São Paulo, domingo, 25 de junho de 2010

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DESENHO

Ordem e progresso

por GABRIELA LONGMAN

Com escritórios em Copenhague, Oslo e Bruxelas, o arquiteto belga Julien de Smedt mira a prancheta no Brasil de olho nas obras da Copa e da Olimpíada

NSentado no terraço do hotel Unique, em São Paulo, o arquiteto e designer belga Julien de Smedt pede frutas, um café duplo e um maço de cigarros. Ele tem vindo quase todo mês a São Paulo e ainda se entusiasma com o skyline cinzento e a temperatura que bate nos 20 graus em pleno inverno. Aos 34 anos, Smedt é um dos jovens arquitetos de maior prestígio no cenário internacional. Seu escritório, criado em 2005, tem hoje 50 funcionários e já fez projetos para mais de 40 países. Entre os prêmios acumulados, está um Leão de Ouro na Bienal de Veneza (pela melhor sala de concertos, com o Stavanger Concert Hall) e um prêmio para melhor edifício residencial no World Architecture Festival Award. Com o escritório bem estabelecido no mercado europeu (sobretudo escandinavo), o arquiteto quer agora trabalhar com o Brasil. Diz que adotou o país, mas quer saber agora se o país vai adotá-lo. Atualmente, participa da reforma de um hotel em Santa Tereza, no Rio. Aproveitando a maré de investimentos no país, tem buscado emplacar projetos ligados à Copa de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016.
"Com a Copa e a Olimpíada, todos os olhos estarão voltados para cá. Eu resolvi investir no Brasil de maneira mais calma e constante, e não chegar aqui na última hora, sem conhecer o país", diz.
Seu escritório é, neste momento, um dos 18 concorrentes do megaconcurso de revitalização da Marina da Glória, no Rio, hoje propriedade da EBX, de Eike Batista. O plano para o local deve contemplar um centro de convenções e uma área para restaurantes. Próximo ao hotel Glória e ao aeroporto, o novo complexo está sendo pensado, entre outros, para atender ao mercado paulistano.
"O lugar é tão bonito, tão impregnado de história e tão estratégico do ponto de vista logístico que é o tipo de projeto que precisa ser feito com cuidado. Eike Bastista foi muito transparente e objetivo ao afirmar querer um empreendimento lucrativo."
Ao mesmo tempo em que deve ser aprovado pelo empresário e sua equipe, o projeto precisa ser submetido referendado pelo Iphan, já que a Marina é tombada pelo patrimônio histórico. O croqui ainda é confidencial, mas Smedt adianta que imagina um lugar aberto, que integre o centro de convenções ao Parque do Flamengo.
O vencedor deve ser anunciado nos próximos meses, mas a briga é de tubarões: os arquitetos Jean Nouvel, Norman Foster e Renzo Piano foram alguns dos convidados para criar projetos.


SÃO PAULO É LOUCA
Se conseguir espaço no mercado brasileiro, Smedt pretende estabelecer associações com arquitetos locais ou, quem sabe, montar uma agência de seu escritório no país (atualmente, a JDS Architects tem escritórios em Copenhague, Bruxelas e Oslo). Ele quer dar um jeito de continuar trabalhando no Rio e se aproximar de São Paulo.
"É o meu tipo de cidade, caótica, urbana, densa, louca. Por hora, penso que São Paulo é uma selva e que eu ainda não tenho meu lugar dentro dela. Eu adoraria encontrar um projeto que servisse como porta de entrada para a cidade e que me permitisse explorá-la melhor", diz.
Entusiasta da italiana Lina Bo Bardi (1914-1992), ele vê no trabalho da modernista uma arquitetura despretensiosa, simples e cheia de força.
"Eu não sou um fã inveterado de Niemeyer. Não vou dizer que é um mau arquiteto, mas acho que é um pouco menos engajado, mais sensual do que forte. Acho que é alguém dotado a produzir belas formas."
Entusiasmado com o país, Smedt confessa que seu receio é esbarrar na barreira da corrupção e na prática do "quem indica". "Isso ainda me assusta. Não é algo que eu possa avaliar nem controlar, mas também não é algo que eu deva ignorar", pondera.
Se tudo der errado, o arquiteto continuará vindo ao Brasil, nem que seja para passar férias. Ele comprou um terreno em Boipeba, no litoral sul da Bahia, e lá está construindo uma casinha.

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