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Teste prevê sucesso da fertilização in vitro
Novo modelo matemático calcula a probabilidade de uma segunda tentativa de reprodução assistida dar certo
Grupo de especialistas em reprodução humana identificou 52 fatores que podem interferir nas chances de gravidez
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Após uma primeira tentativa malsucedida de fertilização in vitro (FIV), a mulher é
encorajada a tentar uma segunda vez. Se não deu certo,
uma terceira tentativa, dizem
os médicos, pode ser a sua
chance de engravidar.
No entanto, dados razoavelmente objetivos para
quantificar essa chance não
são avaliados.
A situação pode começar a
mudar. Um grupo de especialistas da Universidade
Stanford, nos EUA, desenvolveu um modelo matemático
para calcular a chance de
uma segunda tentativa de
FIV dar certo.
Eles afirmam que os fatores determinantes na reprodução assistida podem e devem ser objeto de investigação científica rigorosa.
Com dados de 1.676 ciclos
de fertilização in vitro realizados entre 2003 e 2006, eles
identificaram 52 fatores que
interferem nas chances de a
gravidez chegar a termo.
São dados como a idade da
mulher e de seu parceiro, índice de massa corporal, níveis hormonais, função ovariana, qualidade do esperma
e do embrião.
A novidade é que a equipe
de Stanford desenvolveu
uma fórmula matemática para, a partir desses dados, calcular se vale a pena repetir o
procedimento.
Na fertilização in vitro, os
óvulos da mulher são coletados e colocados, juntos com
os espermatozoides, em um
tubo de laboratório. Se o óvulo é fecundado, o pré-embrião que começa a se desenvolver no tubo é transferido
para o útero da mãe.
IMPLANTAÇÃO
"O grande entrave é a implantação. Se a evolução [do
embrião] no laboratório foi
boa, mas ele não se implantou no útero, não tem o que
fazer, vamos repetir o processo", diz Dirceu Mendes Pereira, diretor científico da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
Dados tanto do Brasil
quanto dos EUA mostram
que, na primeira tentativa de
fertilização in vitro, aproximadamente 70% das mulheres não conseguem levar a
gravidez adiante.
Para os casais que não
conseguem ter filhos naturalmente, o dilema é desperdiçar uma segunda chance,
qualquer que seja a sua probabilidade, ou enfrentar o
custo físico, emocional e financeiro de um novo procedimento que pode fracassar.
Os criadores do novo modelo para prever o sucesso da
fertilização in vitro acreditam que ele dará elementos
mais objetivos para a decisão
do casal e para a indicação
médica sobre repetir ou não o
procedimento.
Para o ginecologista Flávio
Garcia de Oliveira, membro
da Sociedade Americana de
Medicina Reprodutiva, o modelo criado é uma ferramenta
que pode oferecer um aconselhamento melhor, mas isso
é só o início do caminho.
"É uma ferramenta mais
completa, mas é apenas estatística. Acredito que, nos próximos anos, estudos genéticos e bioquímicos irão identificar com mais precisão o sucesso da implantação", afirma Oliveira.
FÁCIL UTILIZAÇÃO
A vantagem, segundo o ginecologista, é que o modelo é
fácil de ser utilizado e replicado, porque os 52 fatores
usados para o cálculo matemático são dados levantados
quando o procedimento vai
ser feito pela primeira vez.
"Já temos esses dados, e
eles nos dão uma ideia de como será a resposta da paciente. O teste sistematiza essas
informações. Pode ser interessante, mas precisamos ver
como isso funciona na prática", avalia o ginecologista
Ricardo Baruffi, especialista
em reprodução assistida.
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