São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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ENSAIO

Fina flor

por ANA RIBEIRO

Linha de frente na concepção das festas mais elegantes de São Paulo, seis floristas se misturam com sua matéria-prima e causam sensação nos retratos repletos de dramaticidade assinados pelo fotógrafo Felipe Hellmeister.

DANIELA TOLEDO

Arquiteta de formação, Daniela Toledo, 37, trouxe da faculdade as noções de proporção, equilíbrio e harmonia. Só que seus projetos desenham outro tipo de obra: arranjos de flores. "E eventualmente uso o que aprendi para comandar as reformas da Fulô", diz ela, referindo-se à floricultura que abriu em 1994. Seu negócio não é uma loja. Ela trabalha exclusivamente com encomendas feitas pelo telefone. E faz também manutenção semanal de flores nas casas, escritórios ou estabelecimentos de seus clientes. "Continuo adorando o estilo clássico, inglês, de misturar muitos tipos de flor. Flor plantada também é uma tendência bem atual, coerente com o discurso ecológico de não jogar as coisas fora."

Clientes: prefere não revelar. "A florista trabalha com situações muito íntimas."

VIC MEIRELLES

Estudante de arquitetura na Faculdade de Belas Artes, Vic, 43, fazia estágio no escritório do arquiteto Rubens Mário de Oliveira. Era seu papel arrumar as casas que seriam entregues aos proprietários, suas arrumações começaram a ser notadas. "As pessoas me pediam para escolher as flores para festas e jantares", lembra. Então veio o trabalho na floricultura paulistana, a temporada como jardineiro na Inglaterra e a criação de sua própria empresa. "Gosto de festa grandona, de usar 7.000 rosas, cem caixas de orquídeas, muita vela, fruta, vidro. Trabalho oito dias sem parar, 12 horas por dia, com 15 homens me ajudando", diz. "Vai chegar o dia em que só vou querer fazer velório e batizado, que dão menos dor de cabeça. São clientes que não reclamam", brinca.

Clientes: de Ronaldo Fenômeno (casamento com Daniella Cicarelli no castelo da Itália) ao príncipe Rainier.

APARECIDA HELENA LEME E LUCIA MILAN

Caso existisse, a denominação "buquezeira" seria a definição perfeita para dona Aparecida. Pois ela é a maior fazedora de buquês de noiva de São Paulo. Cresceu rodeada pelo "jardim deslumbrante" de sua mãe na casa de Franca, no interior do Estado. O avô era jardineiro. O pai, serralheiro, jogava a serragem da madeira no jardim. "É um ótimo adubo", garante. Dona Aparecida, 66, trabalha profissionalmente com flores há 25 anos. Há dez é sócia de sua filha caçula, Lúcia, 39. "Eu faço as compras e os buquês, Lúcia cuida do dinheiro e faz os arranjos." Ela conta que 80% das noivas chegam a ela indicadas por estilistas como Júnior, Paulo Dolce, Wanda Borges. No passado, foi a favorita de Clodovil Hernandes.

Clientes: Sig Bergamin, Dora Rosset, Donata Meirelles.

LAIS AGUIAR

Terceira geração da família que iniciou com o avô a dinastia de floristas da Rubens Decorações, há 52 anos em atividade, Lais Aguiar, 23, conta como eram didáticos os passeios a cavalo com "seu" Rubens pela fazenda em Itapecerica da Serra (SP). "Aprendi a distinguir as flores, a época das floradas, conheci seus nomes técnicos e seus apelidos." A fazenda Aguiar é ainda a principal fornecedora de flores da empresa, que produz 40% do que usa em seus projetos de festas. Mudaram os projetos, que hoje vão muito além das flores: cuidam de toda a ambientação, do mobiliário, da iluminação, de eventuais elevações do terreno. "A faculdade de arquitetura veio a calhar", diz Lais.

Clientes: famílias Safra, Baumgart e Zurita. Decoraram o Campo de Marte na missa celebrada pelo papa Bento 16 em maio de 2007.

CLARICE MUKAI E JOEL MATSUOKA

Clarice, 55, é irmã da mãe de Joel, 37, que já vendia flores quando o menino nasceu. "Era um bebê e meus pais me levavam para a feira. Eu dormia sob a banca", conta. Tia e sobrinho se afastaram por uma década, quando os pais de Joel se mudaram para Fukushima, no Japão, e abriram uma agência de empregos para estrangeiros. Com a morte do patriarca, a família voltou para o Brasil. Joel e Clarice formaram a dupla que faz festas grandes (oito a dez por mês) e jantares (três a quatro por semana). "Gosto do menos usado, do inesperado, da surpresa. De pegar um matinho roxo para o qual ninguém dá bola e criar um superefeito. Quanto mais simples, mais bacana", diz Joel.

Clientes: famílias Setúbal e Fasano e shopping Iguatemi.

HELENA LUNARDELLI

Do curso de arquitetura vieram as primeiras noções de paisagismo. Da infância passada na fazenda, o reparo na natureza. A descoberta das flores como instrumento de trabalho aconteceu em 2001, com o convite da amiga Daniela Toledo para que se tornasse sua sócia na floricultura Fulô. No ano seguinte, Helena Lunardelli, 35, tomou rumo próprio e hoje é dona do ateliê que leva seu nome. "Meu estilo já foi definido como burlemarxiano. Gosto de misturar flores tropicais com folhagens diferentes em arranjos estranhos e exóticos." Gosta também de ver suas flores aproximarem as pessoas. "Tenho clientes para quem fiz o primeiro arranjo, enviado com a declaração de amor, aquele que acompanhou um pedido de desculpas e mais para frente fiz a festa de casamento. A florista também é uma espécie de terapeuta."

Clientes: Marcelo Rosembaum, Bob Wolfenson, Adriana Barra, Isabela Capeto, Nara Roesler.

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