São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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TÊTE-À-TÊTE

Mestre dos pops

por TETÉ RIBEIRO, EM SÃO PAULO

DANNY PARADISE É O RESPONSÁVEL POR TRANSFORMAR STING E MADONNA EM FÃS DE CACHORROS OLHANDO PARA BAIXO -NOME DE UMA DAS POSES BÁSICAS DA IOGA

Antes de tudo, um esclarecimento: vamos tratar a coisa como a ioga, no feminino, com i, como se escreve em português; e não o yoga, no masculino, com y, como talvez seja em sânscrito, vai saber. Mas como muita gente "do meio" prefere.

"Danny Paradise está no Brasil, você quer entrevistá-lo?", pergunta a editora. Um Google rápido e descubro que ele é um iogue músico que viaja o mundo fazendo workshops, um dos primeiros a trazer um estilo de ioga chamado ashtanga, a tal da power ioga, ao mundo ocidental (leia-se EUA nos anos 70). "Foi ele que apresentou a ioga à Madonna e ao Sting", segue o e-mail. Eu quero, eu quero, eu quero, respondo, metade porque queria testar meu corpinho em uma aula que talvez a Madonna já tenha feito, metade porque queria olhar na cara do cara que foi capaz de dar ordens a ela um dia.

A sala do estúdio na Vila Nova Conceição está lotada. Tem gente de todo tipo, não pense que é um bando de madonnas e stings (tem até uma grávida de sete meses e meio do meu lado). Mas todos têm o tríceps durinho -tríceps é aquele músculo da parte de trás do braço que balança desgraçadamente quando você encontra um conhecido na praia e resolve fazer um tchauzinho de longe, sabe?

Danny Paradise entra de calça branca larga, camiseta com as mangas cortadas, uma faixa na testa estilo Karatê Kid e o cabelo solto, desarrumado. A aula começa com uma conversa. Em inglês, o canadense de 56 anos diz que a ioga é quase tão antiga quanto a humanidade, que tem 5.000 anos. "Sempre que uma coisa é muito antiga e ninguém sabe direito a origem, dizem que tem 5.000 anos", completa. Então conta como ioga retarda o envelhecimento, como acalma a mente, como libera o corpo de várias toxinas. O discurso é mais ou menos o mesmo de sempre, mas Danny tem um pouco mais de humor e um pouco menos de vaidade.

Então relaciona ioga com xamanismo, fala de reencarnação e de como no fundo, no fundo, ioga prepara as pessoas para a morte. Alguém pergunta se está perdendo tempo se fizer ioga apenas como exercício físico e se não estiver em busca de um rumo para a vida, muito menos para a morte. Danny diz que não, e qualquer que seja o motivo que te traga a uma aula, você sai dela um pouco melhor. Não precisa acreditar em nada, nem em Deus, nem na Madonna (nem que foi a ioga a responsável por fazê-la chegar aos 50 tão lindona).

CONTORCENDO STING

Dois dias depois, nos encontramos de novo para a entrevista. Nada dói no meu corpo, apesar da aula, programada para ter uma hora e meia, ter durado quase três. Danny está com a mesma calça, a mesma faixa na testa, outra camiseta com as mangas cortadas. Conta que, em 1975, aos 23 anos, saiu de Toronto, onde morava com a família, e foi visitar um irmão que morava na ilha de Mauí, no Havaí. Lá, viu uma demostração de ashtanga dada pelo casal David Williams e Nancy Gilgoff, esses os primeiros mesmo a trazer a ashtanga ao Ocidente. Fez um curso de um mês com os dois e nunca mais perdeu a ioga de vista. Sua carreira de músico não foi completamente abandonada, mas ficou em segundo lugar.

Aí, em 1983, por meio de um guitarrista com quem já tinha tocado, conheceu Sting. Danny fez uma demonstração ao músico inglês e sua mulher, Trudie Styler. O casal gostou do que viu e o contratou para dar aulas particulares no apartamento deles, em Nova York. E gostaram ainda mais de como de repente conseguiam se contorcer de formas jamais imaginadas. Então Sting começou a dar entrevistas e divulgar seu corpo em forma, a ioga e seu novo professor.

Um dia, depois de uma aula, o ex-Police abriu uma porta e lá de dentro saiu Madonna, que queria conhecer a prática sem ser vista antes de ser apresentada ao professor. Danny acabou não dando aulas à über diva, estava com uma viagem marcada (e não desmarcou por causa dela, isso sim é que é um ser superior) e indicou uma professora em Los Angeles, outra em Londres. O resto é história, ou melhor, é "Ray of Light", o álbum de 1998 em que ela misturou tecno e sânscrito.

Danny, que dava aulas há 11 anos quando conheceu Sting e já era reconhecido entre os iogues, começou a ser cada vez mais convidado para workshops em lugares exóticos e nunca mais parou. Pergunto se ele não tem o sonho de ter seu próprio estúdio um dia, e ele responde, aparentemente sem ironia, que sim, "em 30 ou 40 anos".


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