São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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ANAGRAMA

Minha vida sempre foi ocidentalizada

Por ANA RIBEIRO

Para vestir, o preto. Para seu trabalho, as cores. Tomie Ohtake, 95, naturalizada brasileira em 1968, guarda essas dicotomias. Econômica no verbo, produz efusivamente. São pinturas, gravuras, esculturas e obras públicas que habitam as principais vias de São Paulo, como as esculturas de aço da avenida Paulista e as ondas de concreto da 23 de Maio. A discrição da artista contrasta com os projetos de seus filhos, o arquiteto Ruy e o produtor cultural Ricardo, que conceberam juntos o Instituto Tomie Ohtake, inaugurado em 2000.

Para vestir, o preto. Para seu trabalho, as cores. Tomie Ohtake, 95, naturalizada brasileira em 1968, guarda essas dicotomias. Econômica no verbo, produz efusivamente. São pinturas, gravuras, esculturas e obras públicas que habitam as principais vias de São Paulo, como as esculturas de aço da avenida Paulista e as ondas de concreto da 23 de Maio. A discrição da artista contrasta com os projetos de seus filhos, o arquiteto Ruy e o produtor cultural Ricardo, que conceberam juntos o Instituto Tomie Ohtake, inaugurado em 2000.

Quando cheguei ao Brasil, em 1936, São Paulo era uma cidade calma. Os edifícios já eram muitos, mas baixos; havia poucos automóveis. O calor era muito forte e eu sentia a atmosfera amarela, acho que pelo sol intenso. Na primeira refeição, comi bife a cavalo, de que gostei muito, e arroz temperado com tomate. O arroz japonês não leva nenhum tempero, só água. O brasileiro era levemente avermelhado.

A população precisa conviver com a arte. Mas não basta colocar um volume ou um painel: é preciso arrumar o espaço para que as obras de arte públicas dialoguem com as pessoas.

A preocupação com as cores combinando entre si é só um preconceito. Como diz Josef Albers, qualquer cor "funciona" com outra, a harmonização é apenas uma possibilidade de ?reuni-las. O efeito depende de quantidade, posicionamento, forma, recorrência, plano, luz.

Existem pinturas muito interessantes e muitas interferências indevidas nos muros da cidade. Pela pobreza existente, é difícil fazer exigências, mas deve haver respeito em uma ação para desenhar algo nas paredes.

É claro que as pessoas não gostam de ver uma exposição vazia, mas a Bienal de São Paulo tem força grande e se recuperará se for bem dirigida.

Eu gosto mesmo é de ficar na minha casa, onde posso ter tudo: trabalho, lazer, repouso, ?alimentação. Hoje em dia saio menos, tenho ido menos a concertos, teatros. Vou ao Instituto, a alguns espetáculos de dança, vejo exposições, frequento restaurantes e casas de amigos.

A minha vida sempre foi ocidentalizada. Tem alguns alimentos japoneses de que gosto, mas minha comida é sempre ocidental. Gosto de muitos pratos: eu gosto de comer.

Yoko Ono e eu ficamos muito amigas, conversamos sobre arte e sobre a vida já na primeira vez que ela veio a São Paulo. Da segunda vez, até tivemos uma ideia para fazer um trabalho juntas.

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