São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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SÉRGIO DÁVILA

Pobres meninos ricos

de Washington

Ser rico saiu de moda. Depois de o presidente Barack Obama dizer que era "uma vergonha" os executivos que receberam ajuda do governo se darem bônus escandalosos -estamos falando de US$ 18 bilhões em 2008, ano zero da crise financeira- e decidir limitar o ganho anual ?dessa tigrada a US$ 500 mil, Wall Street entrou na encolha e, com ela, a elite nova-iorquina e americana.

Alguns batizaram a nova onda de "efeito A.I.G.", referência à seguradora que gastou US$ 400 mil com seus diretores num spa enquanto recebia US$ 85 bilhões de ajuda federal. Outros chamam seus seguidores de "Citiboobs", contração de "boobs", bobos, com o nome do banco que pretendia comprar um jato de US$ 50 milhões mesmo depois de receber US$ 45 bilhões de erva

A ordem não é gastar menos, mas não ostentar tanto. Nas viagens, os Four Seasons (diária de US$ 500) da vida, que saltam aos olhos na hora de apresentar a prestação de contas aos acionistas, dão lugar a hotéis menos conhecidos como o Casa del Mar (diária de US$ 450). Nas mesas, a garrafa de Cheval Blanc, o rei dos vinhos, que já apareceu até na animação "Ratatouille", é trocada por qualquer californiano de US$ 250 ainda pouco badalado.

Deve-se evitar exposição, como a conseguida involuntariamente por John Thain, último CEO da Merrill Lynch, que cuidou de redecorar seu escritório assim que seu banco de investimentos foi salvo da falência ao se juntar com o Bank of America. Gastou US$ 1,2 milhão em itens como um tapete de US$ 131 mil e um cesto de lixo de US$ 1,4 mil -só esse mimo vale quase setenta salários mínimos brasileiros. Nos EUA, em média, o salário do executivo é 866 vezes maior que o salário mais baixo da empresa que ele comanda, ante 200 vezes na Europa -não falemos de Brasil, por favor. Enquanto todos estavam ganhando dinheiro, tudo parecia bem. Na seca, no entanto, os gatos gordos começam a ser olhados com desconfiança por uma sociedade que nunca foi exatamente conhecida por estimular a luta de classes.

Mas há resistência. Executivos anônimos na fila do dinheirinho obamista estão dizendo que eles se re-cu-sam a viver em Manhattan com meros US$ 500 mil por ano -o que dá cerca de R$ 90 mil por mês. Com dois filhos e uma empresa financeira para liderar, o coitado do pai de família precisa de pelo menos três vezes isso para viver com um mínimo de dignidade, argumenta. Só de babá gastam-se US$ 45 mil por ano; de motorista, US$ 80 mil, valor que sobe para US$ 120 mil, se ele portar arma. E, do jeito que a coisa anda...


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