São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011

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TERETETE

O discurso do Rush

por TETÉ RIBEIRO

O australiano Geoffrey Rush se prepara para a volta de seu personagem mais conhecido, o capitão Barbossa, de "Piratas do Caribe". E fala por telefone de Melbourne, na Austrália, sobre teatro, cinema, e dá sua técnica para não enlouquecer

O nome do seu personagem em "Piratas do Caribe", Barbossa, soa português, mas tem um s a mais. Ele pode ser descendente de portugueses? Não sabia disso, esse é um nome banal no Brasil? Sempre achei que soava como "barba rossa", barba ruiva em italiano, e que tinha a palavra "boss", chefe em inglês, embutida, era o chefe barbudo dos piratas. Atores são criativos, você sabe, e vaidosos, e esse é uma longa maneira de responder "não sei" (risos).

Os portugueses eram grandes navegadores, mas não piratas. Meu preferido é o Vasco da Gama. Essa história é muito ensinada aqui porque à procura da Índia eles frequentemente davam de cara com a Austrália.

Uma hora também chegaram ao Brasil, nessa época. Eu ainda não tive essa sorte. Aos poucos, com diferentes trabalhos, estou indo cada vez mais para o sul do continente americano. Já cheguei ao Panamá com o longa "O Alfaiate do Panamá", de que gosto muito. Quem sabe não me mandam para aí na première mundial de "Piratas do Caribe"? É uma superprodução, tudo é possível.

Johnny Depp contou que se inspirou em Keith Richards para o pirata dele. Você se inspirou em alguém? Sabe que não acredito nisso? No primeiro filme ele me disse que ia se basear na idéia de que os piratas estavam bêbados o tempo todo. Eu não me inspirei em ninguém. A gente tinha um grande espadachim na equipe, Bob Andersen. Ele foi o treinador do Errol Flynn e coreografou uma das cenas de luta de espada mais famosas do cinema, a da comédia "A Princesa Prometida". Ele me perguntou, no primeiro filme: "quantos anos você tem?". Eu tinha 52. Ele me disse: "um pirata que chegava aos 50 anos naquela época e ainda metia medo só podia ser muito cruel e violento".

Imaginou que um blockbuster em série teria lugar na sua carreira? Não. Ninguém tinha essa ideia no primeiro longa, filme de pirata era gênero morto em 2003. Recebi o roteiro junto com uma carta do (diretor) Gore Verbinski pedindo que eu lesse com carinho. Li e adorei. Ajudou o fato de eu ter assistido a "A Máscara de Zorro", dos mesmos roteiristas, pouco tempo antes e ter adorado. Já andava com vontade de carregar uma espada por aí.

E no meio de mais um "Piratas" e toda a turnê de prêmios que seu último longa, "O Discurso do Rei", percorreu, você estava em cartaz na Broadway nos dois anos anteriores. Ainda considera o teatro sua casa? Os primeiros 25 anos da minha carreira foram quase exclusivamente dedicados ao teatro. Quando comecei a fazer filmes, parei de fazer peças. Cinema é mais tentador, mais fácil, tem mais dinheiro. Voltei ao teatro nos últimos dois anos e meu agente em Los Angeles entendeu minha necessidade. Ele disse: "você quer afiar suas facas". É isso, exatamente isso.

E o seu Oscar, onde fica? Na minha casa aqui em Melbourne. Botei em uma estante no meu escritório e decorei com lembrancinhas de peças de teatro que fiz desde que fui premiado por "Shine", em 1997. Só para manter um equilíbrio mental (risos). Deixá-lo sem adornos, brilhando imponente no meio dos livros, poderia me fazer pensar que ele estava muito solitário e ir em busca de outro, e isso pode enlouquecer um ator. Basta um, já foi surreal o suficiente.


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