São Paulo, domingo, 25 de Setembro de 2011

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Estrela Ruiz Leminski

por Chico Felitti

Estrela RUIZ Leminski faz poesia com A HERANÇA GENÉTICA que recebeu e procura Inéditos DE PAULO LEMINSKI PARA musicar

"Como é que eu vou dizer desde quando eu escrevo poesia?", pergunta-se em voz alta Estrela Ruiz Leminski.
Ela não responde. Mas se lembra em seguida de que nasceu, há 30 anos, na mesma semana em que Caetano Veloso lançou o disco "Joia", em que cantava "Verdura". A letra para a música era do seu pai, Paulo Leminski, um dos maiores poetas do país, morto em 1989.
Estrela agora quer fazer igual a Caetano: anda à cata de tudo que o pai escreveu porque acha que suas letras, e mesmo o que nasceu como poesia, ficariam bem musicadas. "Quero gravar dois CDs com a obra do Paulo."
Não será sua primeira investida na palavra cantada.
Desde 2006 ela se apresenta com o marido, Téo Ruiz, no duo Música de Ruiz. O sobrenome idêntico dos dois foi a coincidência que nomeou a banda. Lançaram o CD "São Sons" neste ano e viajam fazendo shows.
Isso quando Estrela não está escrevendo."Tem gente que escreve numa sentada, com inspiração. Eu não." A relação "febril e quase fabril" que tem com arte ela diz que veio nos genes.
"É uma herança de pai e de mãe [a poeta Alice Ruiz]. Literatura é trabalho, não é diversão. Quando eu estou lendo muito, alguma coisa emerge."
Nos últimos anos, emergiu o material que ela colocou em "Poesiaénão", livro lançado neste mês em que tenta descobrir o que difere a poesia da palavra comum. "Ainda estou tentando definir o que é."
À procura, lê poetas atuais. "Queria ter a disciplina de ler clássico. Não tenho. Pena."

Avesso do verso
Estrela busca saber do que é feita a rima desde os dez anos. Foi quando escreveu sua primeira poesia com cara de poesia. Inspirada pela mãe, fez um haicai, poema de três linhas, como pede a métrica.
Mas ignorou a regra do haicai japonês (primeira e última linhas com cinco sílabas, e a do meio com sete).
Foi então levar o poema livre para o pai ler. No bar. Puxou Leminski e declamou:
A casa
A Lua, o Sol
Nem sempre só

O boteco todo atestou: era um poema. E bom. Passou a infância em temática ingênua.
Até que veio a adolescência. "Com os primeiros chutes que levei na bunda, os temas amorosos começaram a surgir, por força da vida."
O amor nunca mais partiu, por mais que o coração sim. A produção ganhou formação acadêmica e se expandiu.
"Eu escrevo em tudo, com medo de perder a poesia." O marido já quis jogar a lista telefônica de casa fora e não pôde. Tinha poemas de Estrela escritos nas páginas amarelas.
De novo ela puxou ao pai. Na busca por escritos de Leminski que tenham ficado na casa de amigos, achou garranchos em guardanapos, poesias em papel sulfite e até um ponto de umbanda que o poeta tentara gravar, escondido.
"Coitado, ele achava que cantava mal", ri ela. "Mas se seus amigos são o Caetano e o Moraes Moreira, você vai achar que canta mal." Ela passa por medo parecido com as letras.
Está com um romance "do meio para o fim" e um livro de contos encaminhado. "O que me falta é a cara de pau de sair da barra da saia da minha mãe e mostrar." E justifica: "Olha o tamanho da barra de saia que tenho para agarrar!".

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