São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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MODA

Teatro Villaventura

por ALCINO LEITE NETO

Sempre atento ao impacto dramático da moda, o estilista paraense apresentou uma coleção inteira de looks pretos durante a SPFW

Toda vez que a São Paulo Fashion Week abre as cortinas, uma das apresentações mais aguardadas é a do estilista Lino Villaventura. Seu desfile é garantia certa de ?um espetáculo surpreendente e provocativo.

"Quando faço um desfile, espero causar surpresa, emoção forte e também provocar uma discussão. A melhor coisa do meu trabalho é isso", afirma Villaventura.

Para tanto, o impacto de cada peça de roupa, de cada entrada em cena das modelos, é calculado meticulosamente pelo estilista. Como na temporada do verão 2006/7, quando Juliana Imai de repente entrou com belo vestido de tafetá de seda que, aberto, num verdadeiro "coup de thêatre", revelou uma elaboradíssima construção com penas de pavão e transformou a modelo num raro pássaro fashion. O público aplaudiu.

"Sou perfeccionista, virginiano com ascendência em virgem", diz. Ele nasceu em 1951, em Belém (PA). Filho de um comerciante bem-sucedido, foi registrado com o nome de Antonio Marques dos Santos Neto. O apelido Lino só surgiu nos anos 70, quando o estilista vivia em Fortaleza. Como seu ateliê ficava na vila Ventura, um colunista local não tardou a rebatizá-lo como Lino Villaventura. Em 1982, ele registrou o novo nome.

Hoje, Lino transita entre São Paulo, onde tem sua maior loja e faz os principais negócios, e Fortaleza, onde mantém uma pequena fábrica e uma tinturaria, com cerca de 60 funcionários, e também uma loja. Da administração da empresa, faz parte a sua ex-mulher, Inez Villaventura.

"Eu tive a sorte de ter vivido na região amazônica, no Nordeste e, agora, morar em São Paulo. Penso que isso me dá um sentido mais completo do Brasil", afirma o estilista. O apego às fontes culturais do país é outro traço característico do design de Lino: as cores extraordinárias, a pesquisa artesanal, as formas imprevisíveis e, sobretudo, a liberdade de criação que lhe permite reunir num mesmo look o que há de mais brasileiro com referências estrangeiras -particularmente da alta-costura europeia e dos "desconstrucionistas" japoneses.

Ele prefere, porém, não ser confundido com um estilista "tropical". "É preciso ter uma identidade brasileira, mas sem ser regionalista ou exótico. Ela vem como um processo, quando você parte em busca de seu estilo, de sua autenticidade."

O que se vê na passarela de Villaventura, que completou 30 anos de moda no último ano, é apenas a parte mais vistosa de uma produção maior, que inclui jeans, camisetas, peças mais casuais e roupa mas-culina. Sem falar nas peças sob medida, que correspondem a 30% do faturamento da empresa -incluindo os famosos vestidos de noiva. As exportações também têm crescido paulatinamente, sobretudo para Dubai, essa cidade-shopping da moda internacional.

Na semana passada, na São Paulo Fashion Week, o estilista apresentou sua coleção para o outono-inverno 2009 inteiramente na cor preta -uma série de 40 monocromáticos, 28 femininos e 12 masculinos. Sem as cores, o que sobressaiu nas roupas foi a construção criativa e o acabamento rigoroso. Quando encerraram o desfile, porém, os modelos revelaram que algumas roupas tinham dupla face: por trás do negro austero, os "looks" escondiam estampas coloridas estonteantes.

No teatro de Villaventura é sempre assim: o prazer escreve o "grand finale". (Colaborou Vivian Whiteman)

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