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Geriatras atacam remédios 'antivelhice' Especialistas reunidos em congresso de geriatria dizem que vitaminas, antioxidantes e hormônios não funcionam Grupo planeja sugerir novas regras a conselho de medicina; para os defensores da prática, críticas são infundadas CLÁUDIA COLLUCCIENVIADA ESPECIAL AO RIO Terapias que prometem combater os efeitos do envelhecimento, usando vitaminas, antioxidantes e hormônios, não têm comprovação científica de sua eficácia e podem aumentar os riscos de diabetes e câncer. O alerta foi feito ontem por especialistas brasileiros e estrangeiros na abertura do Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, no Rio. Eles querem elaborar um documento que subsidie o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na formulação de novas regras que coíbam a prática da chamada "medicina antiaging" no país. Oficialmente, ela não é reconhecida como especialidade médica, mas não há punição para quem a pratica. Um dos vilões dessa terapia é o hormônio do crescimento (GH), que tem indicações muito restritas (pessoas com nanismo, pacientes renais crônicos e portadores de HIV, por exemplo), mas que hoje é prescrito com o objetivo de ganho de músculos e queima de gordura. Segundo a geriatra Elisa Franco, da Câmara Técnica de Geriatria do CFM, 60% das indicações desses hormônios são "off label", ou seja, por conta e risco do médico que os indicam, sem amparo científico de que sejam eficazes. ÓRGÃOS CRESCIDOS Estudos mostram que essas drogas dobram o risco de tumores de fígado e aumentam em quatro vezes as chances de a pessoa ter diabetes. Também há relatos de acromegalia (crescimento de órgãos, inclusive o coração). Para o geriatra Thomas Perls, professor da Escola de Medicina da Universidade de Boston (EUA), médicos que estão propondo essa terapia com o propósito de retardar o envelhecimento são "antiéticos e antiprofissionais". "Nos EUA, não conseguimos muita coisa ao tentar coibir essa prática. Espero que vocês tenham mais sorte", disse Perls à Folha. Outra crítica foi em relação à venda dos chamados hormônios bioidênticos, que também retardariam a velocidade do envelhecimento. "Não há nenhum estudo científico sério que ateste algum benefício desses hormônios", afirma a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Silvia Pereira. "Não entendo por que o alarde. Os bioidênticos são produzidos e registrados no mundo todo", diz Edson Luiz Peracchi, presidente da Academia Brasileira de Medicina Antienvelhecimento. Outros hormônios (como a testosterona e o tireoidiano) e vitaminas (E, C e betacaroteno) têm sido indicados com o mesmo objetivo, mas, segundo os especialistas, também não têm o apoio das evidências científicas. SOBRECARGA Um dos riscos da ingestão desnecessária de vitaminas é a sobrecarga dos rins. Pesquisas recentes também associaram a vitamina E a um risco maior de câncer de próstata. "Em geral, quem tem acesso a essa tal de medicina 'antiaging' é a elite. São pessoas que têm acesso ao conhecimento, mas preferem se iludir", diz Silvia Pereira. Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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