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Célula-tronco reduz mortalidade em vítima de infarto
Primeira pesquisa com resultados de longo prazo mostra melhora na função cardíaca dos pacientes transplantados
Não se pode dizer que as células formaram músculo cardíaco; ainda é preciso elucidar o mecanismo que garante os efeitos relatados
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
O transplante de células-tronco após infarto melhora a
função cardíaca e diminui a
mortalidade a longo prazo,
mostra o primeiro estudo desse
tipo a acompanhar os pacientes
por um período extenso.
O trabalho, publicado na última edição do "Journal of the
American College of Cardiology", foi conduzido por um
grupo pioneiro de pesquisadores da Universidade de Düsseldorf, na Alemanha.
Os cientistas acompanharam
124 pacientes durante cinco
anos. Todos haviam sofrido um
infarto e tinham sido submetidos a angioplastia (implantação de stents para desobstruir
vasos). Os voluntários puderam escolher se queriam ou
não receber também um transplante de células da medula óssea. Metade dos pacientes não
quiseram passar pelo tratamento e foram considerados o
grupo controle.
O transplante, feito com células do próprio paciente, foi
realizado sete dias após o infarto, em média. Os resultados
após cinco anos mostram que a
função cardíaca melhorou de
51,6% para 56,9% nos que receberam as células. Nos demais
pacientes, ao contrário, a função caiu para 46,9%. No grupo
transplantado, houve apenas
uma morte, contra sete entre
os demais pacientes.
Segundo os pesquisadores,
também foi possível notar que
a melhora na qualidade de vida
dos voluntários que receberam
as células se manteve durante
os cinco anos do estudo.
Marco na pesquisa
"Sem dúvida é um marco",
diz o cardiologista Luis Henrique Gowdak, coordenador clínico dos estudos de terapia celular do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do
InCor (Instituto do Coração).
"Os resultados permitem dizer
que essa terapia é promissora,
embora não sejam dados definitivos", ressalva ele.
"Até agora, não tínhamos dados desse tipo", diz José Eduardo Krieger, diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia
Molecular do InCor.
As pesquisas com células-tronco em pacientes infartados
vêm sendo feitas há quase uma
década e somam quase mil pacientes. Mas esse estudo alemão tem o mérito de mostrar
eficiência e segurança ao longo
do tempo, já que o artigo não
relata nenhum efeito adverso.
Outros estudos tinham testado -sem sucesso- o transplante dois ou três dias após o
infarto ou duas semanas depois. Como as células-tronco
sofrem influência das demais,
acredita-se que, nos primeiros
dias, substâncias inflamatórias
presentes no infarto comprometam os resultados. Depois
de duas semanas, haveria excesso de substâncias envolvidas na cicatrização.
O que os especialistas ainda
não sabem é como as células-tronco agem para promover os
benefícios encontrados. Não é
possível afirmar que houve regeneração do músculo cardíaco. "Dificilmente elas se transformam em células cardíacas",
diz o cardiologista Marcelo
Sampaio, chefe do Laboratório
do Biologia Molecular do Instituto Dante Pazzanese.
Modificações no coração
Mas, mesmo sem formar
miocárdio (músculo cardíaco),
elas devem promover modificações no coração capazes de
melhorar sua função. Uma das
suspeitas é que elas consigam
impedir que mais células do coração morram, atuando numa
região chamada de zona de penumbra. Essa é uma área afetada pelo infarto, com células que
estão em sofrimento, mas que
ainda não morreram. "É possível que as células-tronco formem microvasos lá", acredita
Marcelo Sampaio.
Os voluntários tinham, em
média, 51 anos e 90% deles
eram homens. Apenas 6% eram
diabéticos. "Não sabemos se o
benefício encontrado vale para
uma mulher diabética de 70
anos", exemplifica Gowdak. "É
o melhor resultado que temos
até agora, mas ainda há muitas
caixas-pretas a serem resolvidas", diz Krieger.
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