste ano, foram registrados 1.001 novos casos em que a droga era a principal suspeita. No Brasil, não há relatos de problemas, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Para médicos ouvidos pela Folha, são necessárias mais investigações para saber se os efeitos adversos decorrem da medicação ou da própria condição de certos tabagistas, que têm mais tendência a sofrer de depressão, por exemplo.
Em maio deste ano, após a divulgação de um relatório do ISMP sobre o Champix, os departamentos norte-americanos de transporte e de defesa e a administração de aviação restringiram o uso do remédio. Pilotos e controladores de vôo foram avisados para parar de usar o remédio imediatamente. A FDA recebeu uma cópia do relatório na semana passada, mas ainda não comentou o estudo.
Para a psiquiatra Célia Lídia da Costa, coordenadora do grupo de apoio ao tabagista do Hospital A.C. Camargo, é preciso investigar mais para saber se os problemas podem ser atribuídos à medicação.
"No momento em que a gente está fazendo a cessação [do tabagismo], a pessoa tem um risco de entrar em depressão, a ficar mais ansiosas."
Ela ressalta que o Champix não é antidepressivo, diferentemente de outros medicamentos indicados a fumantes.
O ISMP também divulgou dados referentes aos repositores de nicotina e à bupropiona, um antidepressivo usado como remédio para parar de fumar. Os repositores de nicotina, como chicletes e adesivos, foram associados a problemas em 17 casos, no primeiro trimestre deste ano. No mesmo período, não houve nenhum relato de dano associado ao Zyban, remédio antitabagismo com uma dosagem específica de bupropiona. Mas, houve 44 relatos de problemas associados à bupropiona, nos quais não foi identificado o nome comercial do remédio nem a indicação.

Outro lado
O diretor médico da Pfizer Brasil, João Fittipaldi, afirmou ontem que os eventos relatados à FDA são espontâneos e de difícil avaliação. "É difícil saber se o que foi relatado pelo paciente é por causa do uso do remédio."
Fitipaldi diz que o medicamento trata vício e, quando se para de fumar, há efeitos ligados à síndrome de abstinência. Segundo ele, as informações sobre os eventos adversos constam da bula, ainda que não haja como comprovar a relação de causa e efeito. "O produto tem um perfil de segurança e tolerabilidade muito bom, não há razão para se preocupar."


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