São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2008

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Nova técnica aprimora cirurgia para Parkinson

Microrregistro cerebral identifica com precisão as células que estão doentes

Hospital Brigadeiro é o primeiro do país a oferecer o procedimento como rotina; custos são cobertos pelo Sistema Único de Saúde

André François
Pacientes de comunidade indígena isolada esperam consulta após serem operados de catarata

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Hospital Estadual Brigadeiro, em São Paulo, é o primeiro do país a oferecer como procedimento de rotina a técnica de microrregistro cerebral para pacientes que têm a doença de Parkinson e terão de passar por cirurgia. O procedimento, que custa cerca de US$ 35 mil, é pago com recursos do SUS (Sistema Único de Saúde).
A metodologia, que chegou ao Brasil há menos de quatro meses, também está sendo testada em pacientes do Hospital São Paulo, vinculado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), e do Hospital Israelita Albert Einstein.
A técnica utiliza um microeletrodo cerca de cem vezes mais fino do que um fio de cabelo para localizar com precisão as células cerebrais (neurônios) doentes e com atividade anormal antes de ser feita a cirurgia. São essas células que provocam os tremores.
Dessa maneira, explicam os neurocirurgiões ouvidos pela Folha, é possível identificar a área exata que vai ser lesionada ou que receberá o implante de um eletrodo, o que amplia em até 50% as chances de sucesso da cirurgia de Parkinson.
"Antes de existir o microrregistro cerebral, os médicos faziam a lesão ou o implante de eletrodo baseados apenas nos resultados dos exames de ressonância magnética [diagnóstico anatômico]. Agora, com o aparelho de microrregistro, o médico é capaz de identificar as células doentes isoladamente, garantindo a precisão", disse o neurocirurgião Arthur Cukiert, do hospital Brigadeiro.
De acordo com Cukiert, desde setembro, sete pacientes passaram pelo procedimento antes de fazer a cirurgia naquele hospital. Destes, quatro tiveram indicação de mudança do local a ser lesionado. "Se você consegue documentar as células doentes, as chances de um bom resultado cirúrgico são maiores. Isso nos permitiu lesionar uma região menor do que a inicialmente prevista em quatro pacientes", disse.
A neurocirurgiã Julieta Gonçalves da Silva, do Hospital São Paulo, disse que a técnica pode ser considerada uma revolução no tratamento da doença. "É uma metodologia extremamente refinada, que permite localizar os neurônios com precisão e de forma mais segura."
Segundo Silva, o Hospital São Paulo está usando a tecnologia ainda em fase experimental, mas o procedimento deve entrar na rotina do hospital em 2009. "O aparelho é muito caro, estamos usando um que foi fornecido em consignação, por isso o procedimento ainda não está disponível para todos."

A doença
O mal de Parkinson é uma doença degenerativa e progressiva e afeta uma região do cérebro conhecida como gânglios da base. Os principais sintomas são rigidez muscular, tremor dos membros e dificuldades de movimento. Estima-se que 1% da população com mais de 50 anos desenvolverá a doença.
Segundo Cukiert, em 85% dos casos, o tratamento é feito com medicamentos que controlam os sintomas. Os outros 15% dos pacientes não respondem aos medicamentos e têm indicação cirúrgica.
Existem dois tipos de intervenção cirúrgica: a lesional, que é mais comum e mata as células doentes, e a de estimulação por eletrodo, mais recente, em que o paciente recebe um eletrodo que inibe o tremor.
Desde o início do ano, o SUS paga cirurgias de implante de eletrodos. Segundo o Ministério da Saúde, foram pagos 16 operações (nove em São Paulo, três no Ceará, três do Distrito Federal e um no Paraná).
"A diferença básica entre as duas cirurgias é que na primeira [lesional], você provoca uma lesão irreversível do cérebro, e algumas células sadias podem morrer desnecessariamente. Já o procedimento de estimulação é reversível, o eletrodo fica ligado, mas pode ser retirado, caso o paciente não melhore. E as células sadias ficam preservadas", afirmou Cukiert.


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