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Guia rotula até birra infantil como distúrbio
Nos EUA, cientistas criticam nova edição do manual de diagnósticos de doença mental
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Espécie de bíblia global
dos psiquiatras, o guia americano de saúde mental pode
incluir na nova edição "distúrbios" como birra infantil e
comilança compulsiva.
Em breve ninguém mais
vai ser classificado como normal, disseram profissionais
da área. Em um comunicado,
eles criticaram a atualização
do manual de diagnósticos e
estatísticas da doença mental (DSM, na sigla em inglês),
que valerá para 2013.
Para os especialistas, o
guia pode descaracterizar a
seriedade das doenças mentais, ao diagnosticar quase
tudo como algum distúrbio.
Citando exemplos de novas doenças como "ansiedade depressiva leve", "síndrome de risco de psicose" e
"distúrbio de desregulação
de temperamento", os médicos disseram que pessoas
vistas como saudáveis podem, no futuro, descobrir
que estão "doentes".
Segundo Til Wykes, do
Instituto de Psiquiatria da
Kings College London, as novas diretrizes estreitam demais o conceito de normal.
O DSM é publicado pela
American Psychiatric Association. Seus critérios de
diagnósticos servem de definições claras a profissionais
que tratam pacientes com
doenças mentais e a pesquisadores e laboratórios que
desenvolvem tratamentos.
Wykes e os colegas Felicity
Callard, também do Instituto
de Psiquiatria da Kings College, e Nick Craddock, da Universidade de Cardiff, disseram que muitos psiquiatras
estão preocupados.
"Tecnicamente, com a inclusão de tantos novos distúrbios, todos vamos ter algum", disseram os médicos,
em nota conjunta. "Isso pode
levar à percepção de que todos precisamos de remédios
para tratar nossas "doenças",
e muitas dessas drogas têm
efeitos colaterais desagradáveis ou perigosos."
Os cientistas disseram que
o diagnóstico de "síndrome
de risco de psicose" preocupa, porque pode rotular jovens que têm risco mínimo
de desenvolver a doença.
Os cientistas deram exemplos de revisões anteriores do
DSM, o chamado DSM 4, que
incluiu diagnósticos mais
amplos para transtorno de
deficit de atenção e hiperatividade, autismo e distúrbios
bipolares em crianças.
Isso, segundo eles, contribuiu para três falsas epidemias dessas condições, especialmente nos EUA.
"Na última década, quantos médicos foram pressionados por pais preocupados a
dar remédios como a Ritalina
para crianças que nem precisavam?", questionaram os
pesquisadores.
Milhões de pessoas no
mundo, muitas crianças, tomam remédios contra deficit
de atenção. Só nos EUA, as
vendas somaram US$ 4,8 bilhões em 2008.
Os comentários de Wykes
e Callard sobre os novos critérios para diagnóstico de
doenças mentais saíram no
"Journal of Mental Health".
A American Psychiatric
Association não comentou.
As novas diretrizes devem ser
publicadas em maio de 2013.
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