São Paulo, domingo, 25 de julho de 2010

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NO RIO

sobe?

por Heloisa Seixas

elevadores de arquitetura histórica revelam detalhes de suas cidades de outro ângulo

Não sei se foi porque estava voltando de Portugal, mas, ao chegar ao Rio, pensei imediatamente em conferir o novo complexo Rubem Braga, em Ipanema, com seu elevador panorâmico que leva à favela do Pavãozinho, inaugurado em 30 de junho. Sempre me encantei com esses elevadores e planos inclinados públicos. Passei boa parte da infância na Bahia (na casa de meus avós maternos) e não me cansava de subir e descer pelo Elevador Lacerda. Tanto o de Salvador, quanto o Santa Justa (ou Carmo, como gostam de dizer em Lisboa) são marcas de suas cidades.
O dia estava lindo, céu azul e brisa fresca, puro outono no inverno carioca. Meses antes, eu visitara a região da praça General Osório, para ver as obras da nova saída do metrô e o belo painel de azulejos instalado ali, com violões estilizados, inspirados no designer Cesar Villela e com textos de Ruy Castro sobre Ipanema e a bossa nova (ideia do arquiteto Urbano Iglesias).
Na ocasião, achara tudo muito bonito, inclusive as pinturas das mãozinhas de crianças do Pavãozinho numa das paredes da entrada. Mas, nessa visita, ainda estava tudo empoeirado, em obras –até usamos capacetes para entrar lá. E do elevador panorâmico eu não chegara nem perto. Como a inauguração se dera quando eu estava viajando, era hora de conferir.
No caminho, fui pensando no Elevador Lacerda, em suas formas art déco (ele é de 1873, mas foi reformado em 1930), pensei na vista deslumbrante da baía de Todos-os-Santos, no Mercado Modelo lá embaixo, e nos mastros dos saveiros no cais. Pensei também na visão tão recente e encantadora do elevador do Carmo (inaugurado apenas em 1902), cujo corpo se assemelha à torre de uma catedral gótica. Lá de cima, tem-se uma bela vista da Baixa Pombalina, cujo paço, ao fim da rua Augusta e diante do Tejo, guarda alguma semelhança com a praça Quinze carioca.
Meus pensamentos voltaram ao Rio, abri os olhos e lá estava, ao fundo da rua Teixeira de Mello, onde até pouco tempo havia um lixão, o Braga. Não se parece com o parente baiano ou lisboeta, mas é imponente: todo branco e azul, com estruturas de metal de vidro, assemelha-se a um prédio de apartamentos. Assim que o elevador se desloca, a parede de vidro nos mostra primeiro o topo das amendoeiras; em seguida, os prédios de Ipanema; depois, o mar; e, por fim, as Ilhas Cagarras, no horizonte, num encadeado de surpresas.
No entanto, é do mirante da Paz, três lances de escada acima da parada do elevador, que se tem a vista mais bonita. De lá, vê-se não só Ipanema e Leblon mas também, por trás do Cantagalo, a Lagoa e a cadeia de montanhas do Sumaré. É espetacular. Ao olhar em torno, naquele dia lindo, não tive dúvidas de que o Rubem Braga vai ser um novo "point" carioca. Ainda mais por causa da sensação de estarmos conquistando um território antes perdido para a violência e para o medo.
Pensando nisso, observei a cobertura onde um dia Rubem Braga viu nascer um pé de milho. Acho que ele ia gostar.

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