São Paulo, Domingo, 24 de junho de 2012

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FINA

BLACK POWER

por Ana Paula Boni, da África do Sul

A sul-africana Precious Moloi-Motsepe, dona das três fashion weeks de seu país, usa a moda para melhorar a educação das mulheres

É só ela chegar e dá para perceber que roupas e balangandãs são suas paixões. Precious usa vestido de um dos estilistas mais queridinhos do país, David Tlale, sapatos Louboutin e um belo anel de brilhantes.

Até o nome combina. No país, é comum batizar os bebês com palavras que significam sentimentos, como Gift (presente), Surprise, Felicity, Precious. Ela tem outro nome em língua africana, Makgosi, que significa rainha. Rainha preciosa.

Mas o enredo se desalinha quando ela diz o que pensa. “A Fashion Week é um evento frívolo, e eu a uso para lidar com assuntos que não têm a ver com moda.” Então fala de sua outra paixão, a vontade de melhorar a vida das mulheres de seu país. “Se você educa uma mulher, educa a família inteira.”

O discurso faz sentido com sua trajetória. Médica ginecologista, Precious tinha uma clínica em Johannesburgo, a maior cidade da África do Sul. Mas, quando se casou com o empresário Patrice Motsepe, 50, dono de mineradora e o primeiro bilionário negro do país, ela largou a medicina para se dedicar à Motsepe Family Foundation, voltada à filantropia.

Foi por meio dela que chegou à moda, quando a entidade comprou a African Fashion International, empresa responsável pelos desfiles. Em Johannesburgo, são duas Fashion Week por ano, em março e outubro. Na Cidade do Cabo, a semana ocorre entre julho e agosto.

Uma das iniciativas da fundação é o Clothing Bank (“banco de roupas”, em tradução livre), em que peças usadas são consertadas por um time de costureiras e depois doadas.

Uma questão de cor

Assim como seu marido, Precious cresceu no Soweto –distrito nos arredores de Johannesburgo, criado na década de 1960 para abrigar os negros, que não podiam morar nos mesmos bairros dos brancos.

No início da década de 1980, quando a política do apartheid ainda dividia a África do Sul pela cor da pele, ela precisou de uma autorização do governo para estudar medicina. Sua vida mudou e, em seguida, seu país também passou por uma transformação, com a eleição de Nelson Mandela, em 1994, que pôs fim à segregação racial. O preconceito ainda existe, mas Precious não deixa virar tabu.

Nos desfiles, por exemplo, não há cotas raciais para modelos. “Queremos os melhores estilistas, as melhores modelos. O resto é consequência do nosso trabalho de dar oportunidades.” Só assim ela gosta de falar de moda.


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