São Paulo, Domingo, 26 de Fevereiro de 2012

Próximo Texto | Índice

MIMO

joia rara

por Chico Felitti

"Felinófilos" de todo o mundo migram para a capital da Turquia, onde um gato com um olho azul e outro verde custa R$ 8.500

Sara Loeschke estava de olho no olho do gato. A designer alemã queria porque queria um gato albino com uma íris de cada cor. "E começou uma busca que me custou um ano e meio e R$ 6.800."

A saga de Sara acaba de terminar. De quando em quando, ela para de falar porque uma bola de pelos brancos em seu colo pede sua atenção. É Yildiz, a gata com sete semanas de vida, cujo nome significa "estrela" em turco, e que está trocando de cor. Na íris.

Depois de ter nascido com os dois olhos azuis, o esquerdo começou a ganhar uma coloração pardacenta. Sinal de que logo vai virar verde. E também índice de que o preço de mercado do pet vai dar um pulo.

Para achar seu bicho de estimação, Sara voou de Hamburgo a Istambul, de onde pegou um ônibus de seis horas para Ancara, a capital da Turquia, o maior centro de criação de angorás, o gato oficial do país.

Oficial e burocratizado: em 1917, o governo do moribundo Império Otomano decidiu preservar o mascote nacional e proibiu criadores de misturar angorá com outras raças.

Em 1935, Mustafa Atatürk, o pai da república do país, doou uma fazenda para o Estado manter ali os bichanos em eugenia. E as estufas de gato continuam lá, quase cem anos depois. Mas a fazenda virou o zoológico de Ancara.

Os bichanos, às centenas, são criados soltos em cercados que parecem jaulas de leão. Têm liberdade de ir e vir entre as jaulas e comida o dia todo.

Mas, na hora da procriação, só podem engatar romance com outro felino da mesma família -as árvores genealógicas são registradas em livros.

Sara não achou Yildiz no zoológico Atatürk, onde cada filhote sai por 100 euros, já com autorização para a adoção internacional. Acontece que a criação oficial é limitada e a demanda por gatos de olho bicolor é maior do que a incidência, coisa de 2%.

PRECONCEITO DE COR

A alemã percorreu uma série de criadores "alternativos" que se especializaram em procriar gatos para que eles nasçam com um olho de cada cor. "Até tentei barganhar mais em cima dos US$ 5.000, que eram o preço original, mas a Yildiz foi a única que achei. Então, quando chegou a US$ 4.000, acabei pagando", diz Sara.

"Os heterocrômicos são como diamantes", compara o biólogo Emir Ataman. Enquanto isso, angorás são comuns como carvão. É possível encontrar, nas ruas de qualquer cidade turca, um gato de pelagem longa, rosto proeminente e orelha peluda -as três principais características da raça.

Só que um quarto pré-requisito é exigido dos bichos do país: ser 100% branco. Em 1989, a Associação Internacional de Gatos acabou com esse "apartheid" e decidiu que os parcialmente alvos também deveriam ser considerados angorás.

Mas os criadores "alternativos" preferem só os bichos alvos. Mesmo porque os olhos diferentes só acontecem em gatos albinos (como o Mingau, da Magali, amiga da Mônica dos quadrinhos).

Enquanto se prepara para levar Yildiz embora, Sara usa seu iPhone para compartilhar a boa nova num fórum de amantes de gatos com olhos desiguais. Cinco minutos depois, Susanna Tim, uma enfermeira americana de 35 anos, responde ao post dizendo que irá para Ancara em junho, atrás de um igual.

"Sabe que o cardeal Richelieu e a Maria Antonieta também tiveram gatos assim, né?" E termina em caixa alta: "A MARIA ANTONIETA. Eu preciso de um!"


Texto anterior: FINO: Nono melhor do mundo, chef francês gosta mesmo é de comida crua, por Ana Paula Boni.



Clique aqui Para deixar comentários e sugestões Para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É Proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou imPresso, sem autorização escrita da Folhapress.