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Técnica em teste usa sangue da mãe para determinar paternidade do feto

Exame que procura DNA fetal no plasma materno teve sucesso já no 1º trimestre de gestação

Coleta do líquido amniótico, método disponível hoje para testes genéticos do feto, traz risco de aborto

DÉBORA MISMETTI
EDITOR DE “CIÊNCIA+SAÚDE”

Fragmentos do material genético do feto que ficam circulando na corrente sanguínea da mãe são a chave para o próximo passo a ser dado pela medicina nos exames pré-natais.

Um grupo americano escreve em carta publicada nesta semana no "New England Journal of Medicine" que conseguiu determinar a paternidade do feto com base em um simples exame de sangue feito pela mãe. A técnica foi testada com sucesso em 30 mulheres, com tempo de gestação de oito a 14 semanas.

O material genético coletado das grávidas foi comparado ao do pai do bebê e a um de outros 29 homens escolhido às cegas.

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No Brasil, o geneticista Ciro Martinhago está desenvolvendo um teste semelhante, que deve ser lançado no mercado até o fim deste ano. O preço deve ficar entre R$ 800 e R$ 1.000.

A tarefa, no entanto, não é fácil. O primeiro obstáculo é encontrar o material genético do feto no sangue da mãe e o segundo é encontrar fragmentos em "bom estado".

Estudos anteriores mostraram que os fragmentos do DNA fetal correspondem a 3% a 6% do material genético contido no plasma, porção do sangue que não tem células. Quanto mais avançada a gestação, mas DNA fetal há no sangue da mãe.

Esse DNA de circulação livre (que não está dentro do núcleo de uma célula) tem degradação rápida. Três dias após a mulher dar à luz, não há mais material genético do feto em seu plasma.

Martinhago diz que uma das pesquisas que ele está orientando agora tem como objetivo melhorar a qualidade do material colhido para permitir testes mais precisos.

AS RECEITAS

São dois os métodos em avaliação para determinar a paternidade do feto.

Um deles procura os chamados SNPs, trocas de uma só letra do DNA (A, C, T ou G) em uma região do cromossomo. Essa alteração costuma ser herdada, por isso serve como indicador de parentesco.

O segundo método, que é o padrão hoje para esse tipo de teste feito após o nascimento, é o de STR, que procura repetições de sequências de dois a cinco nucleotídeos.

Colocando isso em letras: se a pessoa tem uma repetição da sequência GATA, ela se mostraria como GATAGATAGATA, por exemplo.

Em geral, essas partes repetidas não servem para codificar nenhuma proteína, mas são indicadores certeiros para o parentesco.

O problema no caso do exame na gestante é que é necessário ter DNA com qualidade suficiente para fazer essa análise, coisa que é mais difícil quando se trata de pedaços soltos de material genético no plasma e em franca degeneração.

Na pesquisa americana, foram comparados quatro sequências genéticas: da mãe, do feto e de dois pais em potencial. Escolheu-se uma região de SNP em que a mãe e os dois pais tinham o mesmo par de letras de DNA: a mãe era AA, um dos "pais" também e o outro era GG. Como o feto tinha uma letra G, o pai não poderia ser o AA, porque ele não tem o G nessa parte do material genético para dar ao filho.

Mesmo havendo mais de 99% de chance de o homem GG ser o pai, a certeza que o método SNP traz é para a exclusão de paternidade, segundo Martinhago, porque a resposta do teste é binária: sim ou não para cada "letrinha" avaliada.

Os SNPs, no entanto, são abundantes no material genético humano e hoje há chips que conseguem processar até 500 mil deles.

O método STR, usado hoje nos testes convencionais, compara sequências repetidas e já é padronizado mundialmente.

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