São Paulo, sábado, 28 de maio de 2011 |
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Medo de vacina Teorias da conspiração e boatos sobre perigos da imunização atrapalham a erradicação do sarampo e da poliomielite RICARDO BONALUME NETO DE SÃO PAULO Boatos, mitos e teorias conspiratórias tornaram-se um dos maiores obstáculos à erradicação de doenças infecciosas como sarampo e poliomielite, para as quais existem vacinas eficazes e seguras. Essa "revolta da vacina" pode atingir tanto países ricos como pobres, segundo dossiê sobre o tema na última edição da "Nature". "O que faz um receio contra uma vacina se instalar? É uma complexa inter-relação de fatores no contexto histórico, social e político de um país", afirma a cientista social Julie Leask, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Sydney, Austrália. Foi assim no Rio de 1904, quando a população se revoltou contra a obrigatoriedade da vacina antivaríola. E o Reino Unido tem dois bons exemplos modernos de "revoltas da vacina". AUTISMO Em 1998, o médico Andrew Wakefield divulgou a noção de que a vacina tríplice contra sarampo, caxumba e rubéola estava ligada ao aumento de casos de autismo. Carismático, ele passava a imagem de um clínico que se importava com as pessoas, em comparação com as autoridades de saúde inflexíveis. A "revolta" contra a vacina tríplice fez a cobertura das crianças cair de 92% em 1996 para 80% em 2004. Na Inglaterra e no País de Gales, o número de casos de sarampo saltou de menos de cem em 2005 para 1.400 em 2008. O contexto em que esse tipo de revolta acontece pode ser ainda mais complexo. Em 2003, os EUA embarcaram na invasão do Iraque, um país muçulmano. Na época, o laboratório Pfizer estava sendo processado nos EUA por supostos procedimentos não éticos em testes clínicos de um antibiótico na Nigéria, lembram dois pesquisadores, Heidi J. Larson e Isaac Ghinai, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. Nesse caldo de cultura, brotou o boato falso de que a vacina contra a poliomielite era uma conspiração americana para disseminar o vírus HIV e causar infertilidade entre muçulmanos. Isso levou ao boicote da vacina na Nigéria, com população predominantemente muçulmana, em 2003. Os casos da doença saltaram ""mais de cinco vezes de 2002 a 2006: de 202 para 1.143. E, mostrando como o combate a doenças deve ser globalizado, foram achadas linhagens do vírus nigeriano da pólio em 15 países ""alguns eram livres da doença. A poliomielite ainda é endêmica no Afeganistão, na Índia, na Nigéria e no Paquistão; foram 1.351 casos no mundo todo em 2010. Os números caíram nos três primeiros países, mas aumentaram 62% no Paquistão. "Asif Ali Zardari, o presidente do Paquistão, realizou uma reunião no mês passado para enfrentar mais um revés para a sua problemática nação. O foco não era nem o ressurgimento da Al-Qaeda, nem as pobres relações diplomáticas com os Estados Unidos ""era a poliomielite", publicou a "Nature" no dossiê. O Paquistão está tentando lidar com o problema agora. Enquanto a doença persistir em um país, nenhuma região do planeta estará segura. Próximo Texto: Imunização contra HIV pode chegar até 2020, diz artigo Índice | Comunicar Erros |
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