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'Armadilhas de partículas' levam o Nobel em física

Americano e francês descobriram como capturar partículas sem destruí-las

Descobertas levaram a relógios de extrema precisão e inspiram o desenvolvimento de supercomputadores

Christophe Lebedinsky/CNRS
Serge Haroche (à dir.), um dos ganhadores do Nobel, examina uma armadilha de fótons (partículas de luz) em Paris
Serge Haroche (à dir.), um dos ganhadores do Nobel, examina uma armadilha de fótons (partículas de luz) em Paris

RAFAEL GARCIA
EM WASHINGTON

O cientista francês Serge Haroche e o americano David Wineland são os ganhadores do Prêmio Nobel em Física de 2012 por terem conseguido observar o comportamento de partículas isoladas, em experimentos nos anos 1990.

Seus trabalhos ganharam aplicações na construção dos relógios atômicos mais precisos do mundo.

Eles também lançaram as bases técnicas da computação quântica -tecnologia ainda experimental que busca processar informação a velocidades muito superiores à dos computadores atuais. As informações codificadas pelos computadores quânticos seriam à prova de hackers.

Wineland, 68, do Nist (Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA), conseguiu aprisionar íons individuais (átomos com carga elétrica) pela primeira vez em armadilhas eletromagnéticas sem destruí-las.

Serge Haroche, 68, do College de France, foi pioneiro no estudo de fótons (partículas de luz), que ele analisava dentro de armadilhas de espelhos. Os dois tiveram papel-chave no campo hoje conhecido como óptica quântica ("quântica" por se referir ao mundo dos átomos e partículas fundamentais).

Wineland foi acordado ontem às 3h30 em Denver (EUA) para atender ao telefonema do Nobel. Disse que não esperava a notícia agora.

"Várias pessoas trabalham em computadores avançados e em relógios atômicos já há muito tempo", disse.

"É um pouco embaraçoso se concentrar em apenas dois indivíduos." A demonstração de modéstia, porém, não escondeu a felicidade: "Sinto-me como se tivesse ficado mais inteligente de repente!".

Em entrevista coletiva, ele reservou palavras de otimismo para a computação quântica, área que tem esbarrado em desafios para superar sua etapa mais rudimentar.

"Hoje, eu não recomendaria a ninguém comprar ações de empresas de computação quântica. Mas, à medida que a tecnologia se aprimorar, o computador quântico vai realmente exibir uma capacidade única", disse. "Talvez lá pela próxima década consigamos passar a usá-lo para resolver problemas que não podem ser resolvidos num computador clássico."

Haroche recebeu a notícia do prêmio durante uma caminhada matinal com sua mulher. Sentou-se num banco de praça para atender à ligação depois de notar que o código de área era 46 -da Suécia, o país do Nobel.

CHAMPANHE

Questionado sobre como iria comemorar, disse apenas: "Vou beber champanhe, é claro". O cientista francês afirmou que espera aproveitar a notoriedade do prêmio para "comunicar ideias, não apenas no nosso campo, mas na pesquisa básica em geral".

Para os físicos que trabalham com questões fundamentais da ciência, a importância dos trabalhos de Haroche e Wineland vai além do potencial de aplicação que eles exibem.

A física quântica previa fenômenos bizarros na escala microscópica, e alguns deles só puderam ser investigados diretamente após os trabalhos da dupla.

Uma das propriedades estranhas é o emaranhamento quântico, uma ligação-fantasma entre as propriedades de duas partículas distantes.

Paulo Nussenzveig, físico que trabalha com óptica quântica na USP, resumiu a importância dos dois: "O trabalho deles permitiu que colocássemos os pés na fronteira difusa entre o mundo quântico e o clássico."

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